Em 18 de outubro, celebramos o Dia do Médico, uma oportunidade para refletir sobre a evolução dos desafios da nossa profissão e as perspectivas para o futuro.
Vivemos um cenário marcado por novas tecnologias, permeados por vias intensas de comunicação e instigados a responder a demandas de ordem clínica, educacional, administrativa e financeira. Nossa categoria já experienciou momentos com dilemas éticos e profissionais menos complexos.
Como exemplo, cito a história do médico John Brown, britânico do final do século 18, que se ficou conhecido pela teoria da excitabilidade. Segundo ela, todos os tecidos vivos são “excitáveis”. Ele dividia as doenças a partir de estados de excitabilidade em dois grupos, diminuída ou aumentada, indicando bebidas alcoólicas para a primeira condição e ópio para a segunda.
Desde então, a ciência e a medicina progrediram consideravelmente, mostrando a complexidade do corpo humano e de suas relações com o meio ambiente, e a cada dia desenvolvem diagnósticos e terapias que vão muito além do estado de excitabilidade.
Se por um lado os médicos enfrentam obstáculos consideráveis, por outro, despontam avanços promissores que inspiram otimismo. Nas últimas décadas, o avanço da robótica, ciência de dados e medicina de precisão melhoraram tratamentos e exigiram adaptações constantes.
A resistência à incorporação de tecnologias como prontuários eletrônicos e telemedicina, embora persista, começa a ser superada à medida que os benefícios em termos de eficiência, organização e qualidade dos serviços se tornarem mais evidentes. Não esqueçamos: o vetor da entrada de novas tecnologias na jornada assistencial deve sempre apontar para otimização do tempo do profissional para o cuidado, mitigando tarefas burocráticas e repetidas de baixo valor.
Considerando que o volume do conhecimento médico dobra a cada 73 dias, é compreensível o esforço em acompanhar a evolução de descobertas e novas diretrizes médicas. Neste sentido, a educação continuada, atividade intrínseca à categoria, ganha ainda mais importância.
Por outro lado, a qualidade dos cursos de formação de novos médicos precisa ser regulamentada e monitorada, garantindo que os cerca de 500 mil novos médicos previstos até 2035, segundo a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), estejam realmente aptos a exercer a profissão com a qualidade necessária.
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E, ao falarmos de aptidão, também precisamos ter um olhar próximo à saúde mental. Hoje, vemos uma importante sobrecarga de trabalho de alguns profissionais – muitas vezes, em regimes de até quatro empregos – contribuindo, inevitavelmente, para altos índices de burnout e depressão. Não haverá cuidado certo neste cenário.
No Dia do Médico, celebramos não apenas os profissionais que dedicam suas vidas a cuidar da saúde da população, mas também o espírito de inovação e a busca constante por um futuro com cuidados de saúde mais justos, eficazes e, principalmente, mais humanizado.
Retornando mais uma vez para a história da Medicina, Hipócrates (460 a.C. a 370 a.C.) já dizia que “é mais importante conhecer a pessoa que tem a doença do que a doença que a pessoa tem”. As perspectivas são otimistas, e a confiança na capacidade dos médicos brasileiros de superar os desafios e construir um futuro promissor para a medicina permanece inabalável.
*Leonardo Vedolin é vice-presidente da Área Médica da Dasa