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A busca desenfreada pela cura da esclerose múltipla pode virar golpe fatal

Terapias experimentais prometem a cura da doença e enganam pacientes, que colocam tudo à venda para custear tratamentos

Por Jefferson Becker, neurologista*
11 fev 2023, 09h50
hipnose contra a esclerose múltipla
Hipnose é um exemplo de terapia alternativa vendida como aliada contra a esclerose múltipla. (Foto: iStock/SAÚDE é Vital)
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Como pesquisador, especialista e professor de neurologia, sei que muitas pessoas procuram diariamente a cura da esclerose múltipla (EM), seja com o apoio de óleos, terapias experimentais e por aí vai. Como presidente do Comitê Brasileiro de Pesquisa e Tratamento em Esclerose Múltipla, acompanho diariamente atualizações sobre o avanço de estudos que podem ser benéficos aos pacientes portadores da doença. Porém, fico preocupado com a exposição de alguns profissionais que fazem anúncio na internet sobre a cura do quadro.

Quando um paciente recebe o diagnóstico de esclerose múltipla, surgem várias dúvidas e reações. Mas, como médicos, nossa obrigação é orientar os pacientes da melhor forma, dando início imediato ao tratamento que, atualmente, é realizado com medicações imunossupressoras ou imunomoduladoras.

Essas drogas têm como principal objetivo frear o avanço da doença e controlar os surtos que podem acontecer.

Um dos fatores que conta muito nesse momento é o explicar para o paciente que, infelizmente, a medicina não descobriu uma cura para a esclerose múltipla. Por mais que esse seja um desejo de todos nós, ainda não foi possível.

+ Leia também: O que é a esclerose múltipla

Só que, hoje, é comum abrir qualquer página na internet e encontrar muitas promessas de tratamento de doenças raras, como a esclerose múltipla.

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Os pacientes que acabam caindo nessa enganação podem perder casa, carro e reservas de emergência para custear uma cura que, até o momento, não existe e não tem nenhuma base científica.

Além disso, cair num golpe assim pode prejudicar a vontade do paciente de lutar contra a doença. Veja: qualquer pessoa que seja enganada em uma situação casual já fica totalmente abalada, certo? Imagine, agora, alguém que luta há mais de 20 anos contra uma doença que lhe deixou várias sequelas reagindo a golpes que, de certa forma, se tornaram sua maior esperança? Você não desanimaria?

Quando ações alternativas são expostas como verdades, além de colocar em risco quem está disposto a enfrentar esses procedimentos, coloca em jogo a validação científica que existe sobre outros tratamentos.

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Isso porque, na visão do paciente, vale mais a pena custear procedimentos alternativos, que, muitas vezes, tem um valor exuberante, mas prometem valer cada centavo pago, do que continuar com a prescrição médica que tem se mostrado eficiente, mas cujo objetivo é frear o avanço da doença e fazer com que a pessoa consiga ter uma convivência normal com o diagnóstico (afinal, vale frisar: não existe cura).

Ao acreditar nesse tipo de informação, ou melhor, desinformação, a pessoa passa a fazer parte de experimentos que não tem nenhuma relevância para a esclerose múltipla nem eficiência comprovada cientificamente.

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É o caso da hipnose, que promete aos adeptos um estado de relaxamento que é capaz de amenizar as dores crônicas causadas pela doença, ou da medicina ortomolecular, que tem como objetivo tratar doenças (como obesidade, diabetes e artrite) através de uma alimentação saudável e do uso de suplementos nutricionais, entre outras ações consideradas como medicina integrativa.

Muitos pacientes inclusive pausam o tratamento adequado, baseado em remédios de alto custo, para conseguir juntar o dinheiro necessário para investir nesses procedimentos totalmente questionáveis. Nós, da área da saúde, sabemos bem quais as perigosas consequências dessa pausa – que podem até ser fatais.

Por isso, reforço: não acredite em tudo o que está na internet. Da mesma forma que ela é usada para o bem e a evolução da humanidade, também é utilizada para fazer mal e enganar e manipular pessoas em situações vulneráveis, que buscam uma única coisa: a cura do seu quadro clínico.

*Jefferson Becker é neurologista, professor em neurologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e presidente do Comitê Brasileiro de Pesquisa e Tratamento da Esclerose Múltipla (BCTRIMS).

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