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Os desafios do câncer na maturidade

Casos da doença aumentam com o envelhecimento da população. Precisamos nos preparar para dar mais atenção e suporte a essas pessoas

Por Rafael Prado, diretor-geral da Sanofi Genzyme*
Atualizado em 9 nov 2020, 16h54 - Publicado em 9 nov 2020, 16h54
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  • A pandemia da Covid-19 chamou atenção para a saúde dos idosos no Brasil e no mundo. Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como grupo de risco para complicações relacionadas ao coronavírus, essa população tem uma prevalência maior de comorbidades como diabetes e hipertensão. São doenças que, assim como o próprio envelhecimento, exercem impacto importante sobre o sistema imunológico. Devemos aproveitar esse alerta para falar de outra doença que afeta desproporcionalmente os idosos: o câncer.

    Embora os dados ainda estejam sendo coletados, há sinais de que pessoas idosas com câncer estariam ainda mais vulneráveis à Covid-19. Além disso, por medo da pandemia, muitos deixaram de buscar atendimento médico. Levantamento das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica estima em 50 mil o número de casos de câncer que deixaram de ser diagnosticados no Brasil, apenas nos primeiros três meses da pandemia.

    O fato é que a incidência de diferentes tipos de câncer tende a aumentar conforme a idade. Para ter uma ideia, basta olhar a taxa de casos de câncer para cada 100 mil pessoas. Na faixa de idade de 40 a 54 anos, essa incidência é de 238 casos. O número triplica quando se avança na faixa acima, de 55 a 69 anos, chegando a 731. Quando se fala da etária acima de 70 anos, o patamar ainda dobra, com 1486 casos a cada 100 mil pessoas. As informações são de estudo realizado neste ano pela Economist Intelligence Unit (EUI), com apoio da Sanofi.

    O câncer é hoje a segunda principal causa de mortes no mundo, segundo a própria OMS. Trata-se de uma ameaça à saúde pública global que deve aumentar conforme a população envelhece. As projeções no estudo da EUI apontam que a proporção de pessoas com 65 anos ou mais no mundo deve passar de 17,4% em 2017 para 21,2% em 2050. Isso significa que, em um espaço de 33 anos, saltaremos de 962 milhões de idosos para 2,1 bilhões.

    No Brasil, a participação dessa proporção chegará a mais de 20%. Com isso, calcula-se que o número de novos casos de tumores em idosos dobre entre 2012 e 2035, passando de 7 milhões para 14 milhões, de acordo com um estudo publicado pelo International Journal of Cancer.

    Sem dúvida, o cenário projeta forte impacto nos recursos de saúde pública e privados, setores que há tempos recebem sinais de que devem se preparar para as consequências do envelhecimento populacional. Mas, além dos números, estamos falando de milhares de vidas. São homens e mulheres com histórias, famílias e amigos.

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    São pessoas que têm uma vida social ativa e, cada vez mais, conquistam novos espaços no mercado de trabalho, desempenhando um papel econômico importante nas comunidades em que vivem. Segundo dados da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, o número de pessoas com 65 anos ou mais em vagas com carteira assinada cresceu 43% entre 2013 e 2017, passando de 484 mil para 649,4 mil.

    Desafios relacionados aos pacientes com câncer passam, mais do que nunca, pela necessidade de um olhar mais atento para a doença na maturidade. É preciso abrir ainda mais o diálogo sobre a saúde da pessoa idosa. Estamos diante de um público com necessidades específicas, que tende a demandar um tratamento multidisciplinar, com o envolvimento de profissionais de diferentes especialidades.

    Entre as possíveis soluções para melhorar a jornada do paciente idoso está a garantia de que esse indivíduo seja tratado integralmente, de acordo com a sua necessidade. Nesse sentido, um dos caminhos é o incentivo à avaliação geriátrica, método que permite aos médicos escolher o melhor caminho a ser percorrido por seu paciente determinando as idades funcional e fisiológica, não apenas a cronológica. São avaliados fatores como nutrição, funcionalidade, cognição, estado psicológico, suporte social e comorbidades. Com esse recurso, é possível investigar, por exemplo, se o idoso apresenta tendência a quedas, bem como avaliar sua tolerabilidade a determinados tratamentos.

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    Em relação à escolha dos tratamentos mais adequados para os idosos, outro ponto de atenção é a necessidade de se trabalhar a medicina baseada em evidências, o que também reforça a importância da inclusão desse grupo populacional nos estudos clínicos – sempre preservando, é claro, sua segurança. Os ensaios clínicos são pesquisas realizadas em humanos para avaliar uma intervenção médica, cirúrgica ou comportamental. Atestam se um novo tratamento é seguro e eficaz para determinado grupo.

    Todos os diferentes fatores que impactam a saúde na maturidade formam um verdadeiro mosaico, um universo que ganha ainda mais protagonismo neste momento. Esperamos, após a pandemia, que as atenções continuem direcionadas para nossos pais e avós. Proteger a vida das pessoas maduras que amamos passa pela oferta de informação de qualidade para médicos e pacientes, pelo estabelecimento de protocolos específicos e pela possibilidade de colher mais evidências científicas sobre essa população, dados que nos auxiliem na busca por tratamentos personalizados, seguros e eficazes, capazes de proporcionar uma vida mais longa e também com mais qualidade.

    Antes de qualquer proposta de novas ferramentas ou políticas públicas, o primeiro passo é reconhecer que os idosos, assim como os mais jovens, são indivíduos que carecem de gestão, suporte e cuidados únicos.

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    * Rafael Prado é diretor-geral da Sanofi Genzyme, unidade de negócios para doenças de alta complexidade da Sanofi, com foco em oncologia, imunologia e doenças raras

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