Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

15 perguntas e respostas sobre o zika vírus

Experts esclarecem as principais dúvidas sobre a infecção que está tirando o sono dos brasileiros. E aí vai um alerta: o cenário tende a piorar no verão

Por Chloé Pinheiro (colaboradora)
Atualizado em 9 jan 2019, 18h33 - Publicado em 3 fev 2016, 12h46
  • Seguir materia Seguindo materia
  • 1. De onde vem esse vírus?

    Ele foi descrito pela primeira vez em 1947 e, até então, infectava macacos da floresta de Zika, em Uganda — daí seu nome. Em 1952, esse país africano identificou o primeiro caso em humanos. Na época, os visitantes da região só pegavam o vírus esporadicamente. “Após uma sucessão de tentativas, o zika conseguiu estabelecer uma cadeia de transmissão envolvendo mosquitos e seres humanos”, explica o biomédico Caio Freire, da Universidade de São Paulo. Essa evolução permitiu que ele expandisse seu território.

    2. Como o zika chegou ao Brasil?

    Há duas suspeitas: a Copa do Mundo de 2014, que trouxe muitos estrangeiros, e um campeonato de canoagem realizado ano passado no Rio de Janeiro, que contou com a participação de nações do Oceano Pacífico, como a Polinésia Francesa e a Micronésia. Esses locais foram os primeiros a sofrer surtos de zika, e a linhagem que se instalou aqui é a mesma de lá. “O vírus encontrou um ambiente perfeito no país. Bastante gente e uma enorme população de mosquitos”, observa Freire.

    3. Além do mosquito, há outras formas de contágio?

    O Aedes aegypti é o principal vetor mesmo. Mas não dá pra dizer que é o único. Até agora, foi comprovado um caso de transmissão por via sexual e outro por transfusão de sangue. Há indícios também de que o vírus seria carreado pelo leite materno. Tudo leva a crer, porém, que são situações atípicas. O pernilongo é o maior foco de preocupação. “Se tivéssemos combatido melhor o Aedes, provavelmente não estaríamos passando por isso”, avalia Bianca Grassi de Miranda, infectologista do Hospital Samaritano de São Paulo.

    4. Quais os reais sintomas da infecção pelo zika?

    O ataque do vírus é considerado leve na maioria das vezes. Tão brando que 80% dos infectados não apresentam sintomas. Já o grupo dos 20% tem um quadro parecido com o da dengue: febre, dores no corpo, manchas vermelhas e até diarreia e vômito. O mal-estar dura entre três e sete dias. “A doença costuma ser autolimitada, ou seja, dura um período determinado e é eliminada pelo próprio organismo sem grandes repercussões”, esclarece Bianca. Ainda assim, pode cobrar uma visita ao hospital.

    5. Quais as principais diferenças em relação à dengue?

    Por causa da familiaridade entre esses vírus (e o chicungunya também), as manifestações confundem. “A Organização Mundial da Saúde parte do pressuposto de que são doenças idênticas”, conta o infectologista Marcelo Mendonça, do Hospital Santa Paula, na capital paulista. “Tanto é que investigamos o zika só depois de descartar os outros”, completa. Um sinal mais comum do novo inimigo é a vermelhidão nos olhos. Só que apenas um exame é capaz de cravar a distinção.

    6. E como é feito o diagnóstico?

    Ele ainda é cercado de desafios. Primeiro os médicos precisam eliminar outras suspeitas. Depois, o protocolo pede que o indivíduo passe por um teste sanguíneo apto a acusar o vírus. A questão é que essa técnica é cara e, por ora, só destinada a casos mais graves. Para ampliar o acesso ao tira-teima, pesquisadores brasileiros já estão trabalhando em cima de um exame que usa um método parecido com o da sorologia para o HIV. Mais barata, essa análise flagra anticorpos criados pelo organismo em resposta ao zika.

    Continua após a publicidade

    7. Existem perfis de maior risco para a infecção?

    Por enquanto, a preocupação ronda sobretudo as mulheres no início da gestação, porque o vírus consegue atravessar a placenta e chegar ao feto. No pequeno, ainda indefeso, o zika pode comprometer o desenvolvimento do cérebro e do crânio. Mas não são só bebês que estão sujeitos a transtornos. “Pessoas com déficit no sistema imunológico, como as que se tratam contra um câncer, tendem a enfrentar quadros mais severos”, exemplifica Bianca. Ainda se enquadram nesse grupo portadores de doenças autoimunes.

