Indispensável para muita gente na passagem de um ano para o outro, a romã sopra mesmo a favor do nosso sistema cardiovascular. Sim, a literatura científica desfila evidências sobre seus efeitos protetores no controle do colesterol e da pressão arterial e na defesa do endotélio, o tapete de células que recobre o interior dos vasos sanguíneos.
Pesquisadores associam tais benefícios aos compostos fenólicos e celebram um trio de ácidos: o gálico, o elágico e o protocatequínico. Outro amigo do peito vem da família das gorduras e atende pelo nome de ácido graxo punícico.
Toda essa riqueza está nas sementes translúcidas, aromáticas e de tons avermelhados, que, inclusive, têm essa cor pela alta concentração de antocianinas, grupo de pigmentos antioxidantes. Para muitos, esses grãos são quase que como pedras preciosas, pequenos rubis.
Já a casca e, logo abaixo, aquela camada branca que os especialistas chamam de mesocarpo, apresenta a punicalagina, de ação anti-inflamatória.
Embora a classificação seja encontrada nos livros de química, seus efeitos aparecem, há muito tempo, nas receitas populares de gargarejos, passadas boca a boca, de geração em geração.
O termo punicalagina, assim como punícico, dá a pista sobre o nome científico da romãzeira, que é Punica granatum. Acredita-se que o berço da espécie seja uma região árida do Mediterrâneo, entre a Europa e a Ásia. Justamente por ser originária de desertos, teve que se adaptar às mudanças bruscas de temperatura, acumulando tantas substâncias protetoras.
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Figura mitológica
Além de frequentar a mesa, a romã ganhou lugar de destaque na mitologia. Uma das histórias remete à criação das estações do ano. Diz a lenda que Perséfone, divindade de rara beleza, foi raptada por Hades, o senhor do submundo. Ao ser libertada, antes de voltar à Terra, comeu o fruto oferecido por seu algoz.
Assim se viu obrigada a passar três meses, ou o equivalente ao período do inverno, ao lado de Hades na Morada do Mortos. Já nos tempos de primavera, verão e outono, estaria livre.
Também existe o mito de que surgiu uma romãzeira no local onde Afrodite, a deusa do amor, teria pisado pela primeira vez, vinda do mar. A fruta passou a ser símbolo da fecundidade e, em algumas culturas, era utilizada em rituais para evocar fertilidade e fartura.
Os antigos romanos preparavam uma bebida alcoólica, semelhante ao vinho, para algumas dessas ocasiões. Sementes do fruto também marcavam presença em festas de casamento.
A romã aparecia ainda em bordados dos mantos de sacerdotes, castelos, templos, taças e até nas coroas dos soberanos. É bastante mencionada em textos sagrados.
Em alguns países, inclusive por aqui, no Dia de Reis, que é celebrado em 6 de janeiro, existe a tradição de guardar caroços na carteira para que não falte dinheiro.
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Da entrada à sobremesa
Trazida pelos portugueses, a espécie se deu bem no Brasil. Cresce em muitos quintais, sobretudo o tipo de casca mais amarelada.
Versátil na cozinha, passeia pelas mais diversas preparações, desde copos de sucos até em receitas elaboradas, seja salgadas ou doces.
Salpicada em saladas, sobremesas, na versão xarope – a grenadine – e como ingrediente de molhos, faz bonito na culinária. Além de acrescentar sabor e aromas, enfeita qualquer prato.
Ainda sobre bonitezas, a música para esta coluna homenageia a belíssima cidade espanhola que leva o nome da fruta, Granada.