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Estresse realmente deixa o cabelo branco, confirmam pesquisadores

Experimentos em laboratório que contaram com a participação de um brasileiro revelam como o estresse branqueia os fios de cabelo precocemente

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 27 jan 2020, 07h36 - Publicado em 22 jan 2020, 15h22
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  • Por que o cabelo fica branco antes da hora? Segundo uma pesquisa assinada por cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e pelo bioquímico Thiago Mattar Cunha, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), o estresse seria uma das causas.

    Verdade que, ao longo da história, não faltam pessoas dizendo que viram seus cabelos branquearem após momentos de muita tensão. Que o digam os muitos relatos de mulheres russas que participaram da Segunda Guerra Mundial, disponíveis no livro A Guerra Não Tem Rosto de Mulher (clique aqui para comprar). Ou o caso da rainha Maria Antonieta, que teria ficado com os fios completamente alvos após ser capturada em virtude da Revolução Francesa (1789-1799). Ainda assim, essas e outras narrativas careciam de comprovação científica, até para entender se não seria outro fator que estava desencadeando a perda de cor.

    É aí que entra o novo estudo, publicado na Nature, uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo. Tudo começou com um achado, digamos, acidental do bioquímico Thiago Mattar Cunha. Membro do CRID (ou Centro de Pesquisas em Doenças Inflamatórias) da USP — que foi criado graças a um investimento da Fapesp —, ele e sua equipe investigam mecanismos por trás da sensação de dor. E, por isso, infundem substâncias em animais que geram muito desconforto. “Em um trabalho desses com camundongos pretos, notamos que, após quatro semanas da aplicação, surgiram vários pelos brancos”, afirma à SAÚDE.

    Pouco tempo depois, o brasileiro foi passar um tempo na Universidade Harvard, onde comentou com seus novos colegas sobre essa descoberta inusitada. “E eles tinham resultados parecidos”, recorda-se.

    O que faz o estresse deixar o cabelo branco

    A partir daí, foi conduzida uma sequência de experimentos em laboratório. Os cientistas começaram provando que a tensão de fato estava por trás do aparecimento precoce de cabelos brancos. O próximo passo foi verificar de que forma isso ocorreria.

    “O estresse sempre eleva os níveis de cortisol no corpo, então pensamos que esse hormônio teria um papel aí”, diz Ya Chieh Hsu, professora de Harvard envolvida nos trabalhos, em um comunicado à imprensa. “Mas, surpreendentemente, quando removíamos a glândula adrenal dos animais para que eles não produzissem mais cortisol, seus pelos ainda ficavam brancos após situações de estresse”, completa.

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    Então os experts se voltaram para o sistema nervoso simpático, que é superativado em situações estressantes para reagirmos rapidamente a possíveis ameaças. É esse sistema que faz o coração bater mais rápido e a respiração acelerar, por exemplo.

    Já se sabia que os nervos que transmitem as mensagens do sistema nervoso simpático também estão presentes nos folículos pilosos, estruturas onde os fios de cabelo crescem. Contudo, Mattar Cunha e a equipe de Harvard descobriram, em animais, que momentos tensos fazem esses nervos estimularem a fabricação de noradrenalina dentro dos folículos.

    Mais: esse hormônio associado ao estresse acaba com as reservas de células que produzem os pigmentos que vão pintar os fios. Como assim?!

    “Os folículos pilosos contêm um nicho de células-tronco que, com o tempo, convertem-se em unidades produtoras de pigmentos para substituir as antigas”, começa a explicar Mattar Cunha. Conforme essas células vão se esgotando, os fios brancos se multiplicam. Por isso que o envelhecimento é intimamente ligado ao surgimento de cabelos alvos.

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    Acontece que a tal noradrenalina acelera demais esse processo. Resultado: o estoque de células que tingem os pelos se esgota mais rapidamente, fazendo o branco predominar precocemente.

    Quanto mais estresse, mais branco o cabelo fica

    Os pesquisadores utilizaram diferentes métodos estressores — alguns mais intensos e curtos, e outros mais brandos e prolongados. “Percebemos que todos promovem o branqueamento de pelos nos animais”, esclarece Mattar Cunha. Em seres humanos, isso significaria que tanto um pico enorme de tensão como um dia-a-dia recheado de nervosismo antecipariam a chegada dos cabelos brancos.

    “Mas também vimos que, quanto mais intenso o estresse, mais os pelos branqueiam”, completa o brasileiro. Só é complicado definir um prazo exato para isso ocorrer, até porque o tempo de vida de roedores é bem distinto do de seres humanos.

    Aliás, o fato de esses experimentos terem sido conduzidos eminentemente em animais é uma limitação? “Não posso garantir 100% que o mesmo vá ocorrer na gente”, admite Mattar Cunha. “Mas os mecanismos que estudamos são muito parecidos entre esses bichos e os seres humanos, então existe uma grande chance de os resultados serem aplicáveis”, conclui.

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    As implicações futuras

    Além de comprovar um fenômeno descrito popularmente, a pesquisa traz perspectivas interessantes. “Nós vimos que a noradrenalina gera aquelas alterações no folículo piloso por meio da uma enzina chamada CDK2”, introduz Mattar Cunha. “Talvez inibidores dela possam ser aplicados diretamente na cabeça para impedir o branqueamento do cabelo”, complementa.

    Isso, claro, é uma mera hipótese. Os pesquisadores teriam, antes de tudo, de verificar se os mecanismos que associam o estresse aos fios brancos também se aplicam no caso do envelhecimento para, só aí, pensar em tratamentos. Ainda assim, uma nova avenida para o possível surgimento de produtos estéticos se abriu.

    Fora isso, há um interesse em entender se os efeitos do estresse nos folículos pilosos seriam similares em outras partes do corpo. “Eu tenho vontade de avaliar se o estresse interfere da mesma maneira em células do sistema imunológico. Se for o caso, teríamos como tentar controlar melhor infecções e mesmo o câncer”, argumenta.

    Quem diria que um estudo com pelos brancos seria capaz de beneficiar tanto a ciência, não é mesmo?

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