Vacina ou infecção natural: qual protege mais contra a Covid-19?
Indivíduos que tiveram Covid-19, mas não se vacinaram, têm um risco cinco vezes maior de serem hospitalizados em relação a quem foi imunizado, diz estudo
Com a análise dos dados de mais de sete mil pessoas hospitalizadas pela Covid-19, pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) sugerem que os indivíduos vacinados têm uma proteção contra a doença grave até cinco vezes maior do que aqueles que passaram apenas pela infecção natural.
Nos pacientes acima dos 65 anos, a vacina se mostrou mais significativa: cerca de 20 vezes mais eficaz contra a hospitalização.
Os imunizantes analisados no estudo foram os das farmacêuticas Pfizer/BioNTech e da Moderna, ambos do tipo RNA mensageiro. Com relação às variantes, o estudo se concentrou em um período anterior e durante a prevalência da Delta. A nova variante Ômicron não foi avaliada.
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Para chegar aos resultados, os pesquisadores compararam o número de pessoas não vacinadas – e que receberam o diagnóstico da Covid-19 três meses antes de serem hospitalizadas – com o número de indivíduos vacinados que não tinham sido diagnosticados antes da internação.
De acordo com Shaun Grannis, um dos autores do estudo, professor da Escola de Medicina da Universidade de Indiana e vice-presidente de dados e análises do Instituto Regenstrief, a pesquisa fornece fortes evidências de que a vacinação oferece uma proteção superior, quando comparada à imunidade natural.
“Muitos têm perguntado se eles devem se vacinar caso já tenham sido infectados. Essa pesquisa mostra que a resposta é ‘sim’”, afirma em comunicado à imprensa.
Níveis de anticorpos
Os pesquisadores reforçam que os achados são semelhantes a outros já divulgados sobre as vacinas do tipo RNA mensageiro. Segundo eles, os níveis de anticorpos entre os imunizados são maiores que naqueles previamente infectados, especialmente se essas pessoas tiveram sintomas leves, ou foram assintomáticas.
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Diferenças de proteção entre as idades dos vacinados e mesmo entre as desenvolvedoras dos imunizantes devem levar em consideração dados que ainda são limitados, alertam os pesquisadores. “[….] pesquisas adicionais são necessárias sobre a proteção relativa da vacinação versus da infecção sem vacinação em todos os grupos demográficos e produtos vacinais, assim como a vacinação em pessoas previamente infectadas”, explicam.
Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, lembra que ainda há lacunas com relação à resposta imunológica — seja depois da infecção natural ou da vacinação. “Há uma perda de proteção das vacinas com o passar do tempo, especialmente para os mais idosos”, diz o especialista.
Não à toa, portanto, a estratégia de revacinar a população ganhou fôlego nos últimos meses, segundo Igor Marinho, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Em um período de seis meses, a defesa cai vertiginosamente. Isso indica quadros de reinfecção. Por isso a estratégia de vacinação ocorre para prolongar a imunidade.”
Tecnologia e as vacinas
O objetivo de todas as vacinas é ensinar o sistema imunológico a combater os agentes infecciosos que encontrar pelo caminho. A maneira como cada uma “ensina”, no entanto, muda de acordo com o tipo de tecnologia. Confira como agem os imunizantes sendo aplicados no Brasil:
Inativada
A tecnologia inativada – empregada na Coronavac (Sinovac/Instituto Butantan) – usa tanto o vírus (ou outros microrganismos) inteiro, quando em partes, e os inativa por meio de processos físico-químicos, como calor ou substâncias químicas.
Assim, tornam-se incapazes de gerar a doença, mas entregam ao sistema imune todas as informações necessárias para que as células de defesa, ao encontrarem a versão real do microrganismo, saiba como se defender.
Além do contexto da Covid-19, os imunizantes contra a gripe, hepatite A e a vacina meningocócica, por exemplo, são produzidos com essa técnica.
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Vetor viral
Os imunizantes desenvolvidos pelas farmacêuticas AstraZeneca/Universidade de Oxford e Janssen usam a tecnologia do vetor viral.
Os pesquisadores retiram as informações genéticas de outro vírus – diferente do Sars-CoV-2 – e, por meio de engenharia genética, inserem informações que vão gerar as proteínas do coronavírus. Engana, dessa forma, o sistema imunológico e o ensina a se proteger. O adenovírus, causador do resfriado comum, foi o mais escolhido pelas desenvolvedoras.
RNA mensageiro
Ao contrário das tecnologias anteriores, o uso do RNA no desenvolvimento dos imunizantes não necessita da presença do vírus. A vacina entrega às células uma parte do RNA do vírus, que contém as informações necessárias para produzir uma proteína própria do microrganismo.
O sistema imune, ao não reconhecer essa proteína, ataca e aprende a se defender. Essa tecnologia foi adotada pelas farmacêuticas Pfizer/BioNTech e Moderna, e é uma das mais adotadas no mundo.
“As vacinas de RNAm estão sendo testadas desde a década de 1990 e conseguimos tirar agora do papel justamente pela alta tecnologia. O lançamento que ocorreu por causa da pandemia foi um excelente avanço, já que são vacinas que têm efeitos colaterais pequenos e com duração da resposta imunológica”, explica Marinho, infectologista.
*Esse conteúdo foi originalmente publicado na Agência Einstein.