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O perigo de opinar sobre o que você não conhece na pandemia

Professor discute o fenômeno da invasão epistêmica, marcado por profissionais que defendem práticas sem conhecimento da área e embasamento científico

Por Euclides Matheucci Jr, professor de biotecnologia*
Atualizado em 22 out 2020, 16h04 - Publicado em 22 out 2020, 15h00
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  • Um dos maiores problemas que ficou evidente durante a pandemia do coronavírus foi a disseminação de notícias e informações falsas. As fake news passaram a fazer parte da nossa rotina e trouxeram prejuízos para a imagem de figuras públicas e também distorceram a realidade de acordo com o interesse de quem comunica. Na Covid-19, elas foram disseminadas tão rapidamente quanto a própria doença.

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    Não à toa, várias iniciativas foram criadas com o objetivo de combater a desinformação neste momento, entre elas uma série lançada pela Unesco com áudios em diversas línguas com dicas de saúde e práticas que evitam a propagação de fake news.

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    Contudo, outro fenômeno sociológico ainda pouco conhecido tem se mostrado tão nocivo quanto as notícias falsas. É a invasão epistêmica ou invasão epistemológica. O termo, criado pelo filósofo americano Nathan Ballantyne, se refere a uma situação em que uma pessoa com especialização e conhecimento em determinada área decide opinar sobre um tema que não domina. Esse fenômeno se tornou mais comum do que nunca enquanto a pandemia se desenrolava.

    Muitas vezes, o efeito ocorre mesmo sem má intenção de quem propaga a informação. Isso porque em uma situação de instabilidade todos se unem para procurar soluções. E, com a crise de saúde pública que vivemos hoje, o que não faltou foram pessoas e até médicos receitando medicamentos e tratamentos milagrosos sem embasamento ou comprovação científica.

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    Um levantamento realizado pelas iniciativas Coronavirus Facts Alliance e CoronaVerificad apontou 125 conteúdos envolvendo profissionais da área médica cuja desinformação a respeito da doença foi propagada em mais de 40 países, incluindo o Brasil. Um dos casos mais conhecidos e que ainda está sendo debatido é a utilização de hidroxicloroquina para o tratamento preventivo da Covid-19 — algo já contraindicado por pesquisas e especialistas.

    A invasão epistêmica tem ocorrido dentro de grupos da indústria da saúde e até mesmo entre políticos com propósitos questionáveis, o que fez com que o Conselho Federal de Medicina (CFM) tivesse de intervir e advertir com a emissão de uma nota de responsabilidade profissionais que divulguem tratamentos sem comprovação a pacientes com coronavírus.

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    Nesse contexto, o professor Ballantyne pontua: “A invasão epistêmica é onipresente nessa era de pesquisa interdisciplinar e reconhecer isso exigirá que sejamos mais modestos intelectualmente.”

    É um desafio e tanto em um período em que as redes sociais colaboram para que a “invasão do saber” aconteça sem que haja responsabilização por parte de quem divulga ou compartilha conteúdos duvidosos. E o maior problema nesse caso é ter médicos que contribuem com a disseminação de informações infundadas. Estes profissionais tão essenciais devem respeitar os limites de seu conhecimento técnico e ter responsabilidade com o que falam, para quem falam e onde falam.

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    A invasão epistêmica está alcançando patamares perigosos especialmente na área da saúde e se coloca como desafio e lição para o futuro. Afinal, qual o propósito em opinar publicamente sobre um assunto que você não domina? Tenhamos consciência e modéstia para realmente ajudarmos uns aos outros baseados em nossos saberes e especialidades.

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    * Euclides Matheucci Jr. é professor do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), cofundador e presidente da DNA Consult e criador do teste #SalvaVidasCovid, que ajuda empresas a retomarem suas atividades com a testagem dos colaboradores

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