Cérebro antigo, mundo moderno
O cérebro que herdou a capacidade primitiva de encarar as coisas como boas ou ruins agora lida com novas complexidades, como a inteligência artificial
O ser humano adora simplificar. Isso não é à toa. Há milhares de anos, quando vagávamos pela savana africana, agir rápido significava viver ou morrer.
Naquele ambiente hostil, distinguir amigos de inimigos e plantas comestíveis das venenosas era fundamental.
Indivíduos que demoravam muito para diferenciar entre animais dóceis dos selvagens foram devorados, e não deixaram descendentes.
Assim, a evolução nos deu um cérebro que categoriza coisas e situações e, rapidamente, decide se elas são boas ou ruins.
Esse modo de pensamento binário ocorre na parte mais primitiva do cérebro, responsável por reações como lutar ou fugir, de forma automática.
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Não há tempo para elocubrações. Tudo em prol da sobrevivência.
Esse tipo de pensamento traz uma sensação de conforto. O cérebro pega um atalho que faz a gente se sentir melhor e simplificar as coisas em categorias gerais.
Tudo fica restrito a dois lados – e você escolhe um. Conservador ou liberal, capitalista ou comunista, pró ou antiaborto, Garantido ou Caprichoso. E a lista continua…
Embora útil no passado, tal característica tem efeito colateral importante: tudo é simplificado em prol da velocidade de ação.
Entretanto, o mundo atual é complexo e cheio de nuances. Sendo assim, se engajar em pensamentos binários leva a erros com frequência.
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Como não envolve o córtex cerebral (área moderna e responsável pelo raciocínio), não ocorre o adequado pensamento crítico, o que leva a ignorar ou não perceber áreas cinzentas de situações multifacetadas.
A complexidade da vida pode assustar. Incertezas causam ansiedade e, com medo, ativamos a parte antiga do cérebro, burlando o raciocínio crítico.
Não é de admirar que, em tempos de crise (sejam sociais, políticas ou econômicas), as pessoas se agarrem à falácia do pensamento binário.
É confortável pensar de forma absoluta (bem versus mal). Contudo, o mundo não funciona assim.
E eis que, no admirável mundo novo, adicionamos mais complicações.
Nos últimos meses, inteligências artificiais ganharam as manchetes e estão suscitando reações diversas: medo em uns, euforia em outros.
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Surfando nessa onda, resolvi perguntar ao ChatGPT como as inteligências artificiais poderiam afetar positiva e negativamente a saúde mental das pessoas.
E, curiosamente, apesar da velocidade de resposta, o chatbot conseguiu sair do “tudo ou nada”.
Respondeu que inteligências artificiais tanto podem “afetar positiva quanto negativamente a saúde mental. Elas podem ser usadas para identificar e tratar doenças mentais, fornecer terapia e aconselhamento, melhorar o gerenciamento do estresse e aumentar a conscientização sobre a saúde mental. No entanto, também podem promover a polarização e a desinformação nas redes sociais, bem como aumentar a ansiedade em relação à substituição de empregos por robôs e automação.”
Se a máquina consegue sair do pensamento dual, seria interessante que nós também saíssemos.
É necessário avaliar com cuidado as múltiplas implicações dessa tecnologia e desenvolver estratégias para o melhor uso delas.
A evolução tecnológica é um caminho sem volta. E tem sido assim há milhares de anos, desde a descoberta do fogo.