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Como a Covid-19 afeta os olhos e o que fazer para protegê-los

O coronavírus pode causar conjuntivite e atacar a retina — e a pandemia traz outros prejuízos à visão —, mas esses danos são prevenidos com o oftalmologista

Por Dr. Bruno Machado Fontes, oftalmologista*
Atualizado em 10 jul 2020, 10h34 - Publicado em 10 jul 2020, 10h24

Os olhos são uma das principais portas de entrada do coronavírus responsável pela pandemia e sua transmissão também pode ocorrer pelo contato com a lágrima de uma pessoa infectada. Segundo a Academia Americana de Oftalmologia, o novo vírus causa conjuntivite em 1 a 3% dos indivíduos contaminados e, em certos casos, essa doença é o primeiro sintoma da Covid-19.

Estudos recentes, como um liderado por oftalmologistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e publicado na revista científica The Lancet, apontam que o Sars-CoV-2 ainda é capaz de lesar a retina, onde ficam as células que enviam a informação que gera a imagem no cérebro, e a úvea, conjunto de estruturas que inclui a íris, a parte colorida do olho. Mais: o agente infeccioso pode inflamar a córnea e ressecar os olhos.

Tudo isso reforça a importância de usarmos máscaras ou face shields, lavar corretamente e com frequência as mãos, evitar tocar o rosto e, no caso de usuários de óculos e lentes de contato, fazer a higiene adequada e diária desses acessórios. São medidas que reduzem o risco de contágio.

Na conjuntivite, os sintomas são vermelhidão, coceira, sensação de areia e ardência nos olhos, lacrimejamento e sensibilidade à luz. A forma viral é altamente contagiosa e, se não for tratada por um oftalmologista, há risco de provocar úlcera na córnea e danos graves à visão. Seja qual for a origem, é imperativo não se automedicar.

Outro problema de visão na pandemia decorre de um comportamento acentuado com o isolamento social: passar horas diante de telas. Esse hábito deixa o olho seco, irritado e cansado, sinais que costumam vir acompanhados de dores de cabeça. Isso acontece porque, normalmente, piscamos de 15 a 20 vezes por minuto. No entanto, diante de um monitor ou do celular, as piscadas são menos frequentes: apenas duas ou três vezes por minuto, diminuindo assim a lubrificação natural.

Se for inevitável usar as telas, a dica é sentar-se a uma distância de pelo menos 65 centímetros do computador e posicionar o monitor um pouco para baixo. E reduzir o brilho iluminando o ambiente. Lembre-se de piscar mais e faça intervalos a cada 20 minutos, olhando para outro objeto, pelo menos a seis metros de distância, por 20 segundos. E pingue lágrimas artificiais, se necessário.

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O excesso de telas na pandemia também pode desencadear ou agravar a miopia, principalmente em crianças. No míope, a visão de perto é boa, mas embaça para enxergar de longe. Ocorre quando o comprimento do olho é maior que o normal, a córnea é muito curva ou o cristalino tem formato, espessura ou posição anômalas.

Com mais pessoas em casa por causa da Covid-19, também há um maior risco de traumas oculares devido a acidentes domésticos. Para ter uma ideia, nos Estados Unidos, 52% das emergências oftalmológicas envolvem crianças. Lápis no olho, brinquedos que disparam, arranhão de gato ou cachorro e queimadura por produtos químicos estão entre os motivos mais comuns de lesões oculares.

A maioria dessas situações pode ser evitada com medidas simples. É preciso manter as crianças afastadas de objetos perfurocortantes, produtos de limpeza e medicamentos, e fora da cozinha, da área de serviço e do banheiro, caso não haja um adulto por perto. Quinas de mesas e móveis podem ser protegidos com adesivos acolchoados.

No inverno, além da atenção com o contágio pelo Sars-CoV-2, devemos nos precaver contra outras doenças respiratórias que, de alguma forma, têm repercussão nos olhos. Pessoas que sofrem de rinite alérgica, por exemplo, costumam coçar os olhos. E isso é perigoso, porque pode danificar a córnea e levar ao ceratocone, doença grave que geralmente se manifesta na puberdade e, sem tratamento, oferece risco de perda de visão.

A pandemia e o atendimento com o oftalmo

A oftalmologia tem sido a especialidade médica mais atingida na pandemia, no que diz respeito à queda no número de consultas, exames e cirurgias. Há uma perda de volume estimada em 81%, ao comparar os períodos de março e abril de 2019 aos de 2020, com base em dados da National Patient and Procedure Volume Tracker Analysis, nos Estados Unidos. Outras análises confirmam esses números, e no Brasil lidamos com o mesmo cenário.

O índice se explica porque o grande movimento em oftalmologia não é de emergência e a maioria dos pacientes é de idosos. Dessa forma, sofremos dois impactos da Covid-19 na saúde dos olhos: direto e indireto. O primeiro se dá pelo acometimento do vírus, e o segundo, pela falta de acompanhamento e tratamento de doenças.

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No SUS, a principal demanda de cirurgias eletivas é de catarata (primeira causa global tratável de cegueira), e certamente com o coronavírus essa fila de espera aumentou. Igualmente por causa da quarentena, os transplantes de córnea estão paralisados. Bem como está dificultada a prevenção do glaucoma (decorrente do aumento da pressão intraocular e causa número 1 de cegueira irreversível), de danos à retina devido ao diabetes mal controlado (retinopatia diabética) e da degeneração macular, que destrói a visão central.

Portanto, mesmo na pandemia, é preciso preservar a visão. Em virtude do necessário de isolamento social, clínicas e hospitais de oftalmologia suspenderam seus serviços. Mas agora retornam às suas rotinas em algumas cidades do país, seguindo os rígidos protocolos de segurança elaborados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) para pacientes e todos os envolvidos nos atendimentos, nas consultas e nas cirurgias.

O Brasil tem atualmente 1,2 milhão de cegos e mais de 6 milhões com alguma deficiência visual. Contudo, em 80% dos casos, a doença ocular poderia ter sido evitada com diagnóstico e tratamento precoces. Por isso, não negligencie a saúde dos seus olhos!

* Dr. Bruno Machado Fontes é oftalmologista, diretor das Clínicas Lúmmen Oftalmologia (empresa do grupo Opty), presidente da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa e coeditor da Revista Brasileira de Oftalmologia

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