A presença de manchas brancas na pele, relacionada à falta de pigmentação, é associada a duas condições clínicas: o vitiligo e o piebaldismo, que é menos conhecido.
Embora sejam semelhantes na aparência, as duas doenças apresentam causas diferentes e também se desenvolvem de maneiras distintas.
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O que é piebaldismo?
O piebaldismo é uma doença rara de origem genética. Ele causa manchas brancas na pele e no cabelo, em geral desde o nascimento. Isso porque essa alteração genética diminui a quantidade de melanócitos, as células que produzem melanina (pigmento que dá cor à pele), em certas partes do corpo.
“Ao nascer, observam-se as manchas que não se alteram no decorrer da vida“, afirma a dermatologista Patricia Karla de Souza, do Hospital Israelita Albert Einstein. Essa, aliás, já é uma diferença para o vitiligo, condição na qual as lesões podem migrar e se expandir com o tempo.
As manchas do piebaldismo até podem surgir no tronco e nos braços e pernas, mas elas são mais comumente observadas no centro da testa. “É uma mancha branca por ausência total de pigmentação, de formato triangular, que se segue a uma mecha branca nos cabelos“, descreve Patricia.
Até por causa dessa mecha branca, o piebaldismo é associado à Cruella, personagem do desenho animado “101 Dálmatas”, da Disney.
Além da ausência total de pigmentação da pele e o acometimento das lesões na testa em 90% dos casos, não existe nenhum outro sintoma associado ao piebaldismo. “Essa doença não leva a nenhum dano maior no organismo”, pontua Patricia.
O principal fator de risco é a presença da alteração genética na mãe ou no pai. “Quando um dos pais carrega a doença, há 50% de chance de um filho nascer com a mesma condição”, diz a dermatologista.
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Qual a diferença entre vitiligo e piebaldismo?
Ok, tanto o piebaldismo quanto o vitiligo estão associados a manchas brancas na pele e descoloração do cabelo ou pelos causadas pela ausência de produção de melanina.
Contudo, as causas das duas condições não são iguais, como explica o dermatologista Thales Bretas, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). “O piebaldismo surge por questões genéticas, e as alterações são percebidas ao nascimento ou na primeira infância. Já o vitiligo tem origem autoimune“, pondera.
Ou seja, no vitiligo, o próprio sistema imunológico da pessoa ataca as células responsáveis pela produção de melanina. Como essa agressão varia de intensidade dependendo da pessoa e de situações do dia a dia – inclusive por questões emocionais – o desenvolvimento das manchas acontece ao longo da vida.
Sim, elas podem surgir na infância, adolescência ou fase adulta. Além disso, a despigmentação às vezes aumentam e acometem outras áreas do corpo com o passar do tempo – algo que não acontece no piebaldismo.
Mas há uma semelhança importante de reforçar: tanto o piebaldismo como o vitiligo não são contagiosos.
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Como é feito o diagnóstico e o tratamento de piebaldismo?
O diagnóstico é feito pelo dermatologista através de um exame clínico completo e avaliação do histórico familiar.
“A detecção é realizada através da análise das lesões brancas características, que podem ser verificadas também com a lâmpada de Wood [luz negra] em consultório”, diz Bretas.
O tratamento pode ser feito com o chamado transplante autólogo de melanócitos. “Ele consiste em retirar células da pele de uma região normalmente pigmentada da própria pessoa e implantar na área da mancha. Pode ser necessário mais de uma sessão para atingir um resultado estético satisfatório”, pontua o dermatologista.
No entanto, tanto nessa condição como no vitiligo, o tratamento depende da vontade da pessoa. Se ela está confortável, não necessariamente precisa se submeter aos procedimentos. Uma conversa franca com o especialista é primordial, até porque, às vezes, um pouco de maquiagem e tintura dos cabelos já satisfazem a pessoa.
Agora, os pacientes devem tomar cuidados com relação à proteção da pele, em especial nas regiões sem melanina, que é uma espécie de protetora natural contra o sol. Deve-se resguardar bem a pele afetada, com filtro ou uso de roupas e chapéu.
Importância da conscientização
Condições que afetam a pele podem trazer prejuízos para a autoestima e saúde mental dos indivíduos devido à desinformação e ao preconceito. A ideia equivocada de que piebaldismo ou vitiligo possam ser transmitidos de uma pessoa a outra por contato fomenta a discriminação.
Por ser uma doença que acompanha as pessoas desde o nascimento, os médicos reforçam que as características do piebaldismo sejam abordadas desde cedo, inclusive no ambiente escolar.
“A população precisa ser constantemente educada sobre as diferenças naturais que existem entre cada indivíduo. Nenhuma pessoa é igual: há variações quanto a cor, altura, peso, cabelos… E essas diferenças não fazem nenhuma pessoa melhor ou pior do que a outra”, conclui Patricia.