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Reumatologia: da cortisona à medicina de precisão, 70 anos de evolução

Especialista comenta principais evoluções desta importante área da medicina

Por Sandra Hiroko Watanabe, reumatologista*
24 ago 2023, 09h17
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  • Em 1953, foi fundada a Sociedade Paulista de Reumatologia. Nestes 70 anos, a entidade se engajou para o reconhecimento da especialidade e a conscientização das doenças reumáticas, sempre com o objetivo de proporcionar assistência aos pacientes e o acesso aos melhores medicamentos, seja no setor público ou privado.

    Nesse período, também houve um salto incrível na evolução da reumatologia.

    Doenças reumáticas já eram observadas em esqueletos pré-históricos, há mais de dois milhões de anos. No início da medicina, Hipócrates e Dioscórides, que pela primeira vez usou o termo reumatismo, descreveram algumas poucas doenças que acometiam o aparelho musculoesquelético, como a gota e as “artrites”.

    + Leia também: O que é artrite reumatoide: causas, sintomas e tratamento

    Imaginava-se que essas condições eram provocadas por fluidos ou rheuma que corriam em nossos corpos até chegar às articulações.

    Se antes eram doenças que afetavam apenas ossos e juntas, hoje são conhecidas mais de 120 doenças reumáticas, que podem atingir qualquer órgão.

    Elas ocorrem em pessoas de qualquer idade, inclusive crianças, e têm as mais diferentes causas, mecânicas, degenerativas, metabólicas, infecciosas e inflamatórias, mediadas pelo sistema imune.

    Evolução dos medicamentos

    A cortisona, um famoso anti-inflamatório e imunossupressor, foi descoberta em 1949, por Philip Hench (ganhador do prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia). Desde então, tem sido prescrita para os doentes reumáticos.

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    Várias outras substâncias foram testadas ao longo da história e não demonstraram eficácia. No entanto, a cloroquina e a colchicina, utilizadas desde a década de 1950, têm seu lugar de destaque até hoje.

    A partir da década de 1970, foram descritas mais doenças reumáticas e desenvolvidos outros medicamentos.

    + Leia também: O que é osteoporose e quais seus sintomas, tratamentos e causas

    Cientistas compreenderam melhor, por exemplo, as vasculites (inflamações dos vasos sanguíneos) e o mecanismo de ação da aspirina e de outros anti-inflamatórios. São remédios que trazem alívio dos sintomas, mas não atuam na origem do problema.

    Graças aos avanços científicos e ao aprofundamento dos conhecimentos em imunologia, o mecanismo implicado na gênese de várias doenças mediadas pelo sistema imunológico passou a ser conhecido.

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    Em consequência, desde 1998, temos à disposição no Brasil, medicamentos imunobiológicos, desenvolvidos para interferir em processos específicos de artrite reumatoide, lúpus, espondiloartrites, vasculites, osteoporose e artrite idiopática juvenil.

    Outra estratégia de tratamento empregada com sucesso, desde 2010, o treat-to-target (tratamento alvo), baseia-se em rigoroso controle na busca da remissão.

    O diagnóstico e o tratamento precoce com drogas capazes de modificar a evolução das doenças dão a oportunidade aos pacientes reumáticos de evitar sequelas com melhora da expectativa e principalmente da qualidade de vida.

    E as opções farmacológicas estão se expandindo, cada vez mais específicas e com menos efeitos colaterais.

    A reumatologia intervencionista, com procedimentos minimamente invasivos, como punções e infiltrações de articulações e da coluna vertebral, guiados por ultrassom ou radioscopia, também tem auxiliado os pacientes tanto no diagnóstico como no tratamento.

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    Diagnóstico também melhorou

    Até os anos 1970, o raio X era o único aparelho disponível para diagnósticos de imagem. Em 1977 foi utilizada a tomografia computadorizada pela primeira vez no Brasil e, em 1986, a ressonância magnética.

    A osteoporose, hoje uma doença bastante conhecida e com possibilidade de prevenção de fraturas, só pôde ser adequadamente diagnosticada nos anos de 1980, com a chegada ao Brasil do primeiro aparelho de densitometria óssea.

    O desenvolvimento de novas técnicas de laboratório, inclusive por grupos brasileiros, tem permitido a detecção de inúmeros auto-anticorpos (moléculas produzidas pelo corpo que podem estar envolvidas em doenças reumáticas) com maior precisão no diagnóstico.

    Em 1990, a fibromialgia, antes considerada uma condição psicológica, foi reconhecida como doença, com critérios classificatórios definidos pelo Colégio Americano de Reumatologia. Isso só foi possível por meio do estudo da neurofisiologia da dor.

    + Leia também: Exame de raio-x: o que é, para que serve e quais os cuidados

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    Tecnologia e tendências para o futuro

    Além do tratamento medicamentoso, a reabilitação física do paciente reumático é fundamental, e exige uma abordagem multidisciplinar com a fisioterapia, terapia ocupacional, enfermagem, nutrição, psicologia e educação física.

    A tecnologia assistiva incorporou inovações digitais como a robótica, dispositivos externos e realidade aumentada.

    No futuro, vislumbramos a medicina de precisão, com um tratamento individualizado para as necessidades de cada paciente, e o uso de Big Data, inteligência artificial e machine learning, para otimização do aprendizado e criação de algoritmos. Mas não podemos jamais menosprezar a relação médico-paciente.

    Não temos dúvidas de que a telemedicina e a teleconsulta vieram para ficar e auxiliar a medicina moderna, mas ela não substitui por completo uma consulta presencial.

    O reumatologista precisa “pegar na mão” do paciente, seja para examiná-lo, sentindo a temperatura e textura dos locais afetados, seja para transmitir todo seu cuidado, acolhimento e segurança. O objetivo de todo o tratamento é aliviar a dor e sofrimento, para que se possa desfrutar a vida em sua total plenitude.

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    *Sandra Hiroko Watanabe é membro da Diretoria Executiva da Sociedade Paulista de Reumatologia e chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital Japonês Santa Cruz

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