O que os olhos não veem o coração não sente. Não há provérbio mais mentiroso do que esse quando pensamos nos micróbios espalhados por aí. Nem todo vírus, bactéria ou congêneres aprontam com a gente, mas, dependendo da criaturinha em questão, o intestino sente, os pulmões sentem, a cabeça sente…
Onde há fumaça, há fogo, e onde tem comida, pode apostar, tem micro-organismo lutando pelo seu quinhão. Então não é uma surpresa enxergar a cozinha como um potencial ninho de germes. Como quem vê cara não vê coração, às vezes a aparência da pia ou dos ingredientes nem inspira precauções. Mas o diabo, ou melhor, o micróbio mora nos detalhes.
Um estudo do Centro de Pesquisa em Alimentos da Universidade de São Paulo (FoRC-USP) com 5 mil brasileiros revela que boa parte de nós comete imprudências ao preparar as refeições. Depois da pandemia, com mais cidadãos em casa, é de esperar que de médico, cozinheiro e louco todos tenhamos um pouco. E o novo levantamento acusa erros que vão da higiene ao tempo de fogão.
Ocorre que o apressado não só come cru como pode passar mal com carnes e ovos malcozidos. Milhões de pessoas sofrem com diarreia e dor de barriga e até vão parar no hospital todo ano por doenças causadas por patógenos escondidos nos alimentos.
A pressa e o desconhecimento são inimigos da perfeição. E é por isso que reunimos na reportagem de capa deslizes comuns que perpetuamos na cozinha. Toda panela tem sua tampa, e cada etapa tem suas regras, seja ao limpar e descongelar, seja ao levar a comida ao forno e à geladeira, como ensina a jornalista Regina Célia Pereira após conversar com uma dúzia de engenheiros de alimentos, biólogos, farmacêuticos e nutricionistas.
Se à noite todos os gatos são pardos, à sombra das refeições os perigos microscópicos não são idênticos. Quando a gente tosta a torrada ou deixa o bife passar do ponto, ficando com aquelas crostas pretas, exterminamos micróbios, mas corremos o risco de ingerir substâncias tóxicas às células.
Gato escaldado tem medo de água fria, e quem preza a nutrição e o bem-estar da família não só pode como deve ouvir nossos 22 alertas e recomendações para desfrutar apenas do lado bom da vida e da comida — em 2022 e nos próximos anos.
Ainda que os cuidados sanitários tenham se aperfeiçoado na cadeia da indústria, do transporte e do mercado, não podemos negligenciar nossa parte no processo. Depois não adianta chorar pelo leite derramado (e azedo e estragado). Como diz o ditado — juro que é o último —, o seguro morreu de velho.
Faixa bônus
A rima não é proposital, mas precisamos de paciência, resiliência e ciência em mais um ano de pandemia. Não bastasse a Covid-19, ainda tivemos gripe fora de época e aumento nos casos de dengue em várias cidades.
Os vírus estão por aí: no ar, nas gotículas de saliva, na comida, nos mosquitos… Então vamos usufruir das vacinas disponíveis e lançar mão dos outros cuidados — recado que passamos, junto às devidas atualizações, frequente e consistentemente na revista, no site e nas redes sociais de VEJA SAÚDE.
Ditado bônus, batido e valioso: prevenir é sempre melhor que remediar!