Ainda vamos conviver com a pandemia em 2022?
Infectologista discute essa questão e elenca as variáveis capazes de definir os rumos globais da pandemia

A partir do segundo semestre de 2021, com o avanço da vacinação e a melhora progressiva nos números da pandemia, os brasileiros, esgotados, começaram a se perguntar: em 2022 estaremos livres da Covid-19? Voltaremos a um estado de normalidade? Ou não?
Essas também são indagações que reverberam no cérebro de infectologistas, epidemiologistas e outros estudiosos pelo mundo todo. Eles se debruçam sobre dados, tendências e descobertas científicas e se envolvem em debates inesgotáveis, chegando muitas vezes a conclusões mutantes, tais quais as variantes do vírus que brotam por aí.
Independentemente do cenário, as seguintes variáveis é que vão definir os rumos globais da pandemia:
- Disponibilidade de vacinas, incluindo as doses de reforço, sobretudo nos países em desenvolvimento, potenciais celeiros de variantes;
- Nível de adesão aos imunizantes;
- Duração da resposta imunológica induzida pela vacina ou pela infecção em si;
- Surgimento, ou não, de variantes mais transmissíveis, agressivas e/ou que escapem da nossa imunidade;
- E a maior ou menor capacidade de os gestores públicos coordenarem movimentos de flexibilização ou recrudescimento do isolamento social com base nos indicadores epidemiológicos, bem como a resiliência e a disposição dos cidadãos a respeitar essas normas.
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Questões de ordem política, religiosa ou filosófica terão de ficar em segundo plano para que, de forma racional, possamos caminhar a passos largos e evitar pagar um preço inflacionado de ondas sucessivas de Covid-19. Isso exige maturidade dos governantes!
Em um cenário ideal, com o avanço da vacinação e do controle do vírus, migraremos para uma endemia. Ou seja, vamos conviver com baixos níveis de coronavírus circulantes indefinidamente, mas sem risco de saturar o sistema de saúde e com tratamentos capazes de reduzir formas graves e mortes.
Nesse contexto, reforços vacinais em intervalos regulares poderão ser necessários, mas o fato é que ainda não sabemos. Retomaremos uma normalidade já em 2022? Provavelmente, não.
Idosos, obesos, imunossuprimidos, entre outros, continuarão sendo grupos de risco para quadros mais severos da doença até que se conheçam melhor as respostas imunológicas à infecção.
De forma geral, iremos correr riscos relativamente altos se subestimarmos o vírus, que segue à espreita. O fluxo da Covid-19 na Europa é um aprendizado contínuo, e perder vidas como ocorreu em 2020 e 2021 já seria inaceitável.
O legado de ensinamentos desta pandemia nos incita a enfrentá-la com responsabilidade. Seguir a ciência com cidadania e implementar ações políticas nesse sentido nos ajudará a superá-la mais rapidamente. Tomara que seja já em 2022!
Estêvão Urbano Silva Filho é infectologista, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e consultor do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 de Belo Horizonte