Com cerca de 40 mil casos previstos para 2023, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de cabeça e pescoço compreende uma série de tumores em órgãos nesta região.
Os mais comuns nos homens são os de laringe e cavidade oral e, nas mulheres, os cânceres de tireoide.
Estamos encerrando o Julho Verde, oportunidade para conscientizar a população sobre como prevenir e diagnosticar precocemente essas doenças.
Seis vezes mais comum nas mulheres, o câncer de tireoide, felizmente, tem uma baixa letalidade.
Por sua vez, nos preocupamos com os cânceres de cavidade oral (boca, língua, gengiva, etc), laringe e orofaringe (garganta). Esses tumores são quatro a seis vezes mais prevalentes nos homens.
Os principais vilões nesse caso são o tabagismo, o consumo de álcool e a infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Este último fator de risco está associado com o aumento dos casos, principalmente, de câncer de orofaringe (base da língua e amígdalas).
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Queda na cobertura vacinal contra o HPV
A prevenção do HPV é possível por meio de vacinação. Uma boa notícia é que a vacina quadrivalente (que protege contra os HPVs 6, 11, 16 e 18) está disponível no Sistema Único de Saúde para todos os meninos e meninas a partir dos 9 anos.
Os tipos 16 e 18 são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo de útero, e são os mais presentes também entre os tumores de cabeça e pescoço causados por HPV. Os tipos 6 e 11 provocam 90% das verrugas genitais.
A má notícia é que é baixa a taxa de cobertura vacinal no país.
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2023 apontam que 87% das meninas brasileiras entre 9 e 14 anos receberam a primeira dose da vacina contra HPV em 2019. Em 2022, a cobertura caiu para 75,81%.
Entre os meninos, a taxa de imunização foi de 61,55%, em 2019, para 52,16%, em 2022.
+ Leia também: Vacina do HPV: “a melhor cura para o câncer é não ter o câncer”
Com essa queda de adesão, perde-se uma janela de oportunidade de prevenir a grande maioria dos casos de tumores de cabeça e pescoço, assim como o câncer ginecológico mais comum, que é o de câncer de colo do útero.
Aliás, é justamente com o câncer de colo uterino a mais estreita relação entre uma etiologia (causa) e um tipo de câncer. O HPV é responsável por quase todos os casos de tumores malignos colo uterinos.
A chance de eliminar um câncer
Quando a imunização contra HPV é oferecida para meninos e meninas, ocorre uma quebra na cadeia de transmissão. Está depositada na vacina a definição da meta, estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de eliminar do mundo o câncer de colo do útero.
Dentre os países que alcançaram altas taxas de cobertura vacinal contra o HPV, estão a Austrália e o Canadá.
Eles já notaram na prática o impacto da imunização coletiva, com reduções significativas nas infecções por HPV, lesões cervicais pré-cancerosas (NIC) e verrugas genitais — estas últimas tanto em mulheres quanto em homens.
Além da vacina, o uso de preservativo durante a relação sexual é fundamental para prevenir doenças sexualmente transmissíveis, dentre elas o HPV.
Porém, não impede totalmente o risco de infecção, pois o vírus pode estar presente em áreas não protegidas pela camisinha como vulva, região pubiana e perineal ou na bolsa escrotal.
*Glauco Baiocchi Neto é cirurgião oncológico, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) e líder do Centro de Referência em Tumores Ginecológicos do A.C.Camargo Cancer Center (SP).
Thiago Bueno de Oliveira é oncologista clínico, presidente do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP) e líder do grupo de cabeça e pescoço do Departamento de Oncologia Clínica do A.C.Camargo Cancer Center (SP)