A esclerose múltipla é uma doença autoimune, crônica e inflamatória marcada pelo ataque das células de defesa à bainha de mielina, uma espécie de capa de gordura que recobre e protege as células do sistema nervoso. Provoca, assim, lesões neurológicas por trás de uma série de sintomas, como fadiga, perda de equilíbrio e coordenação motora, espasmos e disfunção urinária, entre outros.
Há diversas hipóteses para explicar o desenvolvimento do problema, e elas envolvem predisposição genética associada a questões do estilo de vida ou infecções virais prévias, que funcionariam de gatilho para a doença. Como resultado, há uma alteração imunológica prejudicial aos neurônios e às suas funções.
Infelizmente, ainda não há cura para a esclerose múltipla. O que existem são tratamentos capazes de melhorar sintomas e reduzir períodos de exacerbação da doença, os “surtos”, caracterizados por pioras agudas e progressão do quadro.
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Atualmente, há medicamentos que diminuem a atividade inflamatória e as lesões à mielina, o que permite reduzir a intensidade e frequência dos surtos. Tanto remédios imunomoduladores como os imunossupressores e os corticosteroides sintéticos podem exercer um papel importante no manejo da condição.
Ainda assim, por ser uma doença de caráter crônico-degenerativo, a abordagem terapêutica não raro é limitada e considerada desafiadora para os pacientes e a comunidade médica. Daí o investimento em pesquisas para compreender melhor a patologia e buscar novas opções de tratamento.
Uma das inovações nesse sentido são as terapias à base de Cannabis sativa. Já temos à disposição no Brasil uma solução oral que combina THC e CBD, dois componentes da cannabis, para controlar um dos principais sintomas da esclerose múltipla, a espasticidade.
Ela é descrita como uma sensação de peso e rigidez nos músculos, o que dificulta a movimentação do paciente. Pode ter impacto considerável na qualidade de vida e impedir a realização de atividades simples no dia a dia. Para contê-la, neurologistas recomendam sessões de fisioterapia e alguns medicamentos sintéticos, mas nem sempre eles são eficazes ou sustentáveis para todos os pacientes.
O tratamento com canabinoides, baseado em estudos, amplia o arsenal do qual médicos e pacientes podem lançar mão, com a vantagem de não ter os efeitos colaterais das medicações tradicionais.
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Em termos de legislação, a Anvisa já liberou o uso da combinação dos canabinoides THC (tetrahidrocanabinol) e CBD (canabidiol) para o tratamento de espasmos musculares, moderados a graves, na esclerose múltipla, em pacientes que não apresentaram bons resultados após a utilização de outros remédios para essa finalidade.
É uma evolução importante para nós, médicos, mas sobretudo para os pacientes e familiares, que sempre estão buscando uma vida melhor, com menos limitações.
* Pedro Alvarenga é médico com especialização em endocrinologia e metabologia, preceptor no Complexo Hospitalar de Contagem e na Fundação Hospitalar de Minas Gerais e consultor da Ease Labs, empresa que desenvolve tratamentos com cannabis