Você conhece a dieta do tipo sanguíneo? Ela postula que montar seu plano alimentar de acordo com o seu sangue — O, A, B ou AB — ajuda a afastar doenças crônicas, a emagrecer e a viver mais e melhor. O método foi proposto pela primeira vez por Peter J. D’Adamo, um médico naturopata, no livro Eat Right 4 Your Type, de 1996.
De acordo com o autor, o tipo sanguíneo influencia na forma com a qual o organismo humano processa os alimentos. Por isso, seria importante ter um cardápio baseado naquilo que for melhor metabolizado pelo seu corpo: mais vegetais para o tipo A, mais carne para o tipo O, e por aí vai.
Segundo o livro, isso resultaria em seis quilos a menos em apenas um mês. Porém, nunca existiu comprovação científica para essa teoria — e qualquer alegação de emagrecimento em 30 dias está longe de apontar sucesso no longo prazo. Desde o seu surgimento, diversos profissionais da saúde afirmam que a lógica proposta não faz sentido, já que todo corpo precisa de todos os nutrientes para se manter saudável.
Pois um novo estudo publicado no periódico Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics colocou mais uma pá de cal nessa história. Ele prova que uma alimentação rica em vegetais é vantajosa para todos os seres humanos de forma igual. Ou seja, a turma do tipo sanguíneo A não colhe benefícios adicionais dessa dieta e a do tipo O não sofre mais com ela.
Os cientistas usaram como base de dados uma pesquisa randomizada feita com voluntários com sobrepeso por 16 semanas. Metade dos participantes seguiu um regime vegano e com baixo teor de gordura. O resto do pessoal serviu como grupo controle, não alterando a alimentação. Para estabelecer uma relação com a tal dieta do tipo sanguíneo, os experts analisaram o sangue dos indivíduos que seguiram o regime baseado em vegetais.
O objetivo central era verificar se os resultados obtidos pela dieta em relação ao peso corporal, como massa gorda, níveis de lipídios no sangue e outros indicadores, estão associados ao sistema ABO. Para isso, os pesquisadores compararam os benefícios conquistados pelos voluntários do tipo A (os que “processariam melhor” vegetais, de acordo com a teoria) com os dos demais participantes.
E o resultado foi o esperado. “Descobrimos que o sangue não fez diferença”, disse o médico Neal Barnard, autor do estudo, em comunicado. “Nosso estudo mostra que todos os tipos sanguíneos se beneficiam igualmente de uma alimentação com bastante vegetais”, completa.
Essa, aliás, nem foi a primeira vez que a dieta do tipo sanguíneo viu sua teoria ruir. Em 2014, um experimento da Universidade de Toronto, no Canadá, concluiu que as diferentes dietas propostas para cada tipo de sangue não geravam benefícios ou malefícios específicos para esses grupos. Na verdade, as reações dependiam muito mais da sensibilidade das pessoas a certos itens do cardápio. Exemplo: quem tinha intolerância a laticínios sofria mais com a dieta que dava mais espaço ao leite, independentemente do tipo sanguíneo.
“Com base nos dados de 1 455 participantes do estudo, não encontramos nenhuma evidência para apoiar essa teoria”, afirmou o autor do estudo, Ahmed El-Sohemy, em comunicado da época. A dieta baseada em sangue é mais um daqueles “métodos milagrosos” que, confrontados com a realidade dos fatos, não surtem efeito nenhum.