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Afinal, seria o coronavírus capaz de curar o câncer?

Um paciente que teria se livrado de um linfoma após pegar Covid-19 virou manchete. Mas isso não significa que o Sars-CoV-2 será usado contra tumores

Por Jacques Tabacof, oncohematologista*
Atualizado em 29 jan 2021, 19h06 - Publicado em 29 jan 2021, 16h51

Um estudo de caso publicado recentemente pelo periódico científico British Journal of Hematology chamou a atenção da comunidade médica e do público em geral por relatar a dupla cura de um paciente oncológico contaminado pela Covid-19. Segundo o artigo, um homem de 61 anos diagnosticado com linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer hematológico que se origina no sistema linfático, deixou de apresentar sinais da doença após um período de internação para tratar o novo coronavírus.

O relato aponta que o paciente havia descoberto o tumor hematológico em estágio avançado. Mas, antes mesmo de receber as medicações específicas para combater o câncer, ele testou positivo para o Sars-CoV-2. O artigo detalha que, por conta de sintomas respiratórios (falta de ar e pneumonia), o homem precisou permanecer no hospital por 11 dias, tratando exclusivamente a Covid-19.

Recuperado, ele passou por novos exames relacionados ao linfoma, até para definir a estratégia terapêutica. Contudo, os resultados dessa segunda avaliação indicaram que o indivíduo apresentava uma regressão da doença oncológica. Os médicos analisaram minuciosamente o quadro. Conclusão: o linfoma de Hodgkin do paciente foi reclassificado como em remissão — ou seja, sem mais nenhum tipo de atividade ou de avanço.

O fato pode ser explicado por uma forte resposta imune do organismo à infecção por Sars-CoV-2, o que também levou a uma ação antitumoral pelas células de defesa. Em linhas gerais, é como se o vírus da Covid-19 tivesse acordado os soldados de defesa, fazendo com que eles combatessem os dois inimigos de uma só vez.

Possivelmente, o vírus levou ao estímulo do sistema imunológico do paciente ativando Linfócitos T e células natural killers, aumentando a produção de anticorpos pelos linfócitos B ou de outros mecanismos de defesa.

Eu sei que parece estranho, mas isso não é um absurdo de se pensar. Na oncologia, já foram utilizadas terapias que tentam estimular o sistema de defesa de maneira inespecífica. Para ter ideia, o Bacilo de Calmette-Guérin (BCG), um germe usado na vacina contra a tuberculose, também pode ser empregado contra casos de câncer de bexiga inicial, justamente por causa dessa ação imunológica específica.

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Vale lembrar ainda que, em algumas circunstâncias, o tratamento desse tipo de linfoma inclui a chamada imunoterapia moderna, que justamente atua na potencialização do organismo para atacar as células do câncer.

Mas, ao contrário das medicações já aprovadas para estimular a defesa do nosso corpo, não há qualquer comprovação científica que aponte que o novo coronavírus poderia ter um “efeito colateral do bem”, capaz de eliminar um ou mais tipos de câncer. Não existe benefício decorrente da Covid-19.

O vírus, como sabemos, é perigoso e os riscos de complicações geradas por ele são muito elevados. Esse foi um caso raro e extraordinário que impressiona a todos nós, mas a probabilidade de isso acontecer é ínfima.

A boa notícia é que a história desse paciente pode contribuir para melhor compreensão do papel do sistema imunológico e de infecções nos tratamentos oncológicos.

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Os tratamentos para enfrentar os linfomas incluem convencionalmente anticorpos monoclonais, quimioterapia e, ocasionalmente, radioterapia. O transplante de medula óssea pode ser uma alternativa, dependendo do caso. Mas, para os que não respondem a essas opções, a medicina tem avançado nos últimos anos com a terapia celular.

As células CAR T são a principal novidade da área. Altamente especializadas, são células de defesa do próprio paciente modificadas em laboratório mais eficientes no combate ao câncer. Elas inclusive já foram aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão regularizador do setor nos Estados Unidos e em outros países.

Esse uso de células de defesa modificadas do próprio paciente está trazendo resultados animadores para aqueles que não apresentaram resposta aos tratamentos convencionais.

Aliada ao diagnóstico precoce, a adoção dessas avançadas técnicas de base imunológica e da medicina de precisão despontam como as chaves para aumentar os índices de respostas positivas no controle do câncer e para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Quem sabe se o caso desse paciente nos ajude a entender um pouco melhor como o nosso corpo responde ao câncer para criarmos terapias ainda melhores?

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*Jacques Tabacof é onco-hematologista do Grupo Oncoclínicas em São Paulo

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