Síndrome do X Frágil: uma deficiência intelectual pouco conhecida
Ela é a segunda causa mais comum de deficiência intelectual com origem genética. E, ainda assim, pouca gente ouviu falar, o que dificulta o diagnóstico
As descobertas relacionadas à Síndrome do X Frágil são relativamente recentes, com os primeiros registros a partir da década de 1970. Talvez por esse motivo, muitas pessoas nunca tenham ouvido falar dessa condição, apesar de hoje em dia ocupar o segundo lugar como causa mais frequente de déficit intelectual com origem genética – apenas atrás da Síndrome de Down.
Os dados de incidência não estão claramente consolidados no país, mas estudos afirmam que aproximadamente um em cada 6 mil homens e uma em cada 4 mil mulheres são afetados pelo problema.
Mas afinal, do que estamos falando? A Síndrome do X Frágil é uma condição genética e hereditária ligada ao cromossomo X que afeta o desenvolvimento neuropsicomotor. Isso gera uma ampla gama de sintomas intelectuais, comportamentais e físicos, que variam de leve a grave.
Para uma compreensão mais aprofundada, é relevante lembrar que cada indivíduo possui 23 pares de cromossomos, dos quais um par determina o sexo biológico. Os homens têm um cromossomo X e um cromossomo Y (XY), enquanto as mulheres possuem dois X (XX).
Em uma das extremidades do cromossomo X, existe uma pequena região conhecida como “sítio frágil”, onde está localizado o gene FMR1. Quando ele está fora da normalidade, é possível observar um aumento de repetições de algumas sequências de DNA que podem inibir a produção da proteína FMRP, essencial para o desenvolvimento de várias funções cerebrais e outros órgãos.
Portanto, quando o número de repetições dessa região for superior a 200 vezes, o gene FMR1 não funcionará corretamente e, consequentemente, não produzirá a proteína FMRP em quantidade suficiente. Essa ausência é responsável pela ocorrência da Síndrome do X Frágil, e nesse cenário consideramos que o paciente possui uma mutação completa.
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Existem também os pacientes em uma faixa intermediária denominada pré-mutação, que engloba indivíduos com 50 até 200 cópias dessa repetição. Nesse caso, o gene alterado ainda está funcionando, e essas pessoas, em geral, não apresentam sintomas.
Mas eles podem transmitir o quadro adiante – e, aí, a mutação tende a ser completa. Os homens transmitem a pré-mutação para todas as suas filhas, mas para nenhum de seus filhos, uma vez que a alteração está presente apenas no cromossomo X.
Por outro lado, os filhos de uma mulher portadora têm 50% de probabilidade de herdar o gene alterado, pois sempre recebem um cromossomo X da mãe.
Os indivíduos do sexo masculino (XY) com mutação completa sempre manifestarão a Síndrome do X Frágil. Já as mulheres (XX) com mutação completa podem não ser afetadas, pois, além do cromossomo X alterado, há ainda outro cromossomo X com o gene FMR1 saudável – e isso pode ser suficiente para evitar os sintomas. Nesse sentido, nas meninas a Síndrome do X Frágil geralmente é menos grave.
A definição do quadro clínico ainda é um dos maiores desafios na prática médica, pois os sintomas são variados e inespecíficos. É comum que os pacientes recebam diagnósticos de outros distúrbios que também envolvem o desenvolvimento intelectual, como TDAH e autismo.
Com a evolução da ciência e da medicina, o melhor exame para identificar a Síndrome do X Frágil é o diagnóstico molecular. Por meio de uma simples amostra de sangue, é possível extrair o DNA do paciente e analisá-lo para determinar se há ou não mutação na região específica do gene FMR1.
Um diagnóstico preciso e, de preferência, precoce é fundamental para o início de intervenções e terapias personalizadas que auxiliam no tratamento e manejo dos sintomas, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, a detecção no tempo certo proporciona suporte adequado às famílias, que muitas vezes se sentem perdidas nessa jornada.
Adicionalmente, o teste genético desempenha um papel na identificação de portadores assintomáticos da mutação do gene do X Frágil, possibilitando a implementação de ações preventivas, como aconselhamento genético e planejamento familiar.
Mas a tecnologia, sem acesso aos cuidados e a informação, não é suficiente. Tanto que, em 2023, o DB Diagnósticos, juntamente com os mais de 9 mil laboratórios parceiros em todo o território nacional e com o apoio ao “Programa Eu Digo X”, do Instituto Buko Kaesemodel de Curitiba, atendeu mais de 1 500 pacientes diagnosticados em todas as regiões do país.
A partir da relevância do tema, uma campanha de conscientização que dá voz àqueles que convivem com o X Frágil foi lançada. Pesquise mais e se informe. Juntos, podemos aumentar a conscientização sobre a Síndrome do X Frágil e fazer a diferença!
*Isabella Ortiz é bacharel em Ciências Biológicas, Mestre em Biologia Molecular e Gerente de Produto Nacional do DB Molecular e DB Patologia