Os cuidadores desempenham um papel fundamental na formação daqueles que estão sob sua responsabilidade, inclusive no que diz respeito aos hábitos de bem-estar e cuidados com a saúde física e mental. Desde a nutrição até a atividade física e o controle do estresse, eles são modelos, cujas decisões e escolhas diárias impactam diretamente as crianças e adolescentes que cuidam.
Adultos que experimentam altos níveis de estresse no trabalho às vezes adotam rotinas não recomendadas para si mesmos e para as crianças de quem estão cuidando, como um estilo de vida sedentário, escolhas alimentares não saudáveis ou horários de descanso interrompidos.
Assim como nos aviões, em situações de emergência, os passageiros são instruídos a colocar primeiro a própria máscara de oxigênio, para só então ajudar as crianças. Do mesmo jeito, no bem-estar é preciso primeiro cuidar de nós mesmos, para garantir que estamos aptos a cuidar de quem precisa de nós.
O estudo “A Influência dos Pais nos Hábitos Alimentares das Crianças e Seu Reflexo no Perfil de Transição Nutricional Brasileiro” revelou a influência dos pais nas escolhas alimentares dos filhos.
A pesquisa mostra o papel crucial dos adultos na formação de hábitos e na promoção de um ambiente alimentar saudável, que favoreç desenvolvimento adequado das crianças e previna doenças relacionadas à alimentação.
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Diversos estudos ressaltam também a importância da prática de atividade física dos pais como incentivo à uma vida ativa dos filhos, conforme revisão sistemática publicada em 2018 na Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano. Já em 1991, um estudo demonstrou que crianças de cuidadores fisicamente ativos as crianças tinham 5,8 vezes mais probabilidade de serem ativas também.
Ver os adultos da casa praticando esportes, optando por caminhar em vez de usar o carro e praticando modalidades de exercício em grupo são práticas que incentivam os pequenos. Isso não apenas melhora a saúde física, mas também contribui para o desenvolvimento emocional e social deles.
Segundo a OMS, crianças menores de um ano devem brincar livres no chão por pelo menos 30 minutos do dia, enquanto crianças entre 1 e 4 anos devem se mover por 180 minutos por dia, com diferentes atividades. Por que não dar o exemplo e participar em algumas brincadeiras e exercícios juntos, cuidando da própria saúde física e fortalecendo o vínculo e o relacionamento com elas?
A saúde mental dos pais
Se os adultos gerenciarem o estresse de maneira saudável, praticando o autocuidado e técnicas de relaxamento, buscando apoio profissional quando necessário e incentivando a comunicação aberta sobre emoções, as crianças têm mais chances de aprender a fazer o mesmo.
Por outro lado, se os cuidadores enfrentarem dificuldades para lidar com o estresse e exibirem comportamentos não saudáveis, as crianças podem ser negativamente afetadas e enfrentar desafios semelhantes. Esse é um dos fatores principais para o desenvolvimento de problemas de saúde mental.
A OMS estima que 1 em cada 7 crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos sofrem de condições de saúde mental (e a maioria não recebe tratamento).
De acordo com o estudo Problemas Emocionais e Comportamentais em Crianças: Associação entre Funcionamento Familiar, Coparentalidade e Relacionamento Conjugal, a tensão dos cuidadores está associado a problemas emocionais e comportamentais nas crianças.
Ou seja, a maneira como os pais vivem no geral influencia e muito no desenvolvimento infantil. Por outro lado, ao adotarem práticas positivas, eles não só melhoram seu próprio bem-estar, as interações e relacionamentos com as crianças, mas também se tornam exemplos inspiradores para os mais jovens.
Promover um ambiente familiar saudável, com comunicação aberta e apoio emocional, pode reduzir significativamente o impacto negativo do estresse, contribuindo para um crescimento equilibrado e feliz.
*Ines Hungerbuehler, líder do Time Clínico do Wellz, solução de saúde emocional do Wellhub