    8. Como o vírus causa microcefalia?

    Nos primeiros meses da gravidez, a imunidade do feto ainda não está estabelecida. “Assim, o vírus, que tem preferência pelo cérebro, consegue se instalar ali sem encontrar resistência”, explica a neuropediatra Silvana Frizzo, do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo. O invasor até vai embora, mas as sequelas de sua estada duram para sempre. A microcefalia ocorre quando o perímetro da cabeça do bebê não se desenvolve mais do que 32 centímetros. E essa limitação no crânio vem acompanhada de danos à massa cinzenta.

    9. Como a microcefalia repercutirá na vida dessas crianças?

    O cérebro delas cresce menos e apresenta malformações, além de pequenas lesões que se calcificam — o que está por trás de convulsões e déficits motores. “Fetos acometidos no início da gravidez, como observamos com o zika, estão suscetíveis às complicações mais sérias. Mas ainda não sabemos ao certo como será o desenvolvimento deles”, diz Silvana.

    10. O zika pode afetar o sistema nervoso dos adultos?

    Sim. Tudo indica que ele tem atração especial pelos nervos. “Nos adultos, o vírus não chega ao cérebro porque é anulado antes, mas pode servir de gatilho à síndrome de Guillain-Barré”, esclarece Silvana. Essa condição, não tão comum, é caracterizada pelo ataque das células de defesa a terminações nervosas. É como se o vírus plantasse a discórdia interna. A síndrome causa paralisia nos membros e requer internação hospitalar. Ainda bem que, com tratamento certo, é revertida em médio prazo.

    11. Existe tratamento para a infecção?

    Assim como na dengue, não há remédios que combatem o vírus em si. Logo, os médicos tratam os sintomas e previnem complicações. Para os adultos, a situação não costuma ser tão penosa, já que a infecção é inofensiva na maioria das vezes. Pessoas que evoluem para a síndrome de Guillain-Barré são internadas e tratadas com drogas imunossupressoras. Crianças em geral pedem um olhar mais atento. E os pequenos com microcefalia tendem a necessitar de acompanhamento especializado pelo resto da vida.

    Continua após a publicidade

    12. Uma epidemia de zika pelo Brasil é possível?

    Não só é possível como muito plausível que isso aconteça. “O Aedes aegypti existe em todo o país e, no verão com chuvas, o clima é favorável à sua reprodução”, justifica Marcelo. Há outro alerta no ar: o vírus não para de evoluir. “Uma mutação pode ter aumentado sua capacidade de se replicar e se propagar, fazendo com que se espalhe mais facilmente”, conta o virologista Paolo Zanotto, da Universidade de São Paulo, coautor de um estudo que identificou essa provável metamorfose.

    13. Faz sentido comparar com a história do HIV?

    Não muito. “É difícil traçar um paralelo, já que as vias de transmissão e formas de prevenção são totalmente diferentes”, analisa Marcelo. Com o aparecimento de uma doença praticamente desconhecida, é natural surgirem boatos e informações desencontradas. Exemplo: circularam notícias na internet ligando o surto de zika aos mosquitos geneticamente modificados usados em algumas regiões brasileiras no controle da dengue. O caso já foi desmentido pelo Ministério da Saúde.

    14. O que está ao seu alcance para se prevenir?

    A estratégia mais sensata e eficaz hoje é atacar o vetor. Então temos de ficar de olho nos criadouros do mosquito e eliminá-los. Ou seja: água parada, jamais! Para reforçar essa ação coletiva, campanhas de conscientização devem pipocar pelo país durante o verão. O Ministério da Saúde recomenda ainda o uso de repelente no corpo todo, inclusive por cima das roupas, especialmente para as futuras mamães.

    15. Onde mora o problema?

    Casos de microcefalia ligados ao zika já foram registrados em 18 estados brasileiros — e a projeção é de crescimento no verão.

    O raio X do vírus

    O zika pertence à família dos flavivírus, assim como o chicungunya e a dengue, e, a exemplo deles, é transmitido por mosquitos. Sabe-se até agora que ele se multiplica rapidamente e tem alta capacidade de sofrer mutação. A suspeita é que o vírus vem aperfeiçoando sua interação com as células humanas, o que lhe tem garantido maior sucesso no contágio e na propagação.

    Continua após a publicidade

    O raio x do mosquito

    O Aedes aegypti é um para-raio de agentes patogênicos — só no Brasil, três vírus pegam carona nele. O mosquito listrado gosta de temperaturas altas, entre 25 e 30 ˚C, e clima úmido. Apesar de ter hábitos diurnos, a fêmea também pica à noite. Por voar baixo, costuma atingir principalmente pés e pernas. Dá-lhe repelente no verão!

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY
    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 10,99/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.