A pandemia não acabou! A frase soa a uma obviedade gritante, mas tem muita gente tapando os olhos ou os ouvidos para ela. Vivemos a flexibilização do isolamento social e a retomada gradual das atividades presenciais — algo que nem sempre foi respeitado durante a crise, convém notar —, ainda que a Covid-19 esteja longe do pleno controle nestas terras.
Isso significa que devemos refletir se ou quando é preciso sair de casa e, ao pisar na rua, tomar todos os cuidados pregados pelos especialistas. “Flexibilizar não é um ‘liberou geral’”, resume o médico Leonardo Weissman, da Sociedade Brasileira de Infectologia, consultado para a reportagem sobre a nova vida lá fora.
Negligenciar esse recado é também banalizar as centenas de mortes diárias que o coronavírus ainda colhe em nosso país. Mas negamos a morte e os perigos, eles são problemas dos outros, analisa o filósofo e psicanalista Gilson Iannini ao resgatar ideias de Freud e discuti-las à luz da pandemia no Com a Palavra que fecha a edição.
Pois a Covid-19 deveria encorajar uma postura mais coletiva do que individual. Postura que passa por postergar festas e encontros lotados de pessoas (e, às vezes, vírus), usar a máscara no elevador, higienizar as mãos antes de se alimentar… No fundo, precisamos ter mais consciência. E isso também se aplica à vacinação dos nossos filhos, netos e sobrinhos — as taxas de imunização infantil andam preocupantes no Brasil — e à alimentação nossa de cada dia.
A quarentena colocou desafios à mesa e nos convidou a rever nossa relação com a comida. Nos instigou (ou obrigou) a escolher mais, a cozinhar mais, a compartilhar mais, a degustar mais… É o comer e todos os seus desdobramentos possíveis pedindo passagem. E o mote da matéria de capa a cargo da editora Thaís Manarini, que se presta a apontar oportunidades em cima das tendências que trabalham com uma noção mais equilibrada da alimentação: nutrição comportamental, mindful eating, comfort food…
Muitas dessas lições já haviam sido incorporadas por nossos antepassados e meio que caíram em desuso em tempos de pressa, redes sociais e piloto automático. Outro fenômeno que mais veio confundir do que ajudar é o que os experts chamam de nutricionismo. É aquela ideia de se preocupar apenas com os nutrientes de um alimento, como se ele fosse reduzido a uma fórmula química com ou sem carboidrato, proteína, glúten, lactose, antioxidante e afins.
Comer é muito mais que isso! E quem conjuga esse verbo de uma forma mais harmoniosa se nutre de uma vida mais saudável e feliz. Tenhamos mais consciência. Dentro e fora de casa!