Como médico radio-oncologista, testemunhei uma série de avanços tecnológicos nos últimos anos, que permitem que a radioterapia ofereça tratamentos cada vez mais individualizados, seguindo as tendências da medicina de precisão.
Outra novidade mais empolgante, no entanto, é a descentralização de tratamentos de ponta, que agora estão acessíveis fora do tradicional eixo Rio-São Paulo. Esse fato é importante, tendo em vista que o Brasil, por suas dimensões continentais, é um país heterogêneo, onde várias regiões carecem de estruturas complexas e profissionais de saúde para o tratamento do câncer.
A radioterapia é um dos pilares do tratamento oncológico, ao lado da cirurgia e dos tratamentos medicamentosos. Capaz de destruir ou impedir o crescimento das células tumorais por meio do uso de radiação ionizante, ela pode contribuir, em muitos casos, para a cura da doença.
E, se não há chance de cura, ela pode aliviar incômodos como dor, sangramentos, dificuldade de deglutição e de respiração, além de outros problemas de saúde, melhorando a qualidade de vida do paciente.
Segundo a Sociedade Americana de Câncer, mais da metade dos pacientes oncológicos recebe a radioterapia, seja de forma isolada ou associada a outras terapias.
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Avanços na radioterapia
A introdução da radioterapia guiada por imagem, no início dos anos 2.000, representou um avanço significativo nesse campo de tratamento, ao melhorar a precisão na localização das regiões de tratamento.
Utilizando imagens de raio-x geradas por acelerador linear, a terapia alcançou maior eficácia, reduzindo os efeitos colaterais.
Com o tempo, a tecnologia continuou a evoluir. Recentemente a clínica onde trabalho, em Florianópolis, tornou-se pioneira no Brasil ao adotar o ExacTrac Dynamic, um sistema de radioterapia guiada por imagem de última geração. Desenvolvido pela empresa alemã Brainlab, este sistema oferece precisão submilimétrica com rastreamento térmico e de superfície.
Trata-se de uma evolução da radioterapia guiada por superfície (SGRT), que normalmente utiliza um projetor de luz estruturada, cuja precisão pode ser limitada em algumas situações. No novo equipamento, uma camada adicional de rastreamento térmico permite a identificação inequívoca da área anatômica de interesse do paciente.
Isso capacita o médico a direcionar a radiação com extrema precisão, preservando assim os tecidos saudáveis adjacentes. Como resultado, os tratamentos são concluídos em poucos dias e com menos efeitos colaterais.
Um dos casos que mais me marcou foi o da funcionária pública aposentada Maristela Kuhn, diagnosticada de forma precoce com um câncer de mama. Após a cirurgia para a remoção de um tumor, ela recebeu cinco sessões de radioterapia com o novo equipamento. Não teve nenhum efeito colateral e seguiu sua rotina normalmente.
Descentralizar o acesso
Devemos considerar que a descentralização das novas tecnologias é um passo vital para garantir que pacientes de todas as regiões do Brasil tenham acesso aos melhores tratamentos.
A expansão desses recursos para outras capitais e regiões já é uma realidade. Isso é especialmente importante para quem, por motivos de saúde ou financeiros, não podem se deslocar para os grandes centros urbanos.
Como médico, é gratificante ver essas melhorias refletidas na qualidade de vida dos pacientes e na eficácia dos tratamentos. Continuaremos a trabalhar para garantir que essas tecnologias estejam disponíveis para todos que delas necessitem.
*Arno Lotar Cordova Junior é médico radio-oncologista da São Sebastião Radioterapia, presidente da Liga Catarinense de Combate ao Câncer e presidente egresso da Sociedade Brasileira de Radiocirurgia