Foi dada a largada. Eufóricos, competidores se esforçam, suam a camisa. Ao atingir a reta final o suposto vencedor percebe que perdeu o melhor da festa. É mais ou menos assim que se sentem os homens que sofrem de ejaculação precoce. Felizmente esse problema, que costuma devastar relacionamentos, logo, logo deve ter um fim graças a um novo remédio. Trata-se da dapoxetina, um antidepressivo classificado como inibidor seletivo da recaptação da serotonina (SSRI, em inglês).
Ele é da mesma família de drogas como a
fluoxetina, um dos medicamentos mais receitados para quem sofre de uma tristeza sem fim. Desde que substâncias assim se popularizaram no tratamento da depressão, notou-se que possuíam o curioso efeito colateral de retardar a ejaculação. Os antidepressivos, empregados paralelamente ao aconselhamento psicológico, tornaram-se comuns nos tratamentos para aumentar o tempo médio de duração da relação sexual.
Sem efeitos colaterais
Só que essas drogas podem provocar problemas de pele, diarréia, boca seca, náuseas e aumento de peso. Além disso, só fazem efeito depois de pelo menos dez dias de uso. Com a dapoxetina, entretanto, esse quadro tende a mudar. É o que mostra um estudo realizado pela Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos – o primeiro a testar o princípio ativo contra a ejaculação precoce. Publicado em setembro na revista médica inglesaThe Lancet, ele demonstrou que a dapoxetina aumenta de três a quatro vezes a duração do ato sexual, com a vantagem de o usuário poder ingeri-la poucas horas antes de transar.
Como ela é eliminada rapidamente, não produz efeitos colaterais outro ponto a favor. No estudo americano, 2,6 mil homens foram submetidos a testes com a substância. Parte deles recebeu a dapoxetina, enquanto a outra ingeriu um placebo. Em média todos ejaculavam menos de um minuto depois de iniciar a relação. Doze semanas depois, entre os que engoliram o medicamento o tempo subiu para mais de três minutos.
Responsável pela pesquisa, o urologista Jon Pryor, que também é diretor do Departamento de Cirurgia Urológica da Universidade de Minnesota, acredita que o medicamento será revolucionário. “Um dos aspectos mais importantes dessa pesquisa é que a opinião da parceira foi considerada na avaliação”, explica. As mulheres dos voluntários participaram ativamente do estudo, controlando a duração de cada transa – ops, teste – por meio de um cronômetro.
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Foi rápido ou precoce?
A comunidade médica considera ejaculador precoce o indivíduo que atinge o clímax antes do momento desejado. “Como isso é subjetivo, a maioria das pesquisas clínicas adota o prazo de dois minutos como parâmetro de normalidade”, afirma o urologista Eduardo Bertero, chefe do setor de Andrologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. “A média dos pacientes é de quatro a cinco minutos”, contrapõe a psiquiatra Carmita Abdo. “Não há um tempo limite, mas o ideal para a maioria seria de dez a 15 minutos”, opina o urologista Mário Paranhos, chefe do setor de Medicina Sexual do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Com tanta variação, há pelo menos um consenso: o problema sempre provoca uma enorme insatisfação no casal. Uma pesquisa realizada pela psiquiatra Carmita Abdo indica que 25,8% dos brasileiros sofrem de ejaculação precoce. A pressa nacional não é discrepante da estimativa mundialmente aceita de 30%. Aliás, a ejaculação precoce é o distúrbio sexual masculino mais prevalente, superando até a dificuldade com ereção e acontecendo em qualquer faixa etária.
Como acontece
Tudo começa – e, para desprazer geral, termina – quando as áreas cerebrais que controlam a ejaculação, na hipófise e no hipotálamo, não respondem adequadamente aos estímulos sexuais, que são transmitidos principalmente pelos órgãos genitais. Uma das hipóteses para a ação da dapoxetina é de que, ao aumentar a quantidade de serotonina nos centros cerebrais do prazer, ela reduziria a ansiedade e também a libido, além de tornar as secreções mais densas. Assim, a ejaculação se retardaria um pouco mais.