Em um vídeo publicado no Facebook, um homem que não revela a identidade mostra a caderneta de vacinação do seu cachorro. Nela, dá para ver o registro de uma dose aplicada contra o coronavírus. Na gravação, ele conclui que esse imunizante protege contra o Sars-CoV-2, o subtipo do coronavírus responsável pela pandemia que está assolando o mundo.
Mas essa afirmação é falsa. A vacina apresentada de fato previne contra um tipo de coronavírus. Mas não contra o Sars-CoV-2, que surgiu no final de 2019 na China. Esse imunizante, voltado apenas para cães, evita o coronavírus entérico canino (CCoV).
“Não devemos associar os produtos veterinários à pandemia atual, de Covid-19”, alerta o veterinário Alexandre Merlo, gerente técnico e de pesquisa aplicada de animais de companhia da Zoetis. Essa empresa fabrica a vacina do vídeo, chamada de Vanguard HTLP 5/CV-L (V8).
O especialista explica que, apesar de pertencerem à mesma família, o Sars-CoV-2 e o CCoV têm características distintas. Eles sequer possuem os mesmos hospedeiros — enquanto o primeiro ataca seres humanos, o segundo aflige os cães.
Conclusão: a vacina canina para coronavírus não evita a infecção por trás da Covid-19. Só que essa não foi a única notícia falsa apresentada no vídeo. Abaixo, desmentimos outras afirmações desse homem:
“Você certamente já deve ter dado essa vacina para seu gato ou seu cãozinho”
Na família dos coronavírus, há dois tipos que atingem especificamente os gatos: o entérico felino e o causador da peritonite infecciosa felina (PIF).
Alexandre Merlo explica que o primeiro se assemelha ao CCoV, que ataca os cães. Mas o coronavírus entérico felino raramente provoca sintomas — estamos falando de problemas gastrointestinais.
“Já a PIF é uma doença fatal. Os bichos infectados em geral morrem mesmo com tratamento”, informa o veterinário.
Infelizmente, não existem vacinas para prevenir nenhum deles. O imunizante mostrado no vídeo, portanto, só é aplicado nos cachorros — e não em gatos.
“Tá vendo o que ela combate? Coronavírus. Esse vírus não é novo”
Como já dissemos, a família dos coronavírus possui vários representantes, que atacam diferentes hospedeiros, de diferentes maneiras.
O Sars-CoV-2, o mais novo membro, apareceu pela primeira vez no fim de 2019 na China. “Já o CCoV é conhecido há décadas”, complementa Merlo.
“O vírus se apresenta mais nos mamíferos”
“Temos os gêneros Alfa e Betacoronavírus, que geralmente afetam mamíferos, enquanto os Gama e Deltacoronavírus atingem pássaros e peixes”, completa o veterinário.
Ou seja, não dá para fazer essa afirmação.
O que mais você precisa saber sobre os coronavírus caninos e felinos
Os cães entram em contato com essa ameaça, que ataca o trato gastrointestinal, pela ingestão de fezes contaminadas de animais. O principal sintoma é a diarreia, que pode vir acompanhada de vômitos, fraqueza e falta de apetite.
“Não existe tratamento específico. O veterinário controla apenas os sintomas. A vacina deve ser aplicada anualmente”, orienta o profissional.
Além da Vanguard HTLP 5/CV-L (V8), existe a Vanguard Plus (V10). Ambas são polivalentes — agem contra diversas doenças, inclusive o CCoV. A diferença é que a segunda defende de mais subtipos da bactéria causadora da leptospirose.
Felizmente, o CCoV raramente leva os cachorros à morte. O risco maior é para os filhotes. Por isso, não deixe de imunizar seu amigo.
E o que fazer com os gatos? “O coronavírus felino deve ser prevenido evitando contato com outros bichos de origem desconhecida, porque é possível que eles passem por meio de contato direto ou secreções”, conclui Merlo.