É possível democratizar o acesso à reprodução assistida no Brasil?
Demanda por tratamentos contra infertilidade aumentou, mas falta de cobertura e preços elevados ainda dificultam o acesso a eles
Segundo um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de uma a cada seis adultos no mundo sofre de infertilidade. Ou seja, estamos falando de 17,5% da população.
Esse dado, somado ao fato de que vemos mais e mais mulheres sendo mães depois dos 30 anos, faz com que as clínicas de fertilização e reprodução assistida sejam cada vez mais procuradas para ajudá-las a engravidar.
Mas a realidade do mercado ainda não é de crescimento, como deveria ser, por conta da falta de informação, linguagem extremamente técnica e preços muito altos, fatores que dificultam o acesso ao tratamento.
Hoje o número de tratamentos feitos no Brasil é da ordem de 200 por milhão de habitantes, enquanto a estimativa da necessidade mundial é de 1500 por milhão.
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Para mudar esse cenário e atender às novas demandas que devem fazer o setor crescer 300% nos próximos dez anos, é imprescindível compartilhar informações de fácil compreensão para quem procura engravidar, além de oferecer tratamentos a custos mais acessíveis e com crédito facilitado.
Do lado das clínicas de reprodução, é importante aumentar o rendimento com protocolos claros e bem desenhados, ganho de escala e programas de treinamento e especialização para médicos e demais profissionais.
Em prol da democratização, precisamos também melhorar as políticas públicas e a oferta de tratamentos para infertilidade no Sistema Único de Saúde (SUS).
Desde 2012, por meio de uma lei, a rede pública oferece inseminação artificial e fertilização in vitro (FIV). Na prática, porém, as burocracias e as filas imensas fazem com que as famílias não consigam seguir em frente com um tratamento.
Para se ter ideia, no Brasil todo, nem 15 hospitais oferecem FIV gratuita a casais com problemas de fertilidade atendidos pelo SUS. Muitas vezes, o tempo de espera, que pode passar de cinco anos, impossibilita a continuidade do processo devido à idade da mulher.
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No cenário dos convênios, convém pontuar que a legislação e as normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não contemplam técnicas como a FIV no rol de procedimentos obrigatórios a serem cobertos pelos planos de saúde, o que só complica o acesso.
Diante disso, cada vez mais empresas privadas têm incorporado tratamentos de fertilização ao pacote de benefícios de seus funcionários.
Outras companhias passaram a oferecer reembolsos para tratamentos de reprodução assistida – como fertilização in vitro, inseminação artificial e até congelamento de óvulos – ou mesmo custear uma parte dos procedimentos para seus colaboradores. Já é uma mudança.
Construir uma família com filhos é um dos maiores desejos de tantas famílias. Para quem tiver dificuldade nisso, me parece que o sonho estará cada vez mais próximo.
*Fabio Liberman é CEO da Clínica Engravida