Investir na educação sobre diabetes hoje para proteger o amanhã
O diabetes causa complicações que ameaçam a vida. Só que muita gente não controla a condição direito. Uma parcela, para piorar, nem sabe que tem a doença
Novembro é o mês de conscientização sobre o diabetes. As atividades que ocorrem nesse período ajudam a concentrar a atenção no que é necessário para lidar com a crescente pandemia da doença e garantir que os pacientes recebam os cuidados necessários para manejar sua condição com sucesso, evitando ou retardando complicações debilitantes capazes de ameaçar a vida.
Para marcar a ocasião neste ano, a Federação Internacional de Diabetes (IDF) está focando na educação sobre o diabetes. Um dos objetivos é que os governos aumentem o investimento para fornecer melhor apoio aos profissionais de saúde e pessoas que vivem com o diabetes.
De acordo com a pesquisa mais recente da IDF, o Brasil possui a sexta maior prevalência de diabetes no mundo e a maior na região da América do Sul e Central, afetando mais de 15 milhões de adultos.
Em relação ao diabetes tipo 1, o Brasil está em terceiro lugar no número global de casos e verificou-se, ainda, que a expectativa de vida dessas pessoas é reduzida em uma média de 25,4 ano no país.
Além disso, quase um terço das pessoas que vivem com diabetes no Brasil (32%) não foram diagnosticadas. Portanto, estão em maior risco de complicações como ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, cegueira e danos nos nervos.
Olho no futuro
Em um esforço para ajudar a conter o aumento da doença, a Organização Mundial da Saúde (OMS) acordou um ambicioso conjunto de metas globais de cobertura do diabetes para ser atingido até 2030.
Elas incluem identificar e diagnosticar quatro em cada cinco casos de diabetes e garantir um bom controle de açúcar no sangue e pressão arterial.
Falam também em tratar 60% de todos os pacientes com mais de 40 anos com medicamentos para baixar o colesterol, e garantir que todos os portadores de diabetes tipo 1 tenham acesso à insulina e ao automonitoramento de glicose no sangue.
Isso é importante porque, sem acesso à terapia com insulina e tudo o que é necessário para torná-la bem-sucedida, o diabetes tipo 1 é uma sentença de morte desnecessária.
Atingir esses objetivos demanda muitos esforços. A educação sobre a doença é fundamental para garantir o diagnóstico e o tratamento precoces, e apoiar as pessoas que vivem com o quadro.
+ Leia também: Aprovado o primeiro remédio que retarda o surgimento do diabetes tipo 1
Educação para apoiar o autocuidado
O número de pessoas com diabetes está aumentando rapidamente no Brasil, com a previsão de chegar a quase 20 milhões até 2030. Isso coloca uma pressão adicional sobre os sistemas de saúde, com os profissionais tendo cada vez menos tempo disponível para as consultas.
Em mais de 95% do tempo, as pessoas que vivem com diabetes estão cuidando de si mesmas. Portanto, é fundamental que elas tenham acesso a informações atualizadas e confiáveis para apoiar seus autocuidados e, com isso, prevenir complicações e ter qualidade de vida.
O diabetes muda ao longo da vida, exigindo ajustes. Entender quais são os pontos de atenção e quais medidas tomar é extremamente importante.
Os pacientes precisam tomar muitas decisões o tempo todo, e é necessário garantir que elas sejam conscientes e baseadas em evidências científicas.
Saber o que fazer e quando agir pode proteger contra complicações do diabetes, proporcionando não apenas uma melhor qualidade de vida às pessoas que têm a condição, mas também beneficiando o sistema de saúde brasileiro, já que os altos custos associados ao tratamento e atendimento a complicações secundárias acabam reduzidos.
Para ter ideia, o gasto em saúde relacionado ao diabetes no Brasil ultrapassa 42,9 bilhões de dólares ao ano – o terceiro maior do mundo.
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Acesso à educação para profissionais de saúde
A educação contínua em diabetes também é essencial para os profissionais de saúde no Brasil.
É particularmente importante que médicos de saúde básica, farmacêuticos e agentes comunitários de saúde tenham um bom conhecimento sobre diabetes para que possam identificar pessoas de alto risco e flagrar a doença precocemente.
No momento do diagnóstico, eles devem estar equipados para fornecer os conselhos e as ferramentas certas para apoiar o autocuidado contínuo.
Garantir que recursos educacionais e treinamento estejam disponíveis e acessíveis aos profissionais de saúde permite que seus conhecimentos sobre diabetes estejam atualizados, o que leva ao máximo aproveitamento do tempo (limitado) que têm disponível com seus pacientes.
Um compromisso global contínuo
A IDF está comprometida em ajudar a alcançar as metas globais de cobertura de diabetes da OMS e garantir a prestação de melhores cuidados de diabetes em escala global.
Para facilitar as oportunidades de aprendizado para profissionais de saúde e pessoas que vivem com diabetes, a Escola de Diabetes da IDF (IDF School of Diabetes) oferece cursos online grátis.
No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito, e é por isso que a IDF está convocando a comunidade brasileira com diabetes e o público em geral para pressionar o governo e ministro da saúde para que mais recursos sejam alocados para a educação em diabetes.
De acordo com Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, o diabetes é, hoje, a única grande doença não transmissível para a qual o risco de morrer cedo continua a aumentar. É uma pandemia em curva ascendente e, sem compromisso e investimento adicionais de governos, continuará a crescer.
Ações governamentais precisam ser tomadas agora, para aumentar a conscientização da população e melhorar a formação dos profissionais de saúde a fim de prestar o melhor atendimento possível às pessoas que vivem com diabetes. Precisamos fornecer educação sobre diabetes hoje para proteger o amanhã.
Envie uma carta ao ministro da saúde e demais autoridades através da ferramenta online da IDF: clique aqui.
*Mark Barone é vice-presidente da Federação Internacional de Diabetes (IDF)