Doença circulatória de Trump é comum e muitas vezes negligenciada
Entenda o que é a insuficiência venosa crônica, uma condição que não deve ser menosprezada

Uma das frases que mais escuto em consultório é: “Estou com medo de estar com um problema na circulação.” Esse receio faz todo sentido — alterações circulatórias podem levar a quadros sérios, como infarto, AVC, aneurisma ou trombose. Mas o que muitas pessoas não sabem é que temos diferentes tipos de circulação, e que nem sempre o problema está onde se imagina.
Não por acaso, o diagnóstico recente de insuficiência venosa crônica no presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ajudou a ampliar a visibilidade sobre uma condição que, apesar de frequente, ainda é cercada por dúvidas e merece mais atenção e cuidado.
Nem todos os caminhos levam à Roma
Na medicina ocidental, falamos principalmente em dois sistemas: o arterial, que leva o sangue oxigenado do coração aos tecidos, e o venoso, que faz o caminho de volta.
Esse retorno, especialmente nas pernas, desafia a gravidade. Para vencê-la, as veias contam com válvulas internas que impedem o seu refluxo.
Quando o sangue volta no sentido errado
Na insuficiência venosa, essas válvulas, principalmente nas pernas, deixam de funcionar adequadamente, e o sangue passa a refluir, aumentando a pressão dentro das veias — o que chamamos de hipertensão venosa.
Com o tempo, surgem sintomas como dor, sensação de peso, câimbra, inchaço e coceira nas pernas, além de vasinhos ou veias dilatadas. Em estágios avançados, pode haver escurecimento da pele e feridas de difícil cicatrização.
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Muito além da estética
De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, até 80% da população pode apresentar alguma forma leve de insuficiência venosa.
Embora muitas vezes confundida com um problema estético, trata-se de uma condição progressiva e com impacto real na qualidade de vida.
Por que isso acontece?
A principal causa da insuficiência venosa crônica é chamada de primária, ou seja, está relacionada a uma predisposição genética que leva a alterações nas válvulas das veias.
E aqui vale destacar dois pontos: trata-se de uma condição crônica, com a qual a pessoa conviverá ao longo da vida, e os sintomas costumam aparecer mais cedo nas mulheres, por conta da influência hormonal, enquanto tendem a surgir mais tardiamente nos homens.
Existe também a forma secundária, que ocorre após um episódio de trombose venosa. Nesses casos, a veia afetada fica com uma espécie de cicatriz interna, que compromete seu funcionamento.
E tem risco de trombose?
Embora tanto a trombose quanto a insuficiência venosa crônica afetem veias, elas ocorrem em compartimentos diferentes: a trombose geralmente acomete o sistema venoso profundo, enquanto a insuficiência está relacionada ao sistema superficial.
Alguns estudos sugerem um aumento discreto no risco de trombose em pessoas com insuficiência venosa crônica, mas as evidências ainda são limitadas e esse risco é considerado baixo.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é clínico, complementado pelo ultrassom com doppler, exame fundamental que identifica o refluxo venoso e possíveis tromboses.
O tratamento é individualizado e pode incluir mudanças no estilo de vida, uso de meias de compressão, medicações específicas e, em alguns casos, procedimentos minimamente invasivos, como o laser transdérmico ou endolaser.
Cuidar das pernas é cuidar de si
Perceber os sinais precoces e buscar avaliação médica é fundamental. Afinal, cuidar da circulação é cuidar da nossa base de sustentação — as pernas, a saúde e a vida em movimento.