Por Dr. Celso Granato*
1) O zika vírus
É impossível rever o ano e imaginar que as doenças transmitidas por mosquitos não foram o grande destaque. Embora já em 2015 o tema ocupasse bastante espaço na mídia, foi durante 2016 que um grande volume de descobertas ocorreu, particularmente em relação à infecção pelo zika.
Mais de mil trabalhos foram publicados sobre esse o assunto, ante cerca de 120 nos 65 anos anteriores. Os maiores avanços foram no sentido de esclarecer os mecanismos pelos quais o vírus causa a microcefalia, a frequência com que isso ocorre e a relevância da época da gravidez em que ocorreu a infecção materna.
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Outro aspecto importante estudado foi a questão da longevidade da excreção do vírus no sêmen, mostrando que todo o cuidado deve ser tomado para que não ocorra a transmissão para uma gestante por seis meses após a infecção do parceiro.
2) A infecção pelo chikungunya
Quando todos estávamos mais ocupados lidando com o zika e lembrávamos do chikungunya apenas como um problema menor causado por um vírus de nome exótico, eis que esse último resolve nos mostrar o contrário. Mais de 200 mil pessoas foram infectadas no Brasil, número idêntico ao observado no restante da América do Sul.
Isso nos revelou que essa doença é mais do que um exotismo. As mortes associadas a ela chegaram à casa das centenas e o grau de acometimento crônico dos pacientes, assustador, beirou índices de 40 e 50 %. Não há tratamento efetivo contra essa fase da doença e os progressos na área de vacinas ainda são pífios. Muitos estudos, poucos avanços práticos.
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3) A retomada da sífilis
Outro tema muito importante e que, talvez, ainda não tenha atingido de forma impactante a população em geral, embora já preocupe demais a classe médica. Falo dos novos casos de uma doença sexualmente transmitida, a sífilis, que é causada por uma bactéria.
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Por razões ainda não totalmente compreendidas, essa moléstia que se encontrava relativamente esquecida nos anos 1990 e início do século 21, voltou a acometer com força todas as faixas sexualmente ativas da sociedade, bem como todos os níveis socioeconômicos. O percentual de mulheres em que se tem identificado exames pré-natais positivos para sífilis é assustador e isso fica ainda mais alarmante pelo fato de a doença ser tratável de forma relativamente simples e barata.
Basta que se faça uma avaliação periodicamente em todas as oportunidades em que isso for possível, tais como no pré-natal, no checkup ou mesmo em uma consulta por outra causa. Essa é uma medida crucial para evitar, entre outras complicações, a sífilis congênita nos bebês.
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* Dr. Celso Granato é infectologista, professor da Universidade Federal de São Paulo e membro do corpo clínico do Fleury Medicina e Saúde