Desde os anos 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem nos alertando sobre o aumento da obesidade no planeta. Atualmente, são mais de 300 milhões de pessoas que padecem do estigma e das consequências físicas e psicológicas causadas pelo excesso de peso.
Nos casos em que a obesidade é clinicamente grave ou que tem provocado outros problemas de saúde (diabetes, hipertensão…), a cirurgia bariátrica desponta como um recurso que tem sido cada vez mais utilizado. O número de procedimentos no Brasil está em ascensão, e já somos a terceira nação que mais faz bariátricas no mundo, com quase 90 mil operações por ano (ficamos atrás apenas dos Estados Unidos e do Canadá).
A cirurgia se torna uma opção terapêutica quando outros tratamentos prévios − reeducação alimentar, plano de exercícios físicos, psicoterapia e medicamentos − não apresentam resultados satisfatórios. Os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA consideram o procedimento, quando bem indicado, o tratamento de maior eficácia para a obesidade grave.
O que ainda pouco se fala é que o paciente que será submetido à cirurgia precisará também de um apoio multidisciplinar para se adaptar às mudanças no corpo e no estilo de vida. E um dos pontos centrais aqui é o trabalho com a sua saúde mental.
Lidar com o estado psicológico, que também pode ser afetado pelas restrições à mesa, é importante não só para atingir as metas estabelecidas e entender os percalços no trajeto, como para evitar o reganho de peso depois − hoje há pessoas tendo que repetir a bariátrica.
Precisamos deixar claro que há vários fatores por trás da obesidade, e nem sempre ela é fruto apenas do estilo de vida. Há condições sociais, genéticas e psicológicas associadas ao ganho de peso e, da mesma forma que a origem do problema é multifatorial, o tratamento deve intervir em várias frentes.
O trabalho multidisciplinar realizado entre o cirurgião, o nutricionista e o psicólogo é recomendado desde 2016 pelas autoridades de excelência clínica, mas na prática nem sempre acontece. Nossa orientação é que o paciente comece a ser acompanhado por essa equipe muito antes do procedimento cirúrgico.
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As mudanças de hábito, na realidade, devem se iniciar antes das mudanças corporais e, mesmo após ter conseguido os resultados esperados na redução do peso, cuidados físicos e mentais precisam permanecer pela vida toda.
É com esse suporte e esse outro olhar para o tratamento cirúrgico da obesidade que o paciente poderá não só se adaptar à sua nova rotina como arrecadar mais qualidade de vida.
* Priscila Borrello é psicóloga e mestre em Psicologia da Saúde pela Universidade Europeia do Atlântico, na Espanha