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Variante brasileira seria mais transmissível e causaria reinfecção

Estudo sugere que a linhagem do coronavírus de Manaus surgiu em novembro, e que se espalharia mais rapidamente, inclusive entre quem já pegou Covid-19

Por Karina Toledo, da Agência Fapesp*
Atualizado em 22 mar 2021, 16h31 - Publicado em 1 mar 2021, 15h17
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  • A variante brasileira do novo coronavírus – conhecida como P.1. ou variante de Manaus – provavelmente emergiu na capital amazonense em meados de novembro de 2020, cerca de um mês antes do número de internações por síndrome respiratória aguda grave na cidade dar um salto. Em apenas sete semanas, a P.1. tornou-se a linhagem do Sars-CoV-2 mais prevalente na região, relatam pesquisadores do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), em artigo divulgado em seu site.

    As conclusões do grupo coordenado por Ester Sabino, da Universidade de São Paulo (USP), e Nuno Faria, da Oxford University (Reino Unido), baseiam-se na análise genômica de 184 amostras de secreção nasofaríngea de pacientes diagnosticados com Covid-19 em um laboratório de Manaus entre novembro de 2020 e janeiro de 2021.

    Por meio de modelagem matemática, cruzando dados genômicos e de mortalidade, a equipe do CADDE calcula que a P.1. seja entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que as versões que a precederam. Os cientistas estimam ainda que, em parte dos indivíduos já infectados pelo Sars-CoV-2 – algo entre 25% e 61% –, a nova variante consiga driblar o sistema imune e causar uma nova infecção. O trabalho de modelagem foi feito em colaboração com pesquisadores do Imperial College London (Reino Unido).

    “Esses números são uma aproximação, porque se trata de um modelo. De qualquer modo, a mensagem que os dados passam é: mesmo quem já teve Covid-19 precisa continuar se precavendo. A nova cepa é mais transmissível e pode infectar até quem já tem anticorpos contra o coronavírus”, diz Ester, à Agência Fapesp. “Foi isso que aconteceu em Manaus. Boa parte da população já tinha imunidade e mesmo assim houve uma grande epidemia“, arremata.

    A pesquisa teve apoio da FAPESP e está em processo de revisão por pares. Outro estudo divulgado recentemente por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia indica que, em indivíduos infectados com a P.1., a carga viral no organismo pode ser até dez vezes mais alta.

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    No artigo do CADDE, os pesquisadores relatam que, até 24 de fevereiro de 2021, essa variante de Manaus havia sido detectada em seis Estados brasileiros. Ao todo, eles receberam 92 mil passageiros aéreos de Manaus em novembro de 2020. Desses, a maior parte teve São Paulo como destino (pouco mais de 30 mil). Na sequência vieram outras cidades do Amazonas, Pará, Rondônia, Ceará e Roraima. Segundo os autores, portanto, é provável que tenha havido múltiplas introduções da nova variante nesses locais.

    Mutações-chave do coronavírus

    O sequenciamento do genoma viral das 184 amostras foi feito com uma tecnologia conhecida como MinION, que, por ser portátil e barata, possibilita fazer estudos que ajudam a entender o processo de evolução do vírus.

    Os pesquisadores concluíram que a P.1. descende da cepa B.1.128, que foi identificada pela primeira vez em Manaus em março de 2020. Quando comparada à linhagem-mãe, a variante apresenta 17 mutações, sendo dez na proteína spike, usada pelo vírus para se ligar às células humanas e viabilizar a infecção.

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    Três mutações são consideradas mais importantes – a N501Y, a K417T e a E484K. Segundo Sabino, essas três mutações-chave são idênticas às encontradas na variante mais transmissível reportada na África do Sul (B.1.351).

    Já a variante de preocupação descoberta no Reino Unido (B.1.1.7.) apresenta apenas a mutação E484K na região RBD. Para os autores, os dados indicam ter havido um processo de evolução convergente. Ou seja, determinadas mutações que conferem vantagem ao vírus surgiram paralelamente em diferentes regiões geográficas. Por seleção natural, essas variantes foram se sobressaindo às linhagens anteriormente predominantes nesses locais.

    “Até que vacinas eficazes estejam disponíveis para todos, as intervenções não farmacológicas [distanciamento social, uso de máscara e higiene das mãos] continuam sendo necessárias e importantes para reduzir a emergência de novas variantes”, ressaltam os pesquisadores do CADDE.

    *Este texto é da Agência Fapesp. 

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