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Câncer? Não perca a cabeça

Campanha de conscientização sobre os tumores de cabeça e pescoço chama a atenção para necessidade de melhorar o diagnóstico

Por Melissa Medeiros, sobrevivente de câncer de laringe*
16 jul 2023, 15h46
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  • Quando uma pessoa perde a calma, é comum ouvir: “Não perca a cabeça!”. Mas esse ditado ganha um novo significado para as pessoas diagnosticadas com os tumores de cabeça e pescoço, como é o meu caso.

    E é por isso que ele se tornou o slogan da 7ª Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço.

    A iniciativa é da Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço (ACBG), que eu presido. 

    O alerta serve para que as pessoas façam o diagnóstico precoce e, com isso, não sofram com mutilações na face e deficiências funcionais na fala, na deglutição, na respiração…

    Se somados, os tumores de cabeça e pescoço ocupam a quarta posição entre os mais incidentes no Brasil. Esse grupos inclui diferentes tipos – entre os mais comuns, estão os de cavidade oral (boca), laringe (garganta), tireoide e pele não melanoma no rosto e couro cabeludo.

    Eu sou uma sobrevivente do câncer de laringe. Receber o diagnóstico assusta.

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    Só que a medicina evoluiu – e, com a descoberta precoce, muitos cânceres são curados. Nosso trabalho de conscientização é para ampliar a prevenção e aumentar o número de diagnósticos precoces. 

    + Leia também: Novas fronteiras no cerco ao câncer

    O câncer já é considerado uma doença evitável em diversos casos, por estar relacionado ao consumo de produtos ultraprocessados, ao cigarro (inclusive os eletrônicos, o narguilé…), ao alcoolismo.

    Ou seja, quanto mais a pessoa fizer boas escolhas, mais distante do câncer ela fica.

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    A prevenção também envolve a melhoria de políticas públicas. Apesar das legislações e campanhas para reduzir o tabagismo, a indústria segue fazendo suas manobras.

    Uma é tentar trazer cigarros com sabores que mascaram o gosto amargo da nicotina, o que tem atraído mais jovens. Precisamos fiscalizar o comércio dos cigarros eletrônicos que estão na “moda” entre os jovens, que aumentam as estatísticas de novos casos. 

    A conscientização para diagnosticarmos cada vez mais precocemente precisa ser feita não apenas com a população em geral, mas também com os profissionais.

    Os dentistas, por exemplo, devem buscar lesões iniciais de boca, como manchas brancas ou vermelho-escuro, fissuras na língua ou bochecha. Infelizmente, nem todos os profissionais fazem essa varredura e falta capacitação, além da oferta de assistência no SUS.

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    Outro exemplo: os cânceres de laringe trazem rouquidão, tosse e dificuldade para engolir.

    + Leia também: O que você sabe sobre câncer de tireoide, boca e garganta?

    Mas, quando o paciente vai ao posto de saúde com essas queixas, recebe a prescrição para antibióticos para as muitas “ites”. É importante ao menos cogitar a presença de um tumor, e eventualmente de pedir exemplos adicionais, como a laringoscopia.

    Temos importantes conquistas, mas ainda há um longo caminho pela frente. A especialidade oncológica que lida com tumores de cabeça e pescoço sequer era mencionada na mídia até pouco tempo atrás. Resultado: a população desconhecia sua periculosidade.

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    Daí porque instituímos julho como o mês de atenção ao câncer de cabeça e pescoço.

    A campanha instiga a cobertura da imprensa e ações das secretarias de saúde, que envolvem diagnóstico e cirurgia. Já é alguma coisa, mas isso precisaria acontecer o ano inteiro. 

    Conseguimos, como sociedade, incorporar a laringe eletrônica na tabela do SUS e fazer um reajuste no valor de reembolso da prótese de voz para o paciente que perdeu a voz pelo câncer de laringe.

    Porém, esses avanços precisam ser cumpridos na ponta. Nosso trabalho de fiscalizar e cobrar não vai parar até que todas as vozes sejam ouvidas! 

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    *Melissa Medeiros é presidente da Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço – ACBG Brasil.

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