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O que pensam os brasileiros sobre a vacinação de crianças e adolescentes?

Estudo revela que mães e pais consideram a imunização como parte integral dos cuidados da saúde dos filhos e grande parte apoia imunização nas escolas

Por Lucas Rocha
24 out 2023, 11h00

Nos últimos anos, a queda acentuada nas coberturas vacinais no Brasil acendeu um alerta para a emergência de doenças que podem ser facilmente prevenidas, como o sarampo e a poliomielite.

Parte dessa queda foi atribuída à hesitação vacinal, atraso ou recusa em tomar os imunizantes.

Trata-se de um fenômeno complexo. Entre suas diversas causas, estão a forte disseminação de informações falsas, empecilhos para acessar os serviços de saúde, a ampliação de movimentos antivacina, além do negacionismo alimentado pela ideia equivocada de que não haveria risco em deixar de se vacinar.

No entanto, podemos estar diante de um ponto de virada nesse cenário. É o que aponta uma pesquisa inédita da Fundação José Luiz Egydio Setúbal e da Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas e Sociedade.

Segundo o estudo, mães e pais consideram a imunização parte dos cuidados da saúde das crianças e dos adolescentes. Além disso, uma grande parcela dos respondentes apoia a realização de campanhas nas escolas.

+ Leia também: Mais de 400 mil crianças brasileiras não tomaram vacinas básicas em 2022

Alta adesão

Ao todo, foram entrevistadas 2.129 pessoas, com 18 anos ou mais, de todas as regiões do país, entre 29 de julho e 3 de agosto.

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Os participantes foram perguntados se haviam vacinado seus filhos com todas as doses sugeridas pela equipe de saúde, ou seja, que integram o Programa Nacional de Imunizações (PNI): 83% responderam que sim. Entre os que tem filhos de 14 anos ou menos, 98% indicaram adesão a todos os imunizantes indicados por profissionais de saúde.

“Estamos notando um padrão de altíssima confiança nas vacinas, o que é muito positivo para o Brasil. Outro segundo grande resultado da pesquisa é o desejo pela disponibilidade de vacinas nas escolas. Isso é uma mensagem importante para a formulação de políticas públicas”, afirma o pesquisador Marcos Paulo de Lucca Silveira, membro do Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

+ Leia tambémA batalha pela vacinação

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Vacinação contra a poliomielite, que previne a paralisia infantil, tem cobertura vacinal de 72,5% (Foto: Marcos Lopes/MS/Divulgação)

Percepção de risco

Os pesquisadores também analisaram os critérios utilizados pela população para aderir à imunização infantojuvenil. A análise sugere uma forte influência da gravidade de uma doença nesse momento de decisão.

Para chegar a essa conclusão, o levantamento abordou a vacinação contra a meningite, doença associada à inflamação das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, chamadas de meninges.

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Nas formas mais graves, o quadro pode levar a complicações como perda de visão e audição, paralisia, além de danos a diferentes órgãos e risco de morte. A vacina que evita tudo isso é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Pais e mães foram perguntados se concordavam (plenamente ou em parte), ou se discordavam (totalmente ou em parte) da seguinte afirmação: “Tomar vacina contra a meningite é importante para prevenir sintomas da doença”.

Considerando os valores obtidos nacionalmente, 98,4% dos brasileiros concordam com a afirmação.

De acordo com os autores, os resultados indicam que a população apresenta pouca complacência neste caso porque entende o perigo trazido pela infecção.

“Essa doença é reconhecida como grave o suficiente para que os pais permitam que os filhos sejam vacinados e protegidos”, afirma a pesquisadora Lorena Barberia, professora da Universidade de São Paulo (USP), que participou do trabalho.

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O papel da escola

A pesquisa aponta ainda que, em geral, as famílias brasileiras apóiam as campanhas de vacinação nas escolas.

Os pais foram questionados sobre três imunizantes distintos: Covid-19, gripe e HPV. Para todos, o apoio à aplicação em escolares se mostrou superior a 80%.

A dose contra a gripe foi a mais bem aceita, com 88,8% de respostas “sim” em todo Brasil. A de HPV vem logo depois, com 88% dos entrevistados respondendo positivamente.

Ainda nesse contexto, os menores níveis de concordância foram para a prevenção da Covid-19. Ainda assim, aproximadamente 83% dos responsáveis disseram que autorizariam que os filhos fossem vacinados nas instituições de ensino.

Para os pesquisadores, o  resultado reforça a presença de altos níveis de confiança nas fórmulas. Além disso, os achados ressaltam também a importância da conveniência para o sucesso das campanhas.

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Tarefa das mães

No Brasil, o cuidado com a vacinação dos filhos ainda é uma tarefa comumente atribuída às mães. Um outro estudo, conduzido pelo Instituto Locomotiva, aponta as dificuldades delas para manter a carteirinha dos filhos em dia.

O levantamento foi feito com a participação de 2 mil mães de crianças e adolescentes com idade até 15 anos, de todas as regiões do país.

Ao menos 6 em cada 10 entrevistadas relataram que já atrasaram a vacinação da prole ou deixaram de imunizá-la por razões como falta de tempo, distância do local da aplicação, perda da carteirinha ou dificuldades para lembrar das datas de cada dose.

As mães consultadas citam como o principal entrave a desinformação, que aparece em 45% das respostas.

As notícias falsas figuram à frente de fatores relacionados ao acesso, como dificuldades para chegar aos locais de vacinação (39%) ou críticas aos horários de funcionamento das unidades de saúde (39%).

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+  Leia também: Vacinação infantil contra a Covid-19: a epidemia da desinformação

Coberturas ainda deixam a desejar

No início do ano, o Ministério da Saúde deu início a uma campanha nacional de incentivo à vacinação de crianças e adolescentes para recuperar os indicadores, que estão abaixo da meta.

O governo federal também lança nesta terça-feira, 24, o Programa Saúde com Ciência, que visa combater a desinformação sobre imunizantes.

Atualmente, a cobertura vacinal para o sarampo é de 50,6%. Para a dose contra a poliomielite, que previne a paralisia infantil, o índice chega a 72,5%. O imunizante contra o vírus influenza, que evita complicações pela gripe, foi aplicado em 54,3% das crianças brasileiras neste ano.

O risco de surtos de doenças preveníveis por vacina nas Américas atingiu o nível mais alto em 30 anos devido às baixas na adesão. O alerta foi feito pelo diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, em abril.

A hesitação vacinal

A hesitação vacinal é um conceito que permite articular as razões para as pessoas não se vacinarem e deixarem de vacinar seus filhos. O problema de saúde pública varia ao longo do tempo e de acordo com diferentes contextos socioculturais.

Para a análise, os pesquisadores adotaram uma abordagem conceitual partindo de três aspectos: confiança, complacência e conveniência.

O primeiro deles, confiança, é definido por três fatores centrais:

  • confiança na efetividade e na segurança das vacinas;
  • no sistema que disponibiliza os imunizantes;
  • nas motivações dos responsáveis pelas políticas de vacinação

Já a  complacência está presente quando a percepção de que os riscos de doenças preveníveis pelas vacinas é baixo e, portanto, não há urgência ou necessidade da imunização.

Por fim, a conveniência inclui pontos como a disponibilidade de imunizantes, acessibilidade geográfica e financeira, e a atratividade dos serviços de vacinação.

“Vários fatores estão envolvidos na chegada de uma vacina até uma criança. Uma parte tem a ver com as preferências dos pais, a outra questão é a informação que eles recebem da comunidade médica nos postos de saúde. Há ainda a facilidade para se conseguir o acesso à imunização”, diz Lorena.

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