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Quando a fé fere: o que é a síndrome do trauma religioso?

Quando bem vivida, a fé ajuda em processos de cura e ressignifica o sofrimento. Mas ambientes religiosos também podem ser danosos

Por Angela Sirino, psicanalista*
Atualizado em 27 jun 2025, 15h50 - Publicado em 27 jun 2025, 15h43
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A espiritualidade é uma dimensão importante da vida, mas a religião também pode ter seu lado negativo (Boris Zhitkov/Getty Images)
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A espiritualidade é uma força vital. Não é exagero dizer que ela pode sustentar um ser humano nos seus dias mais escuros. Quando bem vivida, a fé cura feridas, restaura vínculos, dá sentido ao sofrimento. E felizmente, temos muitas comunidades religiosas que fazem isso com excelência: acolhem, orientam, servem com ética e amor.

Mas também é verdade que há pessoas emocionalmente feridas por ambientes religiosos. Gente que se machucou dentro de lugares que deveriam ter sido refúgio; que foi manipulada em nome de Deus. Esse adoecimento tem nome: síndrome do trauma religioso (STR).

A STR não é apenas mágoa de Igreja ou decepção com pastores ou padres. É uma ferida emocional profunda, causada por vivências religiosas baseadas no medo, na culpa, no castigo e na repressão. Ambientes onde pensar é pecado, sentir é fraqueza e obedecer cegamente é regra.

+Leia também: Entre a fé e a ciência: como a espiritualidade influencia a saúde

Essas experiências deixam marcas que se arrastam até a vida adulta. Pessoas que sentem culpa só por desejar algo bom. Outras que travam diante de decisões simples, com medo de estarem “fora da vontade de Deus”.

Adultos que não confiam mais em sua própria intuição, porque foram ensinados a desconfiar de si mesmos. Pessoas que não conseguem mais orar — ou que só oram com medo de serem castigadas se não o fizerem.

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Falar sobre isso não é atacar a fé. É protegê-la. Porque a fé verdadeira liberta. Ela não controla, humilha ou apaga a individualidade. A fé que cura é aquela que fortalece a consciência, amplia a liberdade e promove responsabilidade emocional e espiritual.

Reconhecer que existem comunidades religiosas abusivas é um passo essencial para proteger o que há de mais sagrado: a saúde mental e espiritual das pessoas. Precisamos discutir essa convivência social com aquilo que traumatiza, sim. Não dá mais para varrer esses traumas pra debaixo do tapete “em nome da paz”.

Paz não é silêncio. Ela é segurança emocional.

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Também é preciso dizer: há cura. A dor causada por líderes ou instituições religiosas não define sua espiritualidade. Existe um caminho de reconstrução, onde é possível separar o abuso da fé genuína. E para muitos, esse caminho começa com um simples gesto: pedir ajuda e falar sobre o que doeu.

A espiritualidade sadia não oprime, abraça. Não ameaça, acolhe. E não adoece, cura.

*Angela Sirino é psicanalista, sexóloga e autora do livro Caminho da Esperança (Editora Vida)

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