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As dores da alma mudam: os efeitos psicológicos da pandemia

Após trabalho de acolhimento online durante a Covid-19, grupo de psicólogos mapeia as mudanças nos efeitos emocionais provocados pela pandemia

Por Francisco Nogueira, psicólogo e psicanalista*
Atualizado em 5 out 2020, 16h41 - Publicado em 4 out 2020, 13h29

Já é possível afirmar que o impacto psicológico da pandemia na população brasileira será de longo prazo e exigirá da sociedade como um todo – governo, empresas e sociedade civil – uma atenção muito cuidadosa para o tema da saúde mental.

Assim que a quarentena foi anunciada, há mais de seis meses, colocamos à disposição de toda a população a Experiência de Escuta, um serviço de acolhimento virtual gratuito que contou com cerca de 50 profissionais voluntários das áreas da psicologia e da psicanálise. Foram feitos cerca de 3 500 acolhimentos em vídeo, centenas de encaminhamentos, dezenas de reuniões e estudos de casos.

Com todo esse trabalho mapeado, pudemos classificar o impacto da pandemia em fases psicológicas distintas.

Com as primeiras notícias sobre o coronavírus, a Fase 1 dos atendimentos foi marcada por ansiedade e surpresa. O sentimento de impotência e preocupação com o futuro e sustento da família trouxe o agravamento de quadros de transtornos mentais que já eram conhecidos ou que existiam como pano de fundo.

Depois de algumas semanas, veio a sensação de incerteza associada a profunda angústia, o que denominamos Fase 2. A convivência forçada com a família e o prolongamento do isolamento social intensificaram a tensão. Aparecem os primeiros relatos de violência doméstica e casos de pânico. Pessoas que nunca tinham tido contato com psicólogos ou psicanalistas começam a procurar a Experiência de Escuta, tendência que se manteve até o encerramento dos trabalhos.

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Com a Fase 3 vêm uma saturação e o agravamento dos transtornos mentais, que exigem encaminhamentos a tratamentos de longa duração. A depressão e o sentimento de raiva emergem com força e o pânico é relatado com frequência. Observamos um boom no uso de álcool e drogas e pensamentos suicidas. A desordem psíquica se agrava, assim como os relatos de violência dentro de casa.

Na Fase 4, a evolução psicológica muda de rumo. Vem a descompressão associada à esperança trazida pela flexibilização social e pelo possível desenvolvimento de uma vacina. Aos poucos, o medo provocado pelas situações forçadas de aglomeração dentro do transporte público e na convivência nos locais de trabalho é substituído pelo processo psíquico da negação. Os discursos se transformam e passam a fazer pouca referência aos perigos da Covid-19.

Nesse ponto é importante dizer que, num cenário em que a volta ao trabalho vem carregada de estresse e em que o home office pode se estabelecer de forma definitiva, o mundo corporativo não pode se isentar. Programas de preparo emocional para gestores e colaboradores e novos parâmetros de produção e relações mais humanizadas serão prioritários neste momento.

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Ainda precisaremos lidar com a Fase 5, que envolverá o trabalho sobre o trauma e sobre o luto mal elaborado. Entretanto, o fato é que ainda não conhecemos os contornos finais da batalha contra a Covid-19. Mas é incontestável que a saúde mental tenha entrado no radar de nossas prioridades. E é assim que ela deve ser tratada pelas empresas, pelo governo e pela sociedade como um todo.

* Francisco Nogueira é psicólogo e psicanalista, membro do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e roteirista do canal Relações Simplificadas 

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