Pesquisadores chineses aplicaram um tipo de jejum intermitente em pessoas com obesidade por um ano para avaliar seu potencial na perda de peso. Mais uma vez, no entanto, a conclusão é que ficar longos períodos sem comer não traz benefício adicionais em quem precisa reduzir a cintura – segundo o artigo, o importante é fazer uma restrição calórica.
O estudo publicado no The New England Journal of Medicine ganhou destaque pelo tempo em que os participantes foram observados. Enquanto a maioria das pesquisas aplica esses métodos por alguns meses, nesse caso os voluntários foram acompanhados por um ano.
Para fazer a comparação, 139 pessoas foram dividas em dois grupos. Parte adotou um formato de jejum intermitente em que é permitido comer apenas entre 8 horas da manhã e 4 da tarde.
A outra turma podia se alimentar em qualquer horário, porém precisava ingeria o mesmo número de calorias dos que estavam fazendo o jejum. Foi definido que homens comeriam de 1500 e 1800 calorias, e mulheres, de 1200 a 1500.
Após 12 meses, os cientistas notaram que o jejum não proporcionou uma redução de peso corporal ou da diminuição de gordura estatisticamente maior.
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Essa pesquisa tenta responder se o jejum intermitente induz o organismo a acelerar a queima de calorias, ou se a perda de peso observada em regimes nessa prática dá as caras apenas por causa da menor ingestão de comida. De acordo com ela, é a segunda opção que faz sentido.
“Fiz uma revisão sobre o tema, e a maioria dos estudos já demonstrava que ficar o jejum intermitente só tem efeito positivo quando a pessoa o usa como forma de ingerir menos calorias”, acrescenta Bruno Halpern, endocrinologista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.
Atenção: para algumas pessoas, restringir horário de comer pode culminar em menor comilança. Há quem, por exemplo, naturalmente dispense o café da manhã ou não goste de jantar. Para essa turma, o jejum intermitente talvez funcione.
“Mas não significa que a prática é um fórmula mágica de emagrecimento”, reforça Halpern.
Além disso, essa história de proibir a alimentação em certos horários é uma cilada para outros grupos. “Após passar muito tempo sem comer, quem tem tendência a transtornos alimentares ou de ansiedade pode descontar em itens mais fáceis e rápidos, como frituras”, lembra o nutricionista Thiago Monteiro, do Rio de Janeiro.
A escolha errada dos alimentos não leva ao emagrecimento e ainda pode prejudicar a saúde como um todo.
Para Monteiro, não há uma receita pronta para todos. “O melhor método é aquele que a pessoa consegue incorporar por toda a vida. Não adianta fazer algo por um período e depois abandonar”, defende Monteiro.
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Para além da perda de peso
Outra discussão em relação ao jejum intermitente envolve a escolha por comer apenas durante o dia e pular as refeições noturnas. “Isso porque o organismo foi feito para ingerir comida durante o dia e jejuar à noite, quando vamos dormir”, contextualiza Halpern. “Nesse caso, até pode haver uma melhora na pressão sanguínea e na resistência à insulina. Mesmo assim, esses pontos continuam controversos”, avalia.
Há diversos outros estudos que tentam descobrir possíveis benefícios do jejum intermitente na prevenção e até no tratamento de doenças crônicas, como o diabetes. Mas os resultados, até o momento, estão longe de firmarem uma conclusão mais sólida.
Os principais protocolos de jejum intermitente
- 16 por 8: são 16 horas sem comer (o sono pode entrar na conta)
- 5 por 2 de restrição: Em dois dias da semana (que não sejam seguidos), comer apenas 500 calorias
- 5 por 2 de jejum completo: Não comer nada durante dois dias da semana. Nesse caso, os dias de jejum total não podem ser seguidos
- Dia sim, dia não: Um dia come à vontade, e no outro não ingere nada (ou quase nada)