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Pediatras e outros experts da Sociedade de Pediatria de São Paulo discutem e ensinam medidas básicas para a criançada se desenvolver com saúde
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Álcool na adolescência: como lidar com isso?

Médico traz as principais orientações para prevenir esse problema bastante comum entre os jovens brasileiros

Por Dr. João Paulo Becker Lotufo, pediatra*
Atualizado em 2 abr 2019, 17h43 - Publicado em 10 jul 2018, 18h00

A bebida alcoólica representa um risco enorme para a nossa sociedade. É responsável, direta e indiretamente, pela maior parte das mortes entre adolescentes e causa de parcela expressiva dos problemas sociais. O momento da iniciação na bebida alcoólica é um dos pontos mais preocupantes. E a falta de conscientização a respeito — por parte dos pais e mesmo de alguns pediatras — tem chamado a atenção da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Em estudo piloto realizado no Ambulatório de Pediatria do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, mostrou-se que o consumo de álcool no ambiente familiar é bastante elevado (43,5%). A bebida alcoólica é seguida, nesse sentido, pelo cigarro (34,5%), pela maconha (27,5%) e pelo crack (11,5%). Os números obtidos em nossa pesquisa preocupam ainda mais porque indicam que o início no uso de álcool e outras drogas começa dentro de casa.

A popularidade da bebida alcoólica se amplifica quando levamos em conta que muita gente não associa a cerveja ao álcool. A cerveja está fora, inclusive, da lei de propaganda que regula as bebidas alcoólicas — isso porque tem menos de 13 graus de teor alcoólico, limite a partir do qual se proíbe a veiculação de anúncios de bebida alcoólica na mídia. Sabemos que a propaganda nos horários em que as crianças assistem TV é fator de iniciação no uso precoce do álcool.

Diante disso, quando me peguntam a partir de que idade devemos conversar com a família a respeito de álcool e drogas, respondo que isso deve começar desde a fase em que o bebê está no útero. Sim, se existem pessoas que têm problema com álcool no ambiente familiar, o médico precisa discutir isso com os pais. E estes com os filhos.

Se a mãe for alcoolista, precisamos alertar e intervir porque o risco de síndrome alcoólica fetal é sério e irreversível. O álcool é um perigo na gestação. Hoje temos visto adolescentes grávidas só diagnosticadas como tal no terceiro ou no quarto mês de gestação. Muitas estão ingerindo álcool sem saber de sua condição, expondo bebê e elas próprias a danos.

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Quando pegamos a faixa etária de 17 anos, já temos 60% de experimentação de álcool nos jovens pesquisados em dez escolas do entorno da USP. O uso começa por volta dos 10 anos e em 20% dos casos já temos usuários de mais de uma dose diária. Isto é, já são dependentes. Se há consumo abusivo de álcool ou outras drogas na família, mais precoce tende a ser a iniciação da criança. E, para qualquer droga utilizada antes da maturação do cérebro (ao redor dos 21 anos), eleva-se o risco de dependência e problemas ligados a ela.

Estar ciente disso e detectar as possíveis drogas lícitas ou ilícitas que entram em casa é fundamental para prevenir e saber como lidar com o uso do álcool na adolescência. Geralmente os pais só ficam sabendo que os filhos bebem quando estes chegam alcoolizados em casa.

Não é possível que tenhamos casos de coma alcoólico aos 14 ou 15 anos nos consultórios pediátricos, consequência de jovens se embriagando em festas de 15 anos com bebidas oferecidas pelos próprios pais do aniversariante! Colocar em pauta essa discussão e incentivar a troca de ideias com a família foi o único fator positivo para reduzir a experimentação de álcool e drogas pelos jovens, segundo nossa pesquisa conduzida em escolas do Butantã, na capital paulista — esse fator superou a presença de espiritualidade, prática de esportes e participação em atividades culturais.

Orientações na prática

Listo, a seguir, nove recomendações para um bom aconselhamento voltado à prevenção no uso de álcool e outras drogas na adolescência. Lembre-se de que álcool é droga também — e cerveja tem álcool.

  1. Pais, estejam sempre ao lado dos filhos. Isso vai levá-los a escutar vocês.
  2. Os filhos se espelham no comportamento dos pais. Reflita sobre a oferta de bebidas que você disponibiliza nas festas e encontros em família.
  3. Discuta os assuntos em família. Aproveite filmes, novelas, notícias de jornal e leituras para falar sobre a prevenção ao uso de drogas. Aquele sermão caso o filho chegue embriagado(a) de uma festa pouco adianta.
  4. Não queira de imediato fazer a dosagem de drogas em seu filho. Muito melhor é gastar esse tempo em conversa e prevenção.
  5. Traga os amigos dos seus filhos para dentro de sua casa.
  6. Anote o que discutiu com eles para que você possa retomar o aconselhamento num bate-papo próximo e, assim, aprofundar o compartilhamento de informações e reflexões com a família.
  7. Não importa a idade do seu filho ou filha. O aconselhamento se inicia ainda no útero. Se a mãe fuma ou o pai bebe em excesso, por exemplo, não há tempo a perder para rever esses hábitos e proteger a família.
  8. Doenças como a dependência química podem ter aspecto genético. Então vale investigar os antecedentes familiares. Se há alcoolistas na família, não se deve ter bebida em casa. Em caso de pessoas com problemas psiquiátricos, saiba que o uso de maconha pode antecipar e potencializar alguns transtornos.
  9. Seja amoroso e insistente nas questões e conversas sobre drogas. Nunca sabemos qual o ponto que vai pegar e fazer cair a ficha do seu filho. Minha experiência mostra, ainda, que a criança é um excelente veículo para tratar a dependência dos pais. Perguntei a um avô certa vez porque ele havia parado de fumar aos 70 anos. E ele respondeu que eu havia dado um livrinho para o seu neto sobre o malefício do cigarro. Toda vez que ele acendia um cigarro, seu neto o fazia ler o livreto. De tanto ler, uma hora resolveu parar de fumar.

* Dr. João Paulo Becker Lotufo é pediatra, doutor pela Universidade de São Paulo (USP), médico do Hospital Universitário da USP, representante para assuntos de drogas da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade de Pediatria de São Paul e criador do projeto Dr. Bartô de prevenção ao uso de drogas em escolas

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