Com a tendência de adiar tanto a paternidade quanto a maternidade, a questão da influência da idade masculina na reprodução tem sido mais discutida.
A literatura científica nos últimos vinte anos sugere que o aumento da idade paterna está associado com baixa fertilidade, aumento de complicações associadas à gestação e de desfechos adversos na prole, mesmo corrigindo o fator feminino nas avaliações.
Não há, contudo, um consenso de qual seria o valor de corte para a idade paterna avançada: 40, 45 anos? A idade materna é considerada avançada a partir dos 35.
Um estudo publicado na Obstetrics & Gynecology mostrou que entre 18 e 28% dos homens entre 35 e 40 anos não conseguiam uma gravidez espontânea com suas parceiras em 12 meses de tentativas.
Já uma pesquisa brasileira de 2008 aponta que a probabilidade de um casal apresentar uma demora superior a 12 meses para engravidar praticamente duplica de 8% quando o homem tem 25 anos para 15% quando a idade é superior a 35 anos.
Vários estudos têm relacionado a idade paterna avançada com abortamento, parto prematuro, baixo peso ao nascer e morte intraútero.
Quando associadas a síndrome metabólica e a obesidade paterna, esses riscos podem ser maiores, assim como tem sido descrito em estudos a elevação da chance em pais maiores que 45 anos de gerar filhos com autismo, esquizofrenia e transtorno bipolar.
Divisão celular
As mulheres nascem com uma quantidade pré-definida de óvulos, que vão sendo utilizados durante a vida e, depois, se esgotam.
No caso dos homens, é diferente, pois eles seguem produzindo espermatozoides ao longo da vida. Mesmo assim, a fertilidade cai com o tempo.
Uma das hipóteses aceitas para explicar isso é que, embora refaçam a espermatogênese a cada 85 dias, isto também significa divisões celulares persistentes neste processo ao longo destes anos, que expõem os espermatozoides a eventuais erros de duplicação do DNA e à fragmentação deste conteúdo.
Por exemplo, aos 20 anos um homem terá tido cerca de 150 divisões, aos 40 serão 610 e em torno de 70 anos terão aproximadamente 1.300 divisões celulares, assumindo que a puberdade tenha ocorrido com 15 anos.
A genética da fertilidade
Cada um de nós tem 46 cromossomos (estruturas que organizam os genes), divididos em 23 pares, nomeados de 1 a 23. O par 23 define o sexo do embrião.
A presença de dois cromossomos X no par 23 indica um bebê do sexo feminino, já o masculino resulta da presença de um cromossomo Y.
Cada cromossomo traz um conjunto de genes e cada gene constitui uma sequência de DNA, sequências que funcionam como distintos manuais operacionais para o desenvolvimento do organismo.
As extremidades dos cromossomos são compostas por uma sequência genética cuja função se restringe a proteger as informações ali contidas, que alguns já compararam às pontas de plástico dos cadarços do tênis. Estes protetores são chamados de telômeros, e sofrem desgaste com o tempo.
Conhecemos alterações do Y que definem dificuldade de engravidar, como as microdeleções ou perdas de pequenos segmentos em uma região do código genético deste cromossomo, definida como fator para azoospermia (AZF).
Esta região contém um gene ou um conjunto de genes necessários para produzir espermatozoides, e sua alteração pode tanto reduzir quanto zerar de vez a contagem de espermatozoides no homem.
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Mas não é apenas isto. O cromossomo Y é o menor dos cromossomos, e só recentemente foi analisado em detalhes por um consórcio de pesquisadores.
Seu sequenciamento completo foi publicado na revista Nature neste ano. Foi o último dos cromossomos onde se obteve esta informação, de telômero a telômero.
Estão resolvidos os problemas em relação à fertilidade masculina? Não, mas seguramente algumas lacunas importantes serão preenchidas.
* Maria do Carmo Borges de Souza, é diretora médica da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana e membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA)