De onde vêm os coronavírus?
O Sars-Cov-2, responsável pela pandemia atual, faz parte de uma família cheia de história. Hora de conhecer como eles evoluíram ao longo dos milênios
Gangue microscópica
Os coronavírus são um grupo que conta com mais de 40 integrantes conhecidos pela ciência. Eles costumam infectar aves e mamíferos. Até o momento, diferentes tipos foram encontrados em morcegos, ratos, camelos, cachorros, gatos, porcos, bois, galinhas e perus, além dos seres humanos. No geral, eles provocam sintomas nos aparelhos respiratório e gastrointestinal dos animais.
Por dentro e por fora
Todos os integrantes do grupo trazem em sua superfície espículas que lembram uma coroa — daí o nome derivado do latim “corona”. Eles têm 125 nanômetros de diâmetro (são 800 vezes mais finos que um fio de cabelo). Além disso, possuem o material genético mais comprido entre os vírus com características similares. Seu RNA é três vezes maior que o do HIV, o causador da aids.
Ocupação ilegal
As espículas virais são as chaves que permitem infectar o organismo. Essas estruturas se conectam a um receptor chamado ECA2 na superfície das células. Após o encaixe, o vírus sequestra o maquinário celular para fazer novas cópias de si mesmo. Esse processo de invasão e replicação se repete por dias.
A parte que nos cabe
Até o momento, foram identificados sete tipos de coronavírus que pularam de animais e passaram a afetar as pessoas. Quatro deles provocam o resfriado comum. Os outros três (Sars-CoV, Mers-CoV e Sars-CoV-2) levaram a graves problemas de saúde pública em 2002, 2012 e 2020, respectivamente.
Osso duro de roer
O Sars-CoV-2 tem uma série de atributos favoráveis a uma disseminação rápida. O primeiro deles é o fato de o vírus ser transmissível antes de os primeiros sintomas, como tosse e febre, aparecerem. Isso significa que o sujeito pode levar uma vida normal enquanto passa o patógeno para os outros, o que dificulta demais o controle e o acompanhamento.
Diferentemente de seus antecessores, o atual coronavírus consegue abalar tanto as células das vias aéreas superiores (nariz e garganta) quanto as dos pulmões. Pra piorar, ele não se limita ao sistema respiratório e já foi encontrado no coração, no intestino, no sangue, no sêmen, nos olhos, nos rins, no fígado, no baço e até no cérebro.
Fontes: Profile Of a Killer: The Complex Biology Powering the Coronavirus Pandemic, artigo publicado na revista Nature em 4 de maio de 2020; Paulo Eduardo Brandão, virologista da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo