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“Remover o glúten e ver o que acontece não é algo cientificamente correto”

Em novo livro, escritor americano acredita que neura alimentar é tão prejudicial para a saúde quanto uma dieta desequilibrada

Por André Biernath
Atualizado em 31 jul 2018, 13h55 - Publicado em 19 fev 2016, 09h36
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  • O filósofo Alan Levinovitz, professor da Universidade James Madison, nos Estados Unidos, acaba de publicar no Brasil o livro A Mentira do Glúten e Outros Mitos Sobre o que Você Come (Citadel Grupo Editorial). Na obra, ele compara as dietas da moda ao fanatismo religioso e critica a falta de embasamento científico dessas recomendações alimentares radicais. O glúten, proteína presente em itens como trigo, cevada e centeio, é assunto da matéria de capa da SAÚDE de fevereiro, que está disponível nas bancas de todo o país. Na entrevista, Levinovitz aborda outros temas bastante polêmicos, como os alimentos transgênicos e o papel das celebridades na disseminação de modismos.

    O glúten é o vilão de nossa dieta?

    Depende. É claro que celíacos devem evitá-lo, assim como uma pequena porcentagem de pessoas com sensibilidade que não reagem bem após o consumo. Mas há quem corte a proteína sem necessidade. Generalizar os malefícios faz acreditar que ela é prejudicial a todos.

    Quando as pessoas devem tirar o glúten da alimentação?

    Se você acha que não está reagindo bem ao glúten, a primeira coisa a se fazer é visitar o nutricionista ou o gastroenterologista. Esses profissionais podem ajudar a entender qual é o problema de uma forma bastante responsável. Remover o glúten da dieta e ver o que acontece não é algo cientificamente correto. Será que você não se sente melhor porque está prestando mais atenção nos hábitos alimentares? Nutrição é uma ciência muito complicada. Nós gostamos de pensar que entendemos nosso próprio organismo, mas é fácil ficar confuso. Se nós acreditamos que algo vai fazer bem, provavelmente fará. É o chamado efeito placebo.

    O trigo passou por modificações genéticas que poderiam prejudicar a saúde?

    O consenso científico atual é que comidas geneticamente modificadas não representam um perigo à saúde humana. Por enquanto, não há nenhum trigo transgênico disponível no mercado. Em todo caso, é muito importante continuar testando esses alimentos e a introdução de novas tecnologias. A possibilidade de um pesticida diferente ou um produto geneticamente modificado ser ruim é real. Portanto, é dever dos cientistas e das agências governamentais pesquisar e ter certeza de que esses problemas não aconteçam. Parte disso envolve não permitir que os interesses de grandes corporações interfiram em testes de segurança rigorosos.

    Algumas estatísticas apontam que 1% da população tem doença celíaca e 5% manifesta uma sensibilidade não celíaca ao glúten. Só que um terço dos americanos pretende cortar o glúten da dieta, número que se repete em outros países. Como você interpreta esse conflito estatístico?

    Muitas pessoas sofrem para perder peso ou possuem doenças crônicas que a medicina não consegue corrigir. É comum que médicos insensíveis desprezem as preocupações de seus pacientes. Para esses indivíduos, a promessa de cura é uma grande esperança. Por isso que faz tanto sentido seguir uma dieta sem glúten. O que eles têm a perder? Porém, o que eles não levam em conta é o fato de que, ao eliminar o glúten, podem sofrer com efeitos colaterais. Essa neurose promove o medo de se alimentar. Comida não é só nutrição. Comida é comunidade, é dividir com o outro, é cultura. Eliminar o glúten (a carne, ou qualquer outro alimento) pode isolar o indivíduo socialmente, inclusive de familiares e amigos, porque as refeições têm uma importante função social. Para mim, pensar holisticamente sobre a saúde é pensar sobre o nosso lugar na sociedade.

    Quiz: contém ou não contém glúten?

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    Há um fator psicológico envolvido na sensibilidade não celíaca ao glúten?

    Com tanta gente falando que o glúten é mau, é compreensível que alguns experimentem um efeito psicológico. Por isso, é importante não ser sensacionalista ou alarmista sobre nutrição. Ficar assustado e ansioso sobre o que comemos leva a eventos tão negativos quanto uma alimentação desequilibrada.

    Como encarar as dietas que indicam eliminar o glúten para perder peso?

    Adotar qualquer regime emagrece em curto prazo. Subtrair o glúten significa evitar itens calóricos, caso da cerveja, do pão e do macarrão. Porém, em longo prazo, a perda dos quilos não está comprovada. Soluções fáceis nos distraem das verdadeiras mudanças que devemos iniciar para ter um estilo de vida saudável.

    Como as celebridades ajudaram a popularizar dietas sem glúten?

    Todo mundo gostaria de ser como as celebridades. Nós adoramos a beleza e o sucesso delas. Acreditamos que, se nós fizermos tudo que fazem (inclusive o que comem), seremos iguais a elas. Claro que isso não é verdade. Mas os próprios famosos também podem acreditar nisso e, como eles querem influenciar as pessoas, escrevem livros para revelar seus “segredos”. A verdade é que não há nenhum segredo na dieta. Para ter uma vida feliz, saudável e livre de estresse, basta comer moderadamente e aproveitar de todas as maneiras possíveis os momentos à mesa.

    Divulgação/James Madison University Divulgação/James Madison University

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    Alan Levinovitz é professor do Departamento de Filosofia e Religião da Universidade James Madison, nos Estados Unidos

    Divulgação Divulgação

    A Mentira do Glúten e Outros Mitos Sobre o que Você Come
    Alan Levinovitz
    Grupo Citadel Editorial
    280 páginas

    Confira as outras entrevistas da série, com os gastroenterologistas Alessio Fasano e Peter Gibson!

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