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Síndrome de Estocolmo: saiba o que é e conheça a origem do termo

Embora seja popularmente utilizada para descrever sentimentos de vítimas de sequestro na mídia e na ficção, condição não tem critérios diagnósticos validados

Por Valentina Bressan
29 out 2024, 15h30
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Síndrome de Estocolmo é um quadro raro, que poderia afetar vítimas de sequestro, confinamento e outros tipos de violência (Wirestock/Freepik)
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Filmes, livros e podcasts contando a história por trás de crimes reais são cada vez mais populares – o gênero ganhou até um nome próprio: true crime. Nos anos 1970, um crime na Suécia inspirou também a criação de um novo termo diagnóstico: a síndrome de estocolmo

Talvez você já tenha até usado a expressão síndrome de Estocolmo para descrever sua permanência naquele emprego desagradável ou para falar de um amigo que segue em um relacionamento complicado.

A dinâmica em que uma vítima de um sequestro, mantida refém, desenvolve um vínculo e sentimentos de simpatia em relação ao algoz já faz parte do nosso imaginário. Mas você sabe como surgiu a denominação da síndrome?

Qual a origem da síndrome de Estocolmo?

A descrição da Síndrome de Estocolmo foi cunhada pelo psiquiatra Nils Bejerot. Em 1973, ele trabalhava com a polícia sueca quando ocorreu um assalto a banco que manteve quatro funcionários reféns durante seis dias em um cofre. 

O que deu origem ao termo foi a simpatia que os funcionários aparentaram desenvolver após o período confinados com o criminoso Jan-Erik Olsson e um cúmplice. A funcionária Kristin Enmark se tornou símbolo da situação quando, em um telefonema para o primeiro-ministro sueco ao longo das negociações policiais, ela solicitou que autorizassem os criminosos a deixar o banco e que ela pudesse ir junto deles. Depois, os funcionários também se recusaram a testemunhar contra os criminosos.

Naquele contexto, Bejerot e outros psiquiatras e criminalistas descreveram os fatores que podem levar à síndrome de Estocolmo: a pessoa é sujeita a uma experiência terrível e inesperada, em que tem a certeza de que vai morrer; em seguida, é colocada em uma relação de infantilização e restrição de liberdades.

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Conforme o captor apresenta pequenos gestos de humanidade – como alimentar a vítima–, ela percebe que sua sobrevivência depende dos atos desse algoz. Assim, podem despontar sentimentos de simpatia em relação a esse malfeitor. Uma posição de contrariedade às autoridades e à polícia também apareceriam.

O termo cresceu em popularidade na mídia com o caso da americana Patty Hearst, herdeira de um famoso jornal estadunidense. O Exército Simbionês de Libertação a sequestrou em 1974. Depois de ser mantida refém, Patty acabou se juntando aos sequestradores e ajudando-os a realizar um assalto a banco.

Eles foram presos e, durante o julgamento, o advogado de defesa de Patty alegou que ela exibia um quadro de síndrome de Estocolmo.

+Leia também: Estresse pós-traumático: o que é o problema e como lidar com gatilhos

A síndrome de Estocolmo realmente existe?

Existem diversos debates no campo da saúde sobre a validade do conceito de Síndrome de Estocolmo. Algumas críticas vêm do próprio contexto de surgimento do termo: durante as negociações com os criminosos suecos, em 1973, a polícia cometeu alguns erros.

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Os investigadores enviaram o suposto irmão de Olsson para negociar com o criminoso – no entanto, o homem não era realmente da família do assaltante. Assim, parte da desconfiança das vítimas em relação à capacidade da polícia em mantê-las seguras pode ter surgido dessas falhas.

De maneira geral, a síndrome de Estocolmo não é considerada oficialmente um problema de saúde. Uma síndrome é um quadro clínico particular, qualificado por uma série de sintomas específicos. Isso significa que, apesar do nome, a síndrome de Estocolmo não tem critérios diagnósticos válidos.

Ela não consta no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – conhecido pela sigla DSM, o livro da Associação Americana de Psiquiatria (APA) lista critérios diagnósticos para doenças de ordem psíquica. 

Além disso, é incomum que um psiquiatra utilize o termo para descrever um paciente. O uso é mais comum na mídia, especialmente em casos de sequestro que ganham notoriedade pública.

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Alguns estudos listam as condições comumente associadas à síndrome de Estocolmo:

  • As vítimas passam por ameaças diretas, e creem que essas ameaças irão se concretizar;
  • Há um contexto de isolamento, em que a vítima se vê distante dos outros e próxima do captor;
  • Pequenos atos de benevolência por parte do algoz são percebidos positivamente;
  • As vítimas tem oportunidades de escapar do confinamento, mas não as aproveitam ou sentem que não tem capacidade de fugir;
  • Surgem sentimentos de simpatia com o captor após o período de aprisionamento.

Na área da psiquiatria e da psicologia, esses quadros costumam ser tratados como estresse pós-traumático e reação aguda ao estresse. Considera-se que os comportamentos de pessoas nessas situações estão ligados a uma tentativa de sobrevivência inata ao ser humano.

      Existe tratamento?

      A Síndrome de Estocolmo é rara e, de maneira geral, não é um diagnóstico utilizado. Por isso, o tratamento passa pelo enquadramento em outro transtorno, como no caso do pós-traumático, e segue linha de quadros psíquicos no geral: a combinação entre terapia e remédios psiquiátricos.

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