Morreu em 11 de maio Richard Slayman, o primeiro paciente a receber um rim de porco ainda em vida, um procedimento conhecido como xenotransplante.
A técnica, ainda experimental, vem sendo testada como uma alternativa para aumentar a sobrevida de pacientes esperando por um rim humano, ou que não são elegíveis para um transplante tradicional.
Segundo o hospital, a morte não teve relação com o xenotransplante. Slayman tinha 62 anos e convivia com problemas renais crônicos.
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O que é um xenotransplante?
Um xenotransplante é um transplante de órgãos obtidos em outra espécie, ou seja, que não vêm de um corpo humano. O termo tem origem no grego “xenos”, palavra para “estranho” ou “estrangeiro”.
Pesquisas vêm sendo levadas a cabo ao redor do mundo para tornar mais viável essa técnica, que se tornou mais barata e precisa após o surgimento de novos métodos de edição genética. As modificações ajudam a tornar o órgão ainda mais similar ao humano, reduzindo as chances de rejeição e infecções.
Diferentes animais podem ser “doadores” em potencial para um xenotransplante. Mas, em função de questões morfológicas e de tamanho dos órgãos, que são mais similares aos nossos, os suínos vêm sendo priorizados – especialmente em pesquisas relacionadas ao coração e aos rins.
É importante lembrar que os animais utilizados nesses experimentos são criados em ambientes estéreis para reduzir ao mínimo qualquer chance de contaminação.
Quando um xenotransplante é feito?
Como a técnica ainda é experimental, os xenotransplantes por enquanto são raros e utilizados como último recurso. No caso de Richard Slayman, ele já havia passado pelo transplante de um rim humano em 2018, mas o órgão voltou a falhar após algum tempo.
No entanto, receber o rim ainda em vida foi excepcional até mesmo no universo dos xenotransplantes. Hoje, a maioria dos testes ainda é feita em pessoas com morte cerebral, com o devido consentimento dos familiares. Tanto rins quanto corações de porcos já foram testados dessa forma.
Slayman recebeu seu rim suíno em março deste ano, em procedimento comandado pelo médico brasileiro Leonardo Riella em um hospital de Boston (EUA).
Na ocasião, o quadro do paciente era considerado gravíssimo, e a ideia era proporcionar uma sobrevida sem depender da diálise – uma realidade de muitos pacientes é acabar sendo retirados da fila de transplantes porque a saúde acaba se deteriorando demais para suportar o procedimento.
As pesquisas buscam evitar que o órgão do animal cresça demais dentro do corpo humano, além de garantir que nenhum vírus ou outro tipo de contaminação chegue ao paciente. Outra preocupação dos cientistas é minimizar a rejeição ao órgão, um problema que também pode ocorrer com órgãos humanos.