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Os desafios da desigualdade e da falta de acesso a uma saúde integral

Tendo como base sua experiência à frente de uma iniciativa de apoio à comunidade de Paraisópolis, pedagoga reflete sobre um dos grandes dramas brasileiros

Por Telma Sobolh, presidente do Voluntariado Einstein*
4 dez 2021, 09h02

Hipócrates de Cós (460 a 377 a.C.), conhecido como o pai da medicina, foi o primeiro a descrever a saúde como um conceito racional, composto por quatro humores: bile amarela, bile negra, fleuma e sangue. De acordo com sua teoria, nutrição, excreção, exercícios e descanso adequados seriam fundamentais para manter o equilíbrio desses humores e evitar doenças do corpo e da mente.

Séculos depois, mais precisamente em 1946, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde não apenas como a ausência de doença, mas como um estado de completo bem-estar físico, mental e social.

Isso significa que, para analisar a qualidade de vida de um indivíduo ou grupo, é necessário um olhar mais abrangente para sua comunidade, o contexto econômico, o acesso a educação e saneamento básico, a presença de discriminações e preconceitos, dentre outros.

Sob esse aspecto, como endereçar os principais desafios para tratar a saúde de maneira integral em comunidades que nem sempre têm à disposição a melhor infraestrutura de assistência médica e social? Imagine tal missão diante de uma comunidade de 10 km², mais de 100 mil habitantes e 21 mil domicílios, como é o caso de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo.

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O bem-estar de um grupo depende de diversos elementos, entre eles o acesso a educação, alimentação balanceada, boas condições sanitárias e psicológicas etc. Desde os anos 1960, com o Relatório Coleman, o desempenho escolar passou a ser relacionado a fatores internos e externos, sendo que o ambiente familiar é um dos mais importantes.

Em paralelo, uma pesquisa com beneficiários do Programa Bolsa Família identificou elevados índices de desnutrição em crianças e adolescentes. Mais: é significativa a incidência de obesidade em mulheres pobres acima de 40 anos, provavelmente pela falta de recursos para uma alimentação mais saudável.

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Sabemos que isso impacta na autoestima, que impacta na saúde mental, que impacta na inserção no mercado de trabalho, como um efeito dominó.

Nesse contexto, o Mapa da Desigualdade de 2019 mostra que a Vila Andrade (bairro em que está situada Paraisópolis) está abaixo da média estadual em aspectos como acesso a transporte coletivo, vagas em creches e taxas de evasão escolar.

Com cerca de um terço da sua população formada por jovens entre 15 e 29 anos – faixa etária mais vulnerável à falta de empregos e oportunidades –, mais de 42% das famílias que vivem na comunidade são chefiadas por mulheres com uma renda média de até três salários mínimos.

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O desafio foi intensificado pela pandemia de Covid-19. Em março de 2020, com a implementação das medidas restritivas, as atividades educativas, sociais, de capacitação e saúde oferecidas pelo Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis (PECP), criado em 1998, também foram interrompidas.

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Centenas de crianças, jovens e adultos foram diretamente impactados. Um ano e meio depois, com o avanço da vacinação e a redução das taxas de internação e mortalidade pelo vírus, as atividades do PECP estão sendo retomadas gradualmente – em um cenário ainda mais complexo.

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Algumas pessoas contraíram o vírus e muitas delas ainda se recuperam das sequelas físicas, psicológicas e emocionais. Outras também perderam o emprego e a fonte de renda. De acordo com o Instituto Data Favela, quase 70% dos moradores de comunidades atualmente não têm dinheiro para comprar comida.

Já o estudo ConVid – Pesquisa de Comportamentos, liderado pela Fiocruz, aponta que 36% dos idosos que trabalham ficaram sem renda durante a pandemia e que sentimentos como solidão, ansiedade e tristeza se tornaram ainda mais frequentes, especialmente entre as mulheres. Mesmo com a desaceleração da pandemia, o medo de contrair o vírus e a crise econômica abalam os ânimos da população.

Num momento em que os contrastes sociais foram acentuados, é necessário ter um olhar ainda mais atento à saúde física, emocional e social dos grupos e comunidades mais vulneráveis. Reduzir as desigualdades demanda políticas públicas bem implementadas que levem em consideração o acesso à saúde integral.

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E, muito além da assistência médica, isso engloba atendimento psicológico, suporte emocional e social, promoção do esporte, da educação e da cultura e capacitação e recolocação no mercado de trabalho.

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Eis um desafio que não se restringe ao pós-pandemia. Com a missão de promover a justiça social na comunidade assistida, por meio de ações socialmente responsáveis, o PECP oferece aos moradores atividades relacionadas à saúde e à educação de forma integrada. Hoje, atende mais de 5 mil pessoas por ano e já realizou mais de 6 milhões de atendimentos.

Só o PECP, no entanto, não é suficiente para combater as desigualdades e seus reflexos. Precisamos contar com mais projetos sociais com esse enfoque para vencermos as barreiras e construirmos uma sociedade mais justa e igualitária.

* Telma Sobolh é presidente do Voluntariado Einstein e Idealizadora do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis, em São Paulo

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