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“O diagnóstico de diabete me abriu portas inimagináveis”

Jornalista e ativista conta como o diagnóstico de diabete mudou sua vida - e não foi para pior

Por Vanessa Pirolo*
Atualizado em 13 jun 2017, 15h10 - Publicado em 14 nov 2016, 13h30
 (Pedro Hamdan (ilustração)/)
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Por Vanessa Pirolo*

Estamos no mês azul, originalmente dedicado à conscientização sobre o diabete. Segundo a Organização Mundial da Saúde, só no Brasil temos cerca de 16 milhões de pessoas com essa condição, sendo que 106 600 morrem por ano devido à doença. Todos os dados mais recentes indicam que as complicações, as mortes e as internações têm aumentado de um ano para outro.

Com base nesses números, podemos chegar à conclusão de que as pessoas com o diagnóstico do diabete não se cuidam. Mas quais seriam os motivos? Temos identificado alguns deles: falta de acesso aos medicamentos e de profissionais capacitados para orientar adequadamente o tratamento, ausência de diagnóstico precoce, dificuldade de acesso à educação em diabete, como também falta de motivação para aderir ao esquema terapêutico.

Em meio a esse cenário, quero que saiba que tenho diabete tipo 1 há 17 anos. Quando descobri a condição em uma campanha dentro da universidade, fiquei atônita e me lembro de negar o diagnóstico durante alguns meses. Como eu, uma estudante de jornalismo, com um futuro de muitos sonhos e expectativas, podia ter uma doença, que poderia me levar à morte de uma hora para outra? Por que eu?

Essas perguntas persistiram na minha cabeça por alguns meses. Comia doce escondido, não injetava a insulina as oito vezes diárias que eram necessárias… Minha mãe aplicava muitas das doses, pois eu tinha medo de agulha e vontade de chorar na maioria das vezes. Cheguei a culpar meus pais pela hereditariedade. Enfim, o sonho de me tornar uma mulher livre sem amarras parecia ceifado — esse foi o pensamento no momento do diagnóstico.

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Passado esse impacto, comecei a buscar informação e percebi que, se eu não me cuidasse, o diabete não ia me matar de uma hora para outra. Na verdade, ia me matar aos poucos e com muito sofrimento. Boa parte das pessoas que não têm bom controle do problema começa a apresentar perdas visuais, renais, motoras, cardíacas…. até chegar à morte.

Não! Não podia me deixar levar. Não agora! Lembrei-me das pessoas com as quais tive contato na ADJ Diabetes Brasil (associação de apoio ao diabético), gente que possuía o diagnóstico há muitos anos e conseguia ter uma vida normal, mas tomando alguns cuidados. Foi a partir daí que me tornei disciplinada.

Hoje minha rotina consiste em levantar cedo três vezes por semana para ir à academia. Faço musculação e caminhada. Antes de calçar o tênis, porém, já fiz a automonitorização da glicemia, injetei a dose de insulina e me alimentei. Volto, tomo banho e lá estou eu no computador, para falar com os jornalistas sobre algum ângulo novo sobre o diabete ou a respeito de algum tema ligado à saúde em geral — ou, ainda, escrever em meu blog. Daí checo a glicemia de novo, em seguida faço a contagem de carboidrato e injeto insulina. À tarde, faço o mesmo procedimento e à noite de novo. E, antes de dormir, já estou fazendo mais um teste para que eu possa ter um sono tranquilo sem episódios de hiperglicemia (quando a taxa de açúcar do sangue sobe) ou hipoglicemia (quando essa taxa baixa demais).

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Nunca fui internada no hospital devido ao diabete e não tenho complicação alguma, o que me dá certo orgulho, reconheço, e contribui para que eu não entre nas estatísticas do governo já mencionadas.

Além disso, dentro da ADJ Diabetes Brasil, tenho um projeto que consiste em coordenar 30 associações de diabete no país, para que possamos lutar por políticas públicas e melhorar o tratamento do cidadão diabético. Todos nós queremos aprimorar o acesso e a adesão ao tratamento no país, não importa que o cenário seja de crise.

Mesmo com o diagnóstico do diabete e com todos os percalços que senti ao longo do caminho, hoje a Vanessa Pirolo não consegue se desvincular da “Paixão Diabete”. Cada telefonema para o governo, procurando um caminho para sensibilizar a população, cada entrevista concedida sobre a condição, ou até mesmo um conselho dado a um taxista, que deixou o tratamento de lado, é uma conquista inexplicável — uma sensação de dever cumprido como cidadã.

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Diabete é algo que não posso retirar do meu corpo. Faz parte da minha vida desde que eu acordo até a hora de dormir. Muitas vezes paro, reflito sobre o que está acontecendo e procuro encontrar mais caminhos para que eu possa ajudar outras pessoas. Tento achar alternativas junto à ADJ para que a associação descubra formas de sustentabilidade a fim de continuar educando os indivíduos com diabete a conviverem com a condição de forma mais plena e livre de preconceitos e que ainda possam ser divulgadores da causa.

Não sei se é muita pretensão de minha parte, mas o que mais quero é fazer diferença para um mundo melhor, com mais informação, justiça e com a possibilidade de que todos – independentemente de credo, cor e classe social – tenham acesso aos melhores tratamentos para o diabete.

* Vanessa Pirolo é jornalista, assessora de imprensa, blogueira e militante da causa do diabete

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