Nas últimas décadas, assistimos a avanços tecnológicos incríveis, que transformaram a medicina como um todo, e com a oncologia não foi diferente.
Hoje temos drogas que trazem esperanças de sobrevivência em casos avançados, para os quais existiam poucas opções, e abordagens cada vez mais personalizadas.
Neste cenário, é importante lembrar que a relação entre o paciente e seu médico persiste como um dos grandes pilares para o sucesso dos tratamentos oncológicos. Afinal, não tratamos de doenças, mas de pessoas doentes.
Cada uma delas têm suas individualidades, não só de sinais ou sintomas, mas de vivências e expectativas.
Pacientes não são apenas seres biológicos. São muito mais que isso. São seres biográficos. Carregam em sua bagagem a própria história, experiências e emoções. Por isso precisam ser vistos em sua plenitude, no contexto social, cultural e humano. Na sua pluralidade.
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Mais do que a capacidade técnica do médico, a empatia, a escuta atenta, a compaixão, o não julgar e sua habilidade de comunicação permitem que se estabeleça um vínculo de confiança e reciprocidade entre profissional e paciente.
Os benefícios do acolhimento na oncologia
Quando o doente se sente acolhido e respeitado, fica mais à vontade para expor seus problemas de saúde e suas inseguranças.
Assim, certamente, estará mais disposto engajar-se no tratamento proposto, compreendendo seus desfechos, ainda que, eventualmente, não sejam os que ele tivesse em mente. Também estará menos vulnerável a falsas promessas de cura e comportamentos que podem piorar seu prognóstico.
É preciso lembrar que, na maioria das vezes, o problema apresentado pelo paciente tem origens que vão além de questões médicas imediatas. Daí a importância dos determinantes sociais da saúde.
São fatores relacionados às condições e ao estilo de vida do indivíduo, que, de acordo com as evidências científicas, precisam ser cada vez mais levados em consideração ao programar um plano terapêutico.
No dia a dia da minha prática profissional como oncologista, percebo o quão decisivo é manter uma boa relação médico-paciente. Principalmente em meio a um diagnóstico de câncer, momento de profunda fragilidade física e emocional para qualquer pessoa.
Ao ouvir meus pacientes falando sobre medos e angústias, consigo ter informações que os exames mais modernos no mundo não são capazes de detectar.
É nesse momento que tenho a oportunidade de perceber o quanto cada pessoa deseja, precisa ou deve saber sobre a sua doença. É nesse momento que escolho a linguagem a ser utilizada e compartilho responsabilidades.
É nesse momento que começamos a trabalhar as expectativas reais e a valorizar mais a vida do que a doença. Sobretudo, é nesse momento que me vem à mente a célebre frase de Hipócrates: “Aliviar a dor é algo divino”.
*Amândio Soares é oncologista e idealizador do Instituto Orizonti, em Belo Horizonte/MG