Criado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL), o Novembro Azul, o maior movimento em prol da saúde do homem brasileiro, comemora dez anos em 2021. Além de destacar a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata, seu objetivo hoje é alertar para a relevância do cuidado integral e da necessidade de incorporar hábitos saudáveis, proteger o coração, atentar para os demais tipos de câncer e não deixar de fora o bem-estar mental.
O câncer de próstata, o mais comum entre os homens, representa 29% dos diagnósticos da doença no país e, no período de 2020 a 2022, 65 mil novos casos anuais devem ser registrados no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). O Novembro Azul provoca e faz um chamamento para mudarmos essas estatísticas recorrentes e crescentes.
Um dos alertas é o fato de que os homens negros têm o dobro de chances de desenvolver a doença e, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (2019), 56,10% das pessoas no país se declaram negras —19,2 milhões se colocam como pretos e 89,7 milhões se dizem pardos e, para o IBGE, negros são a soma de pretos e pardos.
Se os homens são 49,2% da população brasileira, temos um universo considerável para impactar com informações qualificadas, como a de que os exames para diagnóstico precoce devem ser iniciados aos 45 anos entre essas pessoas.
Além desse grupo e dos que têm histórico familiar da doença, que também precisam começar a fazer os exames aos 45 anos, e dos demais homens que devem iniciar essa rotina de cuidados aos 50, nosso olhar está voltado a crianças, adolescentes e adultos jovens, pois temos de mudar para valer as estatísticas agora e lá na frente.
+ LEIA TAMBÉM: Pandemia afastou ainda mais os homens do médico
A educação para a saúde e não só para o câncer de próstata é fundamental, assim como trabalhar a prevenção de doenças que podem ser evitadas com mudanças de atitudes e lembrar que enfermidades por causas genéticas poderão ser menos agressivas se diagnosticadas precocemente.
Neste ano, o Núcleo de Pesquisa do LAL fez um estudo com 1 800 homens em idades entre 18 e 65 anos de Brasil, Argentina, Colômbia e México e identificou que 62% dos brasileiros e 73% dos latino-americanos só visitam o médico quando têm sintomas insuportáveis. Além de assustador, o dado mostra que a cultura da prevenção não está arraigada na América Latina. Há muito espaço para a conscientização sobre autocuidado.
Outros dados chamaram a atenção para que ações sejam tomadas a fim de atrair e acolher os homens nos sistemas de saúde: 32% dos brasileiros e 40% dos argentinos, mexicanos e colombianos sugeriram que seria ideal ter um local de atendimento mais adequado para receber os homens e 28% dos brasileiros e 49% dos latino-americanos recomendaram que o horário de atendimento fosse ampliado.
Sobre o câncer de próstata, 54% dos brasileiros e 52% dos homens dos outros três países pedem que o diagnóstico seja mais ágil, assim como 55% dos brasileiros e 48% dos argentinos, mexicanos e colombianos demandam celeridade no início do tratamento.
Trabalho em rede para mudar o cenário
Desde 2011, o LAL trabalha o Novembro Azul com a mentalidade de atrair cada vez mais apoiadores. Essa foi a chave do sucesso para que ele se tornasse uma ação de domínio público, encampada por gestores de saúde públicos e privados, empresas, ONGs, sociedades de especialidades médicas e o público leigo, que entenderam o valor da campanha.
+ LEIA TAMBÉM: Atenção, homens: ir ao médico precisa virar hábito
Esse esforço colheu frutos, como indica nosso último estudo ao evidenciar que 77% dos homens no Brasil sabem que a melhor forma de monitorar a saúde da próstata é pelo exame de toque retal.
Eles já reconhecem a importância do exame a ponto de perder o medo, a vergonha e a preocupação com o julgamento dos amigos. Apenas 4% dos entrevistados temem a dor do exame e 2% têm receio do resultado positivo. Só 3% dos brasileiros dizem que o exame seria motivo de piada entre os colegas.
Mas há muito a evoluir, pois 61% dos brasileiros em idade acima de 45 anos nunca fizeram o exame de toque. E, pasmem, não foi por falta de informação, mas por falta de indicação médica. Isso mostra que temos mesmo de trabalhar em rede.
É mandatório assumir que as agendas individuais (e setoriais) não ajudam nossa nação a avançar rumo às soluções para melhorar o cenário da saúde do homem, principalmente agora no pós-pandemia, quando há represamento de consultas e diagnósticos e tratamentos interrompidos.
Para os dez anos do Novembro Azul, a agência Almap/BBDO criou o slogan “Homem: Cuide do que é seu”. A objetividade da mensagem nos impactou, porque precisamos justamente de simplicidade e foco ao passar o recado e ampliar nossa missão. Em 2021, queremos chamar ainda mais a atenção dos homens que ainda terceirizam para as mulheres a tarefa de zelar pela saúde. Eles devem assumir, definitivamente, a responsabilidade por cuidar de si mesmos.
* Marlene Oliveira é presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida