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O pulso ainda pulsa: humanizar a saúde (ainda) é preciso

Fundador de associação que leva contação de histórias a hospitais faz uma reflexão sobre a importância de uma dinâmica baseada em empatia e acolhimento

Por Valdir Cimino, presidente da Associação Viva e Deixe Viver (Viva)*
15 abr 2022, 10h00
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  • Violência, câncer, difteria, esquizofrenia, ciúmes, hepatite, aids, arteriosclerose, trombose, cárie, rancor… E, se para “o corpo ainda é pouco”, como diz a música do Titãs, como é ser humano vivendo e convivendo em um mundo que já não garante a tão sonhada sustentabilidade? Aliás, este outro conceito que nos esfrega na cara quanto estamos atrasados com o cuidado com a gente e com a nossa casa, o planeta Terra.

    Não basta procurarmos mais saúde, se não buscamos a harmonia nas relações humanas, se as desigualdades sociais crescem diariamente, se não há respeito à diversidade, se vemos a multiplicação de ações e palavras destrutivas movidas por ódio e insensatez, muitas vezes impostas em nome de Deus.

    Todo ser humano é um meio de comunicação com inúmeras possibilidades de se envolver e participar ativamente na construção de uma relação melhor com seu meio. No entanto, o processo de desumanização está aí. Trazemos em nosso DNA a possibilidade de exercitar o bem e o mal. Mas temos também o livre-arbítrio de escolha. Então, por que o mundo vive em guerra?

    Em 2001, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Ano Internacional do Voluntário. No Brasil, conseguimos a conjuntura necessária para mostrar, nas áreas de saúde, educação e cultura, o valor e a valorização do trabalho voluntário organizado e profissional.

    Sim, a palavra de ordem é profissional, uma vez que esse sujeito sem remuneração doa parte do seu tempo qualificado para colaborar com uma gestão participativa e apta a resolver problemas sociais − que persistem devido a práticas estruturais históricas, culturais e institucionais dentro de nossa sociedade.

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    Nesse mesmo ano, pacientes e suas associações de classe, hospitais públicos e privados, organizações da sociedade civil, empresas e governo se uniram para refletir quanto as áreas da saúde precisavam resgatar o olhar e as boas práticas humanizadas e de acolhimento. Em primeira análise, aplicando essa reflexão aos profissionais da saúde, pois são eles que cuidam dos pacientes e da gestão no dia a dia, e abraçando o SUS, exemplo para muitos países.

    + LEIA TAMBÉM: Neurocientista faz uma radiografia do comportamento humano

    Nesse contexto nasceu o 1º Fórum Viva Humanização. E, desde então, a iniciativa reúne, por meio de uma rede de 86 hospitais parceiros, o que existe de melhor para receber os pacientes e suas famílias.

    Em 2003, esse movimento ganhou força e se transformou na política pública HumanizaSUS, conscientizando todos os sujeitos envolvidos com saúde e educação sobre uma nova visão da inteligência social: pensar o sujeito como um ser histórico. Afinal, não somos partes de um corpo e, sim, seres integrais com a virtualidade de democratizar a informação e o conhecimento.

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    Essa filosofia se aplica à prevenção de doenças, à manutenção da qualidade de vida e à gestão do bem-estar. Sabemos que educação e conhecimento salvam vidas. Então por que não somos empáticos com outros iguais a nós?

    Estar perto, entender, ter empatia e procurar o melhor para o paciente… A contação de histórias tem essa dinâmica e esses objetivos. Mais: tem resultados. Humanizar vira a palavra-chave. E traz benefícios confirmados cientificamente.

    Um estudo com a participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Universidade Federal do ABC (UFABC), em parceria com a Associação Viva e Deixe Viver (Viva), mostrou, pela primeira vez, que o ato de contar histórias é capaz de propiciar efeitos fisiológicos e emocionais em crianças que se encontram em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

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    Em todos os pequenos pacientes analisados, houve redução do nível de cortisol e aumento da produção de ocitocina, enquanto a sensação de dor e desconforto foi amenizada, segundo a avaliação das próprias crianças. Ou seja, humanizar, ver o lado de quem precisa, se colocar no lugar e, mais, ajudar é fundamental. O corpo sente a diferença.

    A pandemia da Covid-19 nos fez revisitar o conceito de humanização, palavra tão profunda quanto o amor, que nos faz olhar para dentro de nós mesmos e enaltecer o melhor que temos para doar, pois, sem o outro, não somos ninguém. Viva você, viva a humanização.

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    * Valdir Cimino é fundador e presidente da Associação Viva e Deixe Viver (Viva)

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