Paul McCartney, Meryl Streep, Fernanda Montenegro, Madonna… É grande a lista de famosos (e anônimos também) do time dos 60+ que nos mostram como viver essa fase da vida longe do estereótipo do idoso dependente, inativo, sem mais projetos e objetivos no horizonte.
Muita gente imagina que essas pessoas são privilegiadas pela genética. Uma parte pode ter, sim, os genes jogando a favor. Mas a literatura científica mostra que 70% do envelhecer saudável está associado a bons hábitos e apenas 30% à genética.
O ideal é começar cedo a fincar os pilares preconizados pela medicina do estilo de vida: dieta equilibrada, atividade física, controle do estresse, sono de qualidade, evitar consumo/exposição a substâncias tóxicas (incluindo fumo, álcool, drogas) e cultivar os relacionamentos sociais/interpessoais.
Mas, para quem deixou o tempo passar, há uma boa notícia: nunca é tarde para incorporar essa receita na rotina.
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Um estudo do Carle Illinois College of Medicine apresentado no congresso da Sociedade Americana de Nutrição de 2023 constatou que a adoção desse conjunto de bons hábitos depois dos 40 anos aumenta o tempo de vida, em média, em 24 anos para homens e em 21 anos para mulheres em relação aos indivíduos que não adotam nenhum desses hábitos.
Como reforça o Dr. Marcelo Altona, geriatra do corpo clínico do Einstein, intervenções relacionadas aos hábitos de vida fazem a diferença a qualquer momento que sejam introduzidas. “Se parar de fumar depois dos 50, vai ter benefício, se iniciar atividade física aos 75 também, se começar a cuidar das doenças crônicas idem”, diz ele, ressaltando, porém, que os melhores bônus estão reservados para quem adota os bons hábitos desde jovem.
Além deles, o envelhecimento saudável envolve uma mudança de mentalidade, capaz de nos tornar mais resilientes e adaptáveis às mudanças físicas, sociais e tantas outras que chegam com o passar do tempo.
Envelhece melhor quem reconhece que envelhecer é um processo natural e que a vida continua até que a morte nos separe dela. Também é importante reconhecer que isso não significa ausência de doenças, mas sim mantê-las sob controle com acompanhamento médico, além de fazer adaptações às novas condições e aos limites físicos e da mente.
Um aspecto importante é buscar atividades que permitam não só manter o corpo ativo, mas também os relacionamentos, ou se inserir em novas redes sociais. É comprovado que envelhece melhor quem mantém fortes laços comunitários.
E, para exercitar o cérebro (além da atividade física e interações sociais que marcam pontos também para a saúde mental), vale desafiar-se: aprender um novo idioma, um instrumento… e até transformar em um pequeno negócio o dom para fazer doces ou trabalhos manuais.
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Dons que ficaram adormecidos durante a vida profissional podem ser retomados. Não custa lembrar que Cora Coralina publicou seu primeiro livro aos 75 anos. Pequenos planos e objetivos também contam: planejar um jantar com a família, uma viagem para ver o filho que mora numa cidade distante, visitar a amiga com quem você só tem conversado virtualmente…
Muito se fala sobre as blue zones (zonas azuis), cinco regiões do planeta onde vivem comunidades cujo tempo de vida médio é de 90 anos, além de possuírem baixos índices de doenças comuns entre os mais velhos (Loma Linda, EUA; Nicoya, Costa Rica; Sardenha, Itália; Ikaria, Grécia; e Okinawa, Japão).
São lugares em que as boas práticas preconizadas pela medicina do estilo de vida fazem parte da cultura e do dia a dia das pessoas. Se não é possível nos mudarmos todos para envelhecer em uma dessas localidades, podemos trabalhar, individual e coletivamente, para produzir nossa blue zone no lugar onde estamos.
Vale a pena sob todas as perspectivas: será uma vida não só cotidianamente mais saudável, como também mais repleta de afetos e sentidos para o viver.