Começo o artigo com duas perguntas provocativas: você já esteve no médico desde fevereiro de 2020, quando começou a pandemia? E quanto a seus exames, já fez todos ao longo desse período?
Uma pesquisa feita pela Ipsos, empresa de pesquisa e inteligência de mercado referência no mundo, com mais de 22 800 adultos de 30 países, destaca que um em cada dois brasileiros engordou com a crise da Covid-19. O ganho de peso foi, em média, de 6 quilos.
Para quem não sabe, o excesso de peso e o acúmulo de gordura visceral estão relacionados a um processo inflamatório crônico e sistêmico. À medida que os quilos se acumulam, substâncias inflamatórias são liberadas na circulação e, entre outras coisas, podem desencadear a resistência à insulina, fenômeno que antecede o diabetes tipo 2, e o depósito de gordura no fígado.
Nesse contexto, um estudo publicado pelo Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF) mostra que, no Brasil, cerca de 50% das pessoas entre 20 e 79 anos que têm diabetes não sabem do diagnóstico da doença.
Por isso, insisto: você engordou nos últimos meses? Já checou se não está com diabetes?
Se você ainda não se convenceu a procurar o médico, saiba que a obesidade é responsável por 43% dos casos de diabetes tipo 2 no mundo. Segundo dados da IDF, em 2021, cerca de 6,7 milhões de pessoas morreram no planeta por complicações da condição, 214 mil dessas mortes em nosso país.
+ ASSISTA: Fórum VEJA SAÚDE discute os desafios do diabetes tipo 2 no Brasil
Para sensibilizar a população brasileira a voltar ao médico e a fazer os exames de sangue, a Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e em Obesidade lança a campanha “A Prevenção Salva Vidas”. A iniciativa tem a expectativa de aumentar o número de diagnósticos precoces de diabetes e diminuir o número de complicações e hospitalizações decorrentes da doença, o que ainda contribuirá para desonerar o Sistema Único de Saúde (SUS).
O diagnóstico precoce do diabetes envolve exames de sangue simples. E, seguido do tratamento, previne um rol de sequelas que abalam a qualidade de vida. É o caso das amputações: o Ministério da Saúde calcula que, entre janeiro e setembro de 2021, foram realizadas mais de 12 600 cirurgias para amputação de membros inferiores em razão do diabetes mal controlado (uma média de 46 por dia!).
A perda de visão é outro mal a ser evitado com o diagnóstico mais cedo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 150 mil brasileiros desenvolvem retinopatia diabética por ano, um quadro que, se não tratado a tempo, pode levar à cegueira. E não para aí: diabetes sem controle provoca doenças renais, problemas cardiovasculares, neuropatia…
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Diante desse cenário, é urgente ampliar o diagnóstico e o acesso e engajamento ao tratamento. Algo indispensável para impedir tantas complicações, aumentar a qualidade de vida e reduzir o impacto do diabetes no sistema de saúde. O IDF divulgou ano passado um balanço de que quase 43 bilhões de dólares são gastos com a doença no Brasil. Quanto não seria economizado com a detecção precoce?
Para ajudar a virar o jogo, nossa campanha também lança uma petição pública, buscando o apoio popular a partir de assinaturas para sugerir ao Ministério da Saúde a inclusão do procedimento de medição de glicose na porta de entrada do protocolo de atendimento de urgências e emergências do SUS.
Espero ter convencido você a procurar o médico, a fazer seus exames e a espalhar essa mensagem de conscientização. Ajude a mudar o destino de sua vida e a de tantos outros brasileiros. Prevenir, diagnosticar e tratar o diabetes é também valorizar a saúde como seu maior patrimônio.
* Vanessa Pirolo é jornalista, coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e em Obesidade e coautora do livro Doenças Crônicas – Saiba como Prevenir (clique para comprar)