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Remédio para cólica menstrual tem efeito no tratamento de esquistossomose

Em pesquisas com camundongos, o anti-inflamatório foi mais eficiente do que a única droga disponível para o combate à verminose

Por Maria Fernanda ZIegler (Agência Fapesp)
Atualizado em 16 ago 2019, 15h06 - Publicado em 16 ago 2019, 13h57

Em experimentos feitos na Universidade Guarulhos, com apoio da Fapesp, um medicamento tipicamente usado contra a cólica menstrual reduziu em mais de 80% a carga parasitária em camundongos infectados com o verme Schistosoma mansoni, que causa a esquistossomose (popularmente chamada de barriga d’água). O índice ultrapassa o chamado padrão-ouro estipulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para novos remédios.

Os resultados da pesquisa, publicada na revista EbioMedicine, do grupo The Lancet, sugerem que o ácido mefenâmico pode ser mais eficiente do que a única medicação existente para essa infecção, o praziquantel. Mas, para que o anti-inflamatório seja receitado contra a esquistossomose, será necessária a realização de testes em seres humanos com a verminose.

A descoberta deu-se a partir de um estudo de reposicionamento de fármacos conduzido no Núcleo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas da Universidade Guarulhos. Foram analisados 73 anti-inflamatórios não esteroidais comercializados no Brasil e em outros países. De todos os testados, cinco se destacaram, sendo os resultados do ácido mefenâmico os mais promissores.

“Os testes in vitro demonstraram que o ácido mefenâmico afetou a motilidade e a viabilidade do parasita. Ainda não se sabe exatamente o mecanismo de ação do ácido mefenâmico nesse tipo de infecção, mas outros tratamentos das verminoses também não possuem mecanismos elucidados”, disse Josué de Moraes, professor da Universidade Guarulhos e autor do artigo. “Por isso, estudos de reposicionamento de fármaco são tão importantes para doenças negligenciadas, como a esquistossomose”, completou.

Essa enfermidade atinge mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a OMS. Há 40 anos, um único fármaco tem sido usado no seu tratamento.

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“Após tanto tempo sem nenhum tratamento alternativo e sendo o praziquantel receitado para humanos e para uso veterinário, é esperado que o parasita tenha adquirido resistência à droga”, afirmou Moraes.

O ácido mefenâmico se mostrou mais efetivo do que o praziquantel por agir também na fase larval do agente infeccioso.

“Atualmente, é preciso esperar que os vermes jovens no paciente se tornem adultos para que o fármaco tenha efeito. Isso significa que, se o tratamento não for repetido, o ciclo de vida do parasita não é interrompido e o indivíduo continua com a doença”, explicou o especialista. “Pessoas infectadas, em um contexto de saneamento inadequado, tendem a contribuir para a disseminação dos vermes no ambiente. É claro que o ideal seria um saneamento adequado, mas o ácido mefenâmico pode ser importante no aspecto preventivo também”, arrematou.

Estudos de reposicionamento de fármaco

Moraes destaca que essas pesquisas têm se tornado mais comuns, sobretudo para as chamadas doenças negligenciadas, aquelas que, embora afetem parcela significativa da população, carecem de estudos, vacinas e tratamentos mais avançados.

Esse é o caso da esquistossomose, cuja transmissão está ligada a locais sem saneamento básico adequado e pelo contato de água com caramujos infectados pelos vermes. Uma vez no corpo de alguém, o Schistosoma se aloja nas veias do mesentério e no fígado do paciente.

A doença, ainda sem vacina – existem estudos já avançados sendo realizados na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) –, é assintomática nas primeiras duas semanas, mas pode evoluir e causar problemas crônicos de saúde e morte.

“A descoberta e o desenvolvimento de um novo fármaco custam em média 1,5 bilhão de dólares, dinheiro que não existe para doenças negligenciadas. Não há interesse comercial. Por isso estamos buscando ação contra o parasita em drogas já existentes e comercializadas”, revelou Moraes. “Isso possibilita cortar uma série de etapas, uma vez que não é preciso fazer testes clínicos sobre toxicidade, interação medicamentosa e outros. Ainda é preciso fazer testes em humanos, mas não todos. O processo fica muito mais barato”, ponderou.

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Este conteúdo foi publicado originalmente pela Agência Fapesp.

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