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Câncer de mama: quem cuida de quem cuida?

Oferecer às mulheres o suporte, o acolhimento e a atenção integral necessários durante o tratamento do câncer de mama é um desafio de toda a sociedade

Por Maira Caleffi, mastologista*
10 abr 2024, 10h18

O tratamento integral ao câncer de mama requer uma abordagem abrangente, que considere não apenas as necessidades médicas inerentes ao tratamento, como os desafios emocionais, financeiros e sociais enfrentados por quem ingressa na jornada do paciente.

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE), tarefas domésticas e de cuidado com familiares poderiam representar cerca de 13% do PIB brasileiro, se fossem contabilizadas como atividades remuneradas. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, realizada pelo IBGE em 2022, mostra que mulheres brasileiras dedicam quase o dobro do tempo que os homens aos afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas. São 21,3 horas semanais, contra 11,7 horas, em média.

Mas o papel central desempenhado pelas mulheres na estrutura social de cuidados em nosso país não se limita à invisibilização do trabalho não remunerado, colocado em pauta quando refletimos sobre os impactos da economia do cuidado.

+ Leia também: Câncer de mama: visão de uma médica (e paciente)

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que as mulheres representam cerca de 70% da força mundial de trabalho na área da saúde. No Brasil, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) indica que as mulheres representam cerca de 65% dos mais de 6 milhões de profissionais atuantes nos setores público e privado, em atividades de assistência em hospitais e Atenção Básica.

Ao considerarmos tamanho protagonismo da atuação feminina em estruturas vitais para o funcionamento da nossa sociedade, é importante indagarmos: quem cuida de quem cuida?

A dedicação ao cuidado é uma realidade na vida das mulheres no mundo inteiro. Ao atuar profissionalmente em segmentos que também constituem a estrutura social do cuidado, as mulheres acabam acumulando novas camadas de responsabilidades que podem impactar diretamente na atenção ao autocuidado, inclusive com a própria saúde.

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Ampliação da cobertura mamográfica permitiria que mais casos fossem detectados precocemente (Foto: Cristine Rochol/PMPA/Divulgação)

É frequente ouvirmos histórias sobre o quanto o diagnóstico de câncer de mama é tardio ou seu tratamento é interrompido porque a paciente não tem com quem deixar os filhos ou não encontra suporte para se cuidar. O problema esbarra diretamente nas políticas de saúde pública.

Além de oferecermos tratamento, precisamos garantir que elas consigam seguir esse tratamento até o final, de modo que a falta de apoio não seja mais uma barreira a ser enfrentada.

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Isso exige o envolvimento de familiares, comunidades, profissionais de saúde, governos e organizações da sociedade civil para garantir a oferta de atenção integral em todos os aspectos da jornada de tratamento.

Tratar um câncer de mama pode levar a interrupções significativas na carreira das pacientes, que enfrentam dificuldades para retornar ao mercado de trabalho, seja por questões de saúde ou por discriminação no ambiente profissional. Um estudo das universidades de Stanford e Utah e do Centro de Pesquisa Seattle Cancer Care Alliance, nos Estados Unidos, indicou que mulheres têm seis vezes mais chances de serem abandonadas pelos cônjuges após a descoberta de uma doença grave.

+ Leia também: Uma a cada cinco mulheres com câncer de mama triplo-negativo tem metástase

No Brasil, sabemos que o abandono conjugal de mulheres após um diagnóstico de câncer é uma realidade. A falta de apoio impacta diretamente nas condições do tratamento e na qualidade de vida da paciente. É por isso que é tão importante o acolhimento e suporte oferecidos por entidades como as que fazem parte da Rede FEMAMA.

Se nosso país ainda enfrenta gargalos tão significativos no acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama e possui uma estrutura social de cuidados protagonizada em sua maioria por mulheres, a prevenção não é apenas uma estratégia: é uma necessidade de primeira importância.

Não basta apenas formular, regulamentar e implementar políticas de atenção à saúde oncológica que reconheçam e abordem as especificidades contextuais das mulheres. Devemos evitar que elas precisem ser amparadas por estruturas de cuidado que, na prática, não estão disponíveis para elas.

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A ampliação da cobertura mamográfica, por exemplo, permitiria que mais casos fossem detectados precocemente e, por consequência, tratados ainda em fase inicial. O que reduz os impactos do tratamento, aumentando o tempo e a qualidade de vida das mulheres ao mesmo tempo que diminui a sobrecarga do sistema de saúde.

A oferta de políticas públicas que compreendam iniciativas de medicina personalizada, como a testagem genética e genômica, precisam ser consideradas com maior atenção pelo poder público. O que parece um alto investimento em um primeiro momento deve ser encarado como um importante recurso para uma maior eficiência do gasto público.

Isso porque a identificação de mutações que podem causar cânceres femininos permite o estabelecimento de uma rotina personalizada de rastreio, o que amplia as chances reais de cura e reduz os custos por tratamento de casos avançados.

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Cuidar de quem cuida é dever de todos nós. Agir com inteligência, usando as inovações permitidas pela medicina de precisão como aliadas nessa empreitada, pode garantir um futuro mais próspero e com qualidade de vida para as mulheres brasileiras.

*Maira Caleffi é médica especializada em mastologia, fundadora e presidente voluntária da FEMAMA e IMAMA (Instituto da Mama do Rio Grande do Sul). Também é coordenadora do Núcleo de Mama do Hospital Moinhos de Vento.

